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Jornalismo Científico: o papel da comunicação na divulgação da ciência

Evento contou com bate-papo a respeito dos desafios da divulgação científica e do papel do jornalismo como formador de opiniões

Por Fernanda Zibordi (fernanda. zpaulo@usp.br)

A primeira edição do quadro “Jota Conversa Com…”, organizado pela Jornalismo Júnior, aconteceu no dia 15 de julho e trouxe como convidada Talita Aguiar, biomédica doutora m oncologia molecular e divulgadora científica no perfil Ciência com Café. Com o tema “Do meio científico ao público”, o evento online consistiu em debates pautados nas perguntas direcionadas à pesquisadora sobre o impacto do trabalho de divulgação científica e a responsabilidade que isso envolve.

As discussões foram mediadas pela repórter Sofia Zizza, e o evento contou com o apoio da Revista Pesquisa Fapesp e do Instituto Ciência Hoje, ONG voltada à divulgação científica por meio de redes sociais e publicação de revistas. 

O evento foi aberto ao público e os espectadores podiam mandar perguntas para serem respondidas pela pesquisadora convidada. [Imagem: Reprodução/ Instagram Jornalismo Júnior]

Produzir e divulgar ciência

O bate-papo começou com uma apresentação sobre a carreira acadêmica e de pesquisa da Talita, como também os motivos pelos quais ela se interessou pelo ramo profissional da divulgação científica. Tendo atuado como pós-doutoranda no Centro de Estudos do Genoma Humano da USP (Genoma USP), a cientista não enxergava a divulgação científica como uma opção. 

Foi através de sua pesquisa a respeito de aspectos genéticos de tumores pediátricos, realizada durante o seu doutorado, que ela passou a se interessar pela área, já que assuntos como esse não são comumente difundidos. Em 2016, ela criou o Ciência com Café, um perfil no Instagram, justamente para falar sobre genética e tumores raros.

Tudo mudou, de acordo com Talita, quando a pandemia da COVID-19 se iniciou: “naquela época, estava muito mais preocupada em postar aquilo que estava estudando do que tentar entender o que minha audiência esperava com meus posts. Quando veio a pandemia e uma enxurrada de perguntas querendo saber o que era verdadeiro ou falso, comecei a prestar a atenção em um outro lado”. A partir disso, o Ciência com Café adquiriu uma nova proposta de “levar as ciências biológicas para uma pauta de um cafezinho com os amigos”.

De acordo com Talita, o público do Ciência com Café é composto em 70% por pessoas que são estudantes da área de biológicas. [Imagem: Reprodução/ Instagram Ciência com Café]

Reunindo mais de 36 mil seguidores no seu perfil de divulgação científica, a cientista discorreu sobre os desafios de seu trabalho, principalmente as dificuldades encontradas para a sinergia entre ciência e comunicação. “A gente não é formado para se comunicar com a sociedade, mas criados para achar que o cientista não tem que descer do seu pedestal para falar com ela”, disse Talita. Para ela, o grande desafio se concentra no processo de aprendizagem por parte da comunidade científica de