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Hortência: uma inspiração do basquete feminino

A RAINHA DO BASQUETE FEMININO BRASILEIRO DEIXA UM LEGADO NO ESPORTE E SE TORNA INSPIRAÇÃO COMO ATLETA E MULHER

O basquete brasileiro é formado por nomes marcantes. Provavelmente você já ouviu falar sobre Oscar Schmidt, Janeth Arcain , Érika de Souza, e é claro Hortência Marcari. Ela é a maior cestinha da história da Seleção Brasileira de Basquete Feminino e, vestindo a camisa quatro, conquistou medalhas importantes para o país. Nesse texto do especial Brasilidades realizado pela Jornalismo Júnior vamos conhecer um pouco sobre a trajetória de uma das atletas que participou da geração mais vitoriosa do basquete feminino nacional.

Vida pessoal e os primeiros passos no basquete 

Hortência de Fátima Marcari nasceu em 23 de setembro de 1959 em Potirendaba, uma cidade que fica a 34 km de São José do Rio Preto. Caçula de seis filhos, Hortência veio de uma família humilde com pais lavradores. Desde cedo, a jogadora fazia parte do mundo dos esportes: aos 9 anos, ela praticava em Santo André vários esportes, como handebol, futsal e atletismo. Porém, foi sua professora de Educação Física, Mitsuko,que enxergou potencial nela para que se tornasse uma grande jogadora de basquete.

Ainda nova, Hortência enfrentou dificuldades para custear o transporte e os equipamentos necessários para os treinos de basquete. Então, seu técnico, Waldir Pagan, apresentou a ela o projeto da Secretaria Municipal dos Esportes,  “Adote um atleta”. Assim, ela conseguiu um patrocínio da empresa Caloi e continuou treinando. Dos 14 aos 16 anos, Hortência foi contratada e estreou como jogadora profissional no time de basquete de São Caetano do Sul, onde  jogou até 1975.

Com seu ótimo desempenho, estreou na Seleção Brasileira em 1976, aos 16 anos. De 1975 a 1978, Hortência defendeu o C. R. E. Fundação São Caetano e, dois anos depois, foi para o Higienópolis de Catanduva, em São Paulo, onde foi tricampeã paulista enquanto trabalhava em uma rádio e dava aulas de basquete em colégios da cidade. Ainda no mesmo ano, a jogadora, com apenas 18 anos, conquistou seu primeiro título do Sul-Americano na Bolívia. Nesse começo de carreira, Hortência participou, pela Seleção, do Mundial na Coreia e do Pan-Americano de Porto Rico, ambos aconteceram em 1979 e ela ficou em nono e quarto lugar, respectivamente.

Hortência com a camisa número quatro no Higienópolis de Catanduva [Reprodução: Facebook]

Coleção de conquistas

Os anos 80 foram marcados pela ascensão da carreira profissional de Hortência: em 80 e 81, a jogadora conquistou pelo Catanduva, dois títulos, nos Jogos Regionais e no Campeonato Paulista. Depois, em 82, ela migra para o Prudentina de Presidente Prudente-SP, onde dois anos depois, a estrela do basquete conquistou a Taça Brasil. Na seleção brasileira, ela foi medalha de bronze no Pan-Americano de Caracas em 83 e prata em 87. E também conseguiu o Campeonato Sul-Americano em 81, 86 e 89.

Hortência com a camiseta do Prudentina [Reprodução: Facebook]

Em 1985, Hortência mudou de clube novamente e foi para o Clube Atlético Minercal. Pelo novo time, foi tetracampeã paulista e bicampeã da Taça Brasil. Dois anos depois, a jogadora, aos 28 anos, bateu o recorde mundial de cestas, com 124 pontos em apenas uma partida. No mesmo ano, Hortência conquistou a medalha de prata no Pan-Americano de Indianápolis.

Em 1991, com o nome do clube alterado para Constecca/Sedox, Hortência ganhou o Mundial de Clubes e outro Campeonato Paulista. Além disso, nesse mesmo ano, ela conquistou um dos seus maiores títulos: o ouro no Pan Americano de Havana.

Esse time feminino da seleção brasileira foi considerado um dos melhores times de basquete do mundo e conseguiu classificar o país para a sua primeira Olimpíada, que ocorreu em Barcelona em 1992. Hortência transferiu-se para o time Leite Moça de Sorocaba, que foi campeão dos jogos regionais. Menos de uma ano depois, ela migrou para o seu último clube: a Ponte Preta (Nossa Caixa/Nosso Banco) de Campinas.

Hortência a esquerda pelo Ponte Preta [Reprodução: Facebook]

Hortência conquistou mais dois Mundiais de Clubes com a Ponte (93 e 94). Pela Seleção, a jogadora conquistou a medalha de ouro no Mundial na Austrália em 1994 ao derrotar o time dos Estados Unidos, que estava invicto desde 1991, quando havia sido derrotado, coincidentemente, pelo próprio Brasil no Pan-Americano.

