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Esportes, Crimes Reais e Opinião Pública

Julgamentos e Opinião Pública em casos do Esporte Por vezes, não se imagina que a mão que lança uma bola também puxa um gatilho, que os cálculos mentais usados no lance podem ganhar uma roupagem de ódio ou que até mesmo um herói das quadras e campos seja somente mais um réu no tribunal.  Desde …

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Julgamentos e Opinião Pública em casos do Esporte

Por vezes, não se imagina que a mão que lança uma bola também puxa um gatilho, que os cálculos mentais usados no lance podem ganhar uma roupagem de ódio ou que até mesmo um herói das quadras e campos seja somente mais um réu no tribunal

Desde O.J. Simpson, jogador de futebol americano que teve um dos maiores julgamentos de todos os tempos, por conta de uma acusação de duplo homicídio, ficou evidente que às vezes o crime tem a capacidade de se tornar maior que o Esporte. E como réus, os ex-atletas saem da história do esporte para entrar na história dos crimes. 

O gênero True Crimetraduzido como Crimes Reais,  destrincha casos verdadeiros que marcaram de alguma forma a história criminalestá em crescente popularidade. Mas quando o Esporte está envolvido, toda a dinâmica que cerca o caso muda. O acusado é um atleta que enche estádios com a capacidade de assentos que às vezes supera a população das pequenas cidades em que famosos Assassinos em Série atacam. Estes que inclusive não eram conhecidos antes dos crimes, dão espaço a verdadeiros ídolos nacionais. 

Um fator chave para diversos julgamentos e casos é a Opinião Pública, justamente por transmitir o que certa parcela da população sente em relação àquele acontecimento. Nesses cenários, como ocorre o encontro das plateias e torcidas no tribunal? Como se dá o tratamento da vítima? E um dos pontos mais importantes: como, em vez de ganhar prêmios esportivos pela performance, esses atletas chegaram a uma cela? 

Revisitando dois casos famosos, o do ex-goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes, e o do falecido tight end do Patriots, Aaron Hernandez, o Arquibancada te convida para explorar essas e outras questões seguindo a perspectiva do gênero dos Crimes Reais. 


Bruno Fernandes e a morte de Eliza Samudio 

Ex-mulher e filho do goleiro Bruno
Eliza e Bruno Samudio, vítimas do goleiro Bruno Fernandes. [Imagem: Reprodução/Record TV]
Algumas espécies apresentam dentes afiados, possuem focinho, geralmente bom olfato e audição, rabo, patas e como os humanos, bebem leite materno. Mas uma das diferenças é que cães, ou se fazem não foi noticiado, são péssimos criadores de histórias. No Caso Eliza Samudio, com tamanha projeção e tópicos a debater, foi no estômago desses animais que a jovem modelo acabou presa. Não literalmente, já que nunca foi comprovado que os cães realmente devoraram a vítima, mas sim simbolicamente. 

Logo, essa visão se instalou no imaginário popular e tomou muito espaço de discussão, ofuscando outros pontos interessantes. Eliza teve sua vida desmoralizada por enfoques arbitrários, junto a discussões precipitadas, como a dos cachorros, que desrespeitaram sua morte. No entanto, o caso é muito maior que dentes caninos, e envolve Bruno Fernandes, ex-goleiro do Flamengo. Para saber como diversos tópicos pertinentes podem ser esquecidos, segue uma contextualização desmistificada do caso.

Bruno Fernandes das Dores de Souza nasceu em uma periferia de Belo Horizonte, mas teve que se mudar para a casa dos avós, em Ribeirão Neves, após o abandono dos pais. Cresceu cercado por um ambiente conturbado, com uma estrutura socioeconômica frágil. Pobreza e violência faziam parte de sua realidade, mas como muitas crianças da periferia onde morava e de tantas outras, no campo de futebol era diferente. Por meio dele encontrou um de seus grandes amigos, Luiz Henrique Ferreira Romão, apelidado como Macarrão. 

No futuro, essa amizade se chocaria em um ambiente não tão afetuoso e nostálgico como um campinho de várzea. O juiz do pequeno futebol foi substituído pela juíza Marixa Rodrigues, e o jogo foi de narrativas no tribunal.

Mas retornando ao começo da história de Bruno, após diversos anos de dificuldade financeira e fragilidade social, o esporte lhe apresentou uma saída. Por meio da categoria de base do clube Atlético Mineiro, o jovem goleiro foi ganhando cada vez mais destaque no meio futebolístico. Com uma performance promissora, passou brevemente pelo Corinthians até chegar ao Flamengo. 

