Foto de Capa: Wender Starlles
A 50° edição do Café Acadêmico chegou, no último dia 31, trazendo, além de muita comida, bebida e música boa por Ana Larousse, não uma, mas diversas histórias — sempre acompanhadas de um bom café. O evento, organizado pela Agência de Comunicações ECA Jr., contou este ano com a presença do ator, escritor e cineasta Lázaro Ramos, em uma conversa descontraída que envolveu desde memórias de sua carreira à discussão de temas como empoderamento e diversidade.
O ator iniciou o bate-papo destacando a importância e a necessidade de se rever narrativas, no sentido de valorizar novas dicções. Chamou a atenção para que, cada vez mais, fossem construídas narrativas de encontros circulares, um tipo de compartilhamento de histórias muito comum na cultura africana. É essa circularidade que guia conversas que possibilitam que todos experimentem e conheçam o lugar do outro.
Ao contar brevemente sobre sua carreira e como se deram os primeiros contatos com o universo das artes cênicas, enalteceu a importância da arte em sua formação. Apesar da dificuldade em se comunicar e da timidez, começou a atuar aos 10 de anos idade como ator mirim. Ele contou ao público que a arte foi a melhor forma que encontrou para se expressar e se comunicar.
O convidado falou em diversos momentos sobre a peça teatral Ó Paí, ó, idealizada pelo Bando de Teatro Olodum, grupo teatral do qual fez parte e que é composto, em sua maioria, por atores negros, sendo o maior da América Latina. Ele deu grande destaque ao processo de criação da peça que foi apresentada pela primeira vez na década de 1990, dando voz à pluralidade do Pelourinho. Grande parte do sucesso do espetáculo veio em decorrência da maneira como ele foi pensado: inspirado por pessoas comuns que poderiam e deveriam ter suas trajetórias publicadas e encenadas. A captação desses relatos era feita nas ruas com as mais diversas pessoas e, por esse motivo, a peça ficou pronta em oito dias. Durante esse curto espaço de tempo, eles já conseguiram coletar conteúdo suficiente e de qualidade para se realizar um trabalho de sucesso.

Além da oportunidade de fazer parte de Ó Paí, ó, o Bando Teatro Olodum ofereceu a Lázaro uma liberdade que ele jamais havia experimentado. “Seu lugar é onde você sonhar estar”, afirmou ao se referir ao que o grupo lhe ensinou.
O cineasta comentou também sobre alguns de seus projetos mais recentes. Espelho é um programa em que entrevista personalidades artísticas e discute sobre temas cotidianos sob novos olhares. Este ano, na 12ª temporada, já foram abordados assuntos desde o empoderamento feminino à política. Ele contou que este é um programa que busca o engajamento geral, fazendo com que todos se enxerguem não apenas como parte do problema, mas também da solução.
Ao lado de Taís Araújo na peça O Topo da Montanha, realizou encenações muito importantes que puderam atingir um público variado e possibilitaram que famílias e pessoas de baixa renda tivessem acesso a um espaço mais elitizado, como é o teatro da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde foram feitas grande parte das apresentações.
Seu mais novo projeto é o livro Na minha pele. Ele revelou que é um livro em formato de hipertexto, com uma narração não linear, mas que apresenta uma linguagem simples e acessível, em que compartilha experiências pessoais e convida o leitor a enxergar pelas diferenças.
Durante a conversa, Lázaro deu muita ênfase ao filme Madame Satã, no qual foi protagonista. Contou que teve apenas três semanas de preparação para o papel e afirmou ser um filme sobre amor, aceitação e expressão artística como forma de sobrevivência. Ele não deixa de mostrar o prazer em viver Madame Satã e as contribuições dessa atuação tanto para sua carreira, quanto para sua vida pessoal.
O que guiou a conversa por todo o Café foi a liberdade e a naturalidade com que o bate-papo se estendeu. O artista afirmou que é importante potencializar a indústria cultural ao se divulgar e valorizar novas histórias e perfis e exercitar o olhar. Além disso, reiterou que o empoderamento precisa ir além do âmbito estético; é preciso compartilhar e compreender diferentes pensares.
Por Ana Carolina Cipriano
ana_cipriano@usp.br