Em 1995 e 1996, ela ficou responsável pela diretoria do time femino do Seara de Paulínia. Isso foi motivado pelo afastamento da jogadora das quadras para se dedicar à maternidade e aos cuidados com seu primogênito, João Victor, filho da atleta com o marido, o empresário José Victor Oliva, que nasceu em dois de fevereiro de 96.

Ainda atrás do seu sonho de vencer nas Olimpíadas, Hortência retorna às quadras o mais rápido possível e, com apenas 3 meses de treinamento após o parto, a jogadora participou da Olimpíada de Atlanta  (1996). O time composto por ela, “Magic” Paula, Janeth Arcain, Marta Sobral e Alessandra Santos trouxe a inédita medalha de prata para o Brasil.

A Seleção no pódio de Atlanta [Foto: Divulgação]

No mesmo ano, Hortência aposentou-se como jogadora profissional e passou a desenvolver mais seu lado empresarial, atuando em clubes e ajudando-os a crescer. Além do Seara de Paulínia que ela já havia coordenado, Hortência  participou da conquista do Mundial de Clubes do Data Control de Americana em 97; esteve no Fluminense em 98 e no Paraná Basquete em 99.

Em 2002, Hortência entrou para o Hall da Fama do basquete feminino em Knoxville, Tennessee. Três anos depois, ela entrou para o Hall da Fama do Naishmith Memorial. E em 2007, foi homenageada no lançamento do Hall da Fama da Federação Internacional de Basquete (FIBA),.

De 2009 a 2013, assumiu o cargo de diretora da Seleção Brasileira de Basquete Feminino. E atualmente se dedica a ministrar palestras motivacionais sobre sua carreira no basquete, ajudando outros times a progredirem no esporte.

Hortência: um legado para o esporte brasileiro

A jogadora brasileira é um dos maiores ídolos do país e do basquete e não é surpresa que também seja uma das maiores inspirações no mundo do esporte. 

A Iziane, ex-jogadora de basquete e atual integrante da Comissão de Atletas da COB, deixou o Maranhão aos 15 anos para mergulhar no esporte. Vendo Hortência jogar com aquela habilidade, o maior sonho de Iziane era ser como a Rainha. Em 2002, com apenas 21 anos, a jovem maranhense jogou pelo Miami Sol da Flórida, integrando a Women’s National Basketball Association (WNBA). No episódio de “Atletas do Meu Brasil” do Esporte Espetacular, a jovem comenta que Hortência era o ideal dela e queria ser tão habilidosa quanto a Rainha.

Hortência tem muito orgulho da sua trajetória e por ter feito o que amava: “Ser reconhecida como Rainha, ter bastante pessoas que me admiram, isso é muito bacana, isso é muito legal. Eu acho que tudo que uma pessoa almeja na sua vida é ser reconhecida, e esse reconhecimento eu tive. Também pelo meu esforço e dedicação eu passo essa mensagem para as pessoas. Sem isso você não vai conseguir chegar a lugar nenhum. É luta, é muita luta. Você tem que abrir mão de um monte de coisa, mas assim vale a pena. Precisa amar o que se faz e eu amava muito aquilo que eu fazia”, comenta a jogadora para o episódio da série da Globo.

A rivalidade feminina sempre se mostrou presente na sociedade, e com Hortência, não foi diferente. Ela e “Magic Paula” formaram uma dupla inesquecível, que brilhou nas quadras de basquete em muitos campeonatos internacionais, mas muitas comparações começaram a ser feitas pela imprensa e pelos fãs. Apesar de algumas diferenças, as atletas reconheciam o talento e o desempenho que cada uma tinha na Seleção. Ainda assim,  criou-se uma rivalidade entre os torcedores que pode ser representada pelo acontecimento dos anos 90, em que Paula era atleta do Piracicaba e Hortência, do Sorocaba, times rivais. Os fãs das jogadoras rivalizavam tanto, que a polícia precisou começar a fazer escolta nos jogos entre as equipes. 

“Magic” Paula e Hortência com as medalhas do Mundial de 1994 [Reprodução: Facebook]

Hortência Marcari é um ídolo do basquete e honrou seu título de Rainha dentro e fora das quadras, dando espaço para as mulheres nos esportes e sendo inspiração para inúmeras gerações que vieram e estão por vir. A mentalidade na hora de controlar a bola laranja era nítida no seu ritual para as jogadas de lance livre: contraia os ombros, respirava fundo e convertia o ponto. É essa concentração e persistência de Hortência que enriquece o esporte brasileiro e traz luz às futuras estrelas do basquete.

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