Bruno em campo pelo time do Flamengo
O ex-goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes, impulsionou sua carreira vestindo a camisa rubro-negra. [Imagem: Edison Vara/Placar]
Começou como goleiro substituto, mas aproveitou a lesão do titular para ganhar a atenção da torcida rubro-negra. Com o tempo, vieram os títulos, prêmios, pênaltis defendidos e um dos maiores salários da época para um jogador. Até que em uma festa, Bruno avistou uma jovem morena.  

Eliza Silva Samudio nasceu em Foz do Iguaçu, em 1985, um ano após o goleiro. Cresceu longe da mãe, que havia se separado do pai de Eliza um ano após o nascimento. Um homem abusivo e violento, que segundo a mãe de Eliza, chegou a assediá-la e ofereceu sexualmente a filha para amigos. Por mais que gostasse da filha, Dona Sônia Fátima recebia diversas ameaças do ex-marido.

Assim como Bruno, uma bola de futebol às vezes era a salvação de seu mundo conturbado. Inclusive, jogou como goleira por alguns anos em um clube da cidade. Cheia de sonhos e expectativas, quando completou a maioridade foi seguir um de seus maiores objetivos: se tornar uma modelo. 

Ela se mudou para São Paulo e começou a se aproximar das grandes figuras magnéticas de sua imaginação: jogadores de futebol. Passou a frequentar festas e outros ambientes em que se encontravam os atletas, para nutrir e quem sabe realizar sua visão romantizada de ter um relacionamento estável com um deles. Em uma festa no Rio de Janeiro, Eliza se interessou por um rapaz que, segundo ela, apresentava um corpo bonito. Era o goleiro titular e capitão do Flamengo na época, Bruno Fernandes. Por uma noite, eles se envolveram sexualmente. Ao final do breve encontro, ela estava grávida.  

Márcia Valéria Carbone, doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista, participou de projetos de pesquisa que auxiliaram na produção de um artigo focado no Caso Goleiro Bruno, em que fez uma análise Jurídico-Discursiva dele. Sua colaboração na matéria começa por destrinchar um ponto sensível no caso, que necessita ser revisitado pelo lado do descrédito à vítima.

Bruno, quando soube da gravidez, ficou descontente e colecionou tentativas de desvincular sua imagem da dela. Na mais grave das tentativas, sequestrou Eliza, a agrediu e ameaçou-a de morte por conta da gravidez, fazendo menção de ocultar seu cadáver para encobrir os rastros. O lado violento e ameaçador de Bruno vinha à tona. Macarrão, inclusive, estava envolvido nesse ato. Era uma prova (obviamente ignorada) do que estava por vir, que fez com que a modelo tornasse público o acontecimento para se proteger e a criança. O B.O. foi registrado, mas Eliza… 

“Quem é Eliza? Para falar de Bruno, o grande goleiro do Flamengo? Qualé, ele trouxe um título! O que ela faz, pornô? É uma interesseira, só pode ser!”

Eliza Samudio dá depoimento após primeiro sequestro feito pelo Goleiro Bruno
Eliza Samudio, ao expor o sequestro ao Extra em 2009, em frente à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, em Jacarepaguá (RJ). [Imagem: Reprodução / Extra]
Quando não pôde mais negar o envolvimento com a modelo, ele começou um processo de desmoralização da vítima. Márcia conta que “ficou muito claro como tentaram desqualificar a voz da Eliza”, e que o aspecto emotivo da torcida com o jogador nesse momento vem à tona. Nesse meio de pré-julgamento, citado pela professora, até a assessoria e alguns dirigentes do Flamengo foram em defesa do capitão, continuando a narrativa de que era uma modelo tentando chamar a atenção. Nesse cenário, o Esporte faz toda a diferença de mascarar agentes perigosos por meio da fama e da amplitude de seu discurso contra o da vítima. Eliza tentou seguir sua vida, apesar do ocorrido que quase a forçou a abortar a criança sob ameaça. Mas ela queria ter o filho e com a ajuda de familiares e amigos, o teve. Queria seguir um novo caminho após o nascimento do filho, procurar uma faculdade. Relatos próximos afirmam que ela adorava a ideia de ser mãe, e por incrível que pareça, não guardava rancor de Bruno. Buscava ajuda financeira do pai para criar o filho, que poderia vir judicialmente pelo reconhecimento do goleiro. Mas novamente, o jogador tentaria tirar os seus direitos básicos. 

A jovem modelo, em 2010, foi ao Rio de Janeiro a convite de Bruno. E depois de ficar um mês hospedada em um hotel, desapareceu. Em mais uma tentativa de apagar seu contato com a vítima, Bruno se esquivou quando ela sumiu. A partir deste momento, começa o crime que levaria ao desaparecimento e morte de Eliza. Ela foi sequestrada novamente e levada para o sítio do jogador em Esmeraldas, Minas Gerais. Denúncias anônimas sobre o paradeiro da criança e de Eliza começaram a chegar, de que possivelmente ela e o filho estariam sendo mantidos em cárcere no sítio do jogador. 

A partir de uma trilha de testemunhas e depoimentos, a polícia foi desenrolando o mistério, que indicava uma execução. Os personagens do caso já estavam mais famosos que os de novela, e cada um dava sua versão do acontecido, e destrinchar todas tornaria esta matéria ainda mais longa. Mas os relatos concordavam em certos pontos. Eliza foi espancada. Eliza foi presa e mantida em cárcere. Eliza foi estrangulada e assassinada. Seu corpo foi ocultado e até hoje não foram achados seus restos mortais. 

Bruno no tribunal
Bruno Fernandes, após diversas esquivas, é obrigado a falar perante o tribunal. [Imagem: Wikimedia Commons]
Corridas nas redações dos jornais. Alvoroço na TV. Bruno Fernandes e seus comparsas presos e condenados. Comoção nacional. Em um caso com tanta projeção e emoção, por se tratar de um herói dos campos mas vilão social, as diversas narrativas foram ajudando na criação de falsas ou meias verdades. Nesse ponto, enfoques errados fizeram questão de afastar tópicos interessantes para dar nome aos cães ou até mesmo questionar o porquê de Eliza já ter feito pornô. 

Foi deixando de lado quem era Eliza para se destacar mais as versões de como morrera. Repetidas vezes os familiares e amigos tiveram que ouvir cachorros latindo na TV após o anúncio do nome da vítima. Em partes, como lembra Márcia, o Esporte e sua estrutura de espetáculo foram responsáveis por criar esse tipo de ambiente no desenrolar do caso. Todos querem a verdade, mas a interrupção de uma vida é algo sensível demais para fazer notícias sem apuração e cuidado, o que acabam desrespeitando a vítima. 

Este ano, Mariana Ferrer foi desmoralizada em um momento de sofrimento. Há 10 anos, Eliza sofria o mesmo tipo de agressão. Um pré-julgamento usado para defender o indefensável e retirar o direito de justiça e integridade da vítima, uma infração ao princípio da dignidade humana, como lembra Márcia. Há também que revisitar esse caso sob a óptica de que o Esporte, independente do grande atleta, é passível de camuflar indivíduos perigosos. 

Em 2013, foi oficialmente liberado o atestado de óbito de Eliza Samudio, frente a todas as observações. Legalmente morta, mas simbolicamente viva pela luta contra o silenciamento e a desmoralização das vítimas. A data da condenação de Bruno, que confessou o mandato do crime e foi sentenciado a 22 anos de prisão, ocorreu  em 08 de março, Dia Internacional da Mulher. O filho da modelo com o ex-jogador vive atualmente com a avó e não deseja falar com o pai, que está em regime semiaberto. Não vale citar o destino dos cachorros, que já tomaram mais linhas e enfoques do que o necessário. 


Aaron Hernandez, da NFL ao assassinato

Aaron Hernandez, ex-tight end do New England Patriots. [Imagem: Wiki Commons]
Em 19 de abril de 2017, um jogador que já havia saído das jardas para entrar em uma cela, também deixou a vida. Aaron Hernandez, um dos jogadores mais promissores da sua geração, se suicidou em sua cela. Logo uma pergunta pairou sobre a cabeça dos admiradores do futebol americano: Por quê? 

Geralmente se espera uma resposta objetiva e bem esclarecida sobre o assunto, ainda mais quando um caso envolve um ídolo nacional. Mas uma contribuição proveitosa do True Crime é ter certeza de que não há resposta fácil quando se trata de pessoas cometendo crimes. Diversos fatores podem influenciar um crime e a revisita ao Caso Aaron Hernandez é justamente uma tentativa de provar isso e, assim como no Caso Goleiro Bruno, trazer outros tópicos para a discussão. 

Aaron Josef Hernandez nasceu em 6 de novembro de 1989, na cidade de Bristol, no estado estadunidense de Connecticut. Passou por uma infância difícil, com diversos abusos físicos por parte do pai, Dennis Hernandez. Este que pressionava os filhos a darem o melhor de si por meio da violência e não fazia questão de esconder sua relação agressiva com a mãe dos meninos. No entanto, apesar dos maus tratos, o ex-jogador mantinha uma relação de dependência emocional com o pai. Outro fator grave nesta primeira fase da vida de Aaron foram os abusos sexuais que sofreu de um menino mais velho, segundo seu irmão. 

O futebol americano era uma paixão na vida de Hernandez, mas sem deixar de lembrar que a pressão do pai também entrava neste campo. Dennis, como um premiado esportista da Universidade de Connecticut, talvez tivesse o desejo de refletir seu legado no filho. E realmente, o jovem Aaron apresentava uma grande habilidade como atleta. Mas era na posição de tight end no futebol americano, uma das várias funções de destaque na modalidade, que ele mais brilhava. Chegou a receber um prêmio de melhor jogador de Connecticut, além de aparecer em destaque quando uma universidade estava à procura de um tight end

 Mas durante a adolescência, Aaron começou uma relação abusiva com drogas, principalmente maconha e álcool. Durante o percurso no esporte universitário, chegou a ser barrado em testes antidoping. Esse fator iria acompanhá-lo no restante da carreira, assim como um outro ainda menos visível. Aaron teve um caso com um garoto quando jovem e passou a se reprimir sexualmente por meio de comentários autodepreciativos. Seu pai era homofóbico, assim como o espaço do futebol americano e da maioria dos esportes, em  geral. 

Por mais que o pai fosse abusivo, Aaron ficou muito abalado com sua perda. [Imagem: Arquivos pessoais]
Ao final do Ensino Médio, o pai de Aaron falece, o que, segundo a mãe dele, gera uma revolta e agressividade no filho. Apesar de ser um excelente jogador e quebrar diversos recordes, os fatores externos, como a questão das drogas e seu comportamento autodestrutivo e violento, deixavam os times preocupados no momento da sondagem. Na Universidade, sacrifica seu último ano para se dedicar a um sistema de seleção de jogadores o Draft da National Football League (NFL). Apesar da habilidade para estar entre os melhores de sua posição, Aaron se rebaixava pelos problemas fora de campo. Mesmo se desvalorizando, ele é contratado pelo New England Patriots em 2010, com cláusula de comportamento. E foi no time que chegou à grande liga de futebol americano e alcançou reconhecimento a nível nacional. 

Contratou alguns amigos como assessores, estes que já possuíam antecedentes criminais, para ajudá-lo a comprar e esconder ilegalmente drogas e armas. Seu comportamento psicológico conturbado não parou no estrelato, já que o tight end continuava a se meter em brigas e a ultrapassar limites de velocidade. Acontecimentos esses, claro, acobertados em alguma instância. Nada muito diferente das passadas de pano que Bruno também recebia em suas polêmicas e brigas. 

Houveram também os casos mais graves. A esposa de Aaron chegou a ligar para a polícia, mais de uma vez, com medo de que o jogador pudesse agredí-la após uma discussão. Mesmo com duas ligações em duas semanas, a polícia simplesmente não o julgou apto a cometer nenhuma violência. Ele também apresentava paranóias, motivo de confusões e até mesmo uma tentativa de assassinato a um amigo. Mas certo dia, em um parque industrial, Aaron trocou o som da torcida pelos disparos de uma arma.  

Odin Leonardo John Lloyd nasceu nas Ilhas Virgens Americanas, em 1985. Sua família se mudou para a cidade de Dorchester, no Estado de Massachusetts. Ao crescer em uma região perigosa, utilizava o futebol americano como fuga de uma realidade dura, assim como Hernandez.  Seu técnico elogiou sua performance, mas disse que ele se distraía muito com as garotas do colégio. Apesar das dificuldades financeiras, segundo familiares e amigos Lloyd enfrentava sua realidade com bom humor. Chegou a ir para a faculdade, mas foi justamente a falta de dinheiro que o fez voltar para o bairro onde foi criado. 

Conciliava seu emprego em uma empresa de energia de Massachusetts com a posição de linebacker no time semi-profissional de futebol americano Boston Bandits. Por meio do trabalho, conheceu a irmã da noiva de Hernandez, com quem desenvolveu um relacionamento. Em uma reunião familiar da namorada, conheceu Aaron pela primeira vez, já famoso na época. Logo começaram uma amizade que iria culminar na morte de Odin, que infelizmente entrou no caminho de destruição e paranoia de Aaron. 

Odin Lloyd não sabia, mas ao se relacionar com Aaron, deixaria amigos, família e sonhos para trás. [Imagem: Reprodução / Netflix]
O jogador da NFL teria se desentendido com Lloyd, segundo a versão da promotoria, pois ele estaria conversando com uma desavença de Aaron, que levou o acontecimento como traição. Há outras duas versões: Uma em que Lloyd teria descoberto que Hernandez era gay e tentou chantageá-lo, o que, mesmo que não seja verdade, diz muito do cenário deste esporte e em como isso teria virado um motivo para assassinato. A outra é que Odin sabia demais sobre um duplo homicídio que Aaron teria participado, mas isso é algo que nunca foi efetivamente comprovado. 

Com mais dois cúmplices, o astro americano buscou o jogador semi-profissional em sua casa, em Connecticut, durante a noite. Essa foi a última vez em que Odin foi visto com vida. Seria encontrado algumas horas mais tarde, largado em um parque industrial, com cinco perfurações de projétil .45. O mais trágico é que quando Aaron chega para buscá-lo, Odin manda mensagens inseguras para a irmã, confirmando que estava com “NFL” em tons de medo. 

Aaron se torna o principal suspeito e é preso 9 dias depois. Tentou apagar algumas pistas e sumiu com a arma do crime. No entanto, não lhe passou pela cabeça destruir a câmera da porta de casa, que o mostra claramente segurando a arma. Após as acusações, o contrato multimilionário que havia fechado com os Patriots, pouco antes do crime, foi cancelado. O time ainda estimulou que os jogadores não falassem mais do ex-parceiro, além de aceitar que os consumidores da camisa de Aaron trocassem suas camisas do jogador.

Aaron foi condenado, apesar da dificuldade de provar que um ídolo nacional era culpado, por todas as acusações que envolveram o assassinato de Odin Lloyd e mais cinco crimes de porte ilegal de armas. Sua sentença foi a prisão perpétua, sem direito a condicional. Após 2 anos cumprindo pena, o ex-tight end se suicidou na sua cela. De um lado, o Patriots recebia uma homenagem na Casa Branca, e do outro, no mesmo dia, Aaron se enforcava com lençóis. 

Sua morte abriu diversas discussões. Uma delas é que nem sempre as respostas e motivações do caso aparecem de maneira fácil, independente da amplitude. Também é possível observar um estudo do meio esportivo do futebol americano, que faz com que diversos atletas escondam e repreendam a sexualidade por medo dos impactos que o preconceito causará na carreira. Mas um dos fatos mais interessantes surge por meio de uma doença neurodegenerativa: a Encefalopatia Traumática Crônica, de sigla ETP. 

A comparação entre o cérebro de Hernandez como de uma pessoa normal é neurologicamente assustadora, e levanta novas discussões. [Imagem: Steven Senne / AP]
Essa doença é ocasionada por fortes pancadas e contusões na cabeça, e gera fatores como irritabilidade, confusão mental, impulsividade e depressão. Estudada primeiramente em pugilistas, um estudo feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston com o Hospital de Veteranos da cidade também indicou uma presença assustadora da doença em jogadores de futebol americano. Famosos pelos choques na cabeça, estes jogadores estatisticamente cometem mais crimes violentos do que atletas de outros esportes, o que pode estar relacionado com a ETC. Quando a autópsia de Aaron foi realizada, a responsável nunca havia observado um dano tão severo no cérebro de um atleta com menos de 46 anos. Hernandez sofreu diversas contusões cranianas na carreira e chegou a desmaiar em um jogo, tendo que ser retirado de ambulância. O exame fez com que debates de protocolos de segurança, em um dos esportes mais adorados da cultura estadunidense, reacendessem. Além disso, levantou-se a hipótese de que a doença teria influenciado Hernandez.

Algumas perguntas ficam sem uma resposta exata. Outras surgem para dar uma nova roupagem ao caso. E assim o True Crime se espalha, instigando fãs na descoberta de mais casos e no retorno em outros, nutrindo o interesse público por um fator constante a toda sociedade: o crime. E em cada esfera, inclusive na esportiva como foi possível observar, ele é diferente. O que se mantém é o fascinante tom narrativo, seja em contar a história de Ed Kemper ou a de Aaron Hernandez. 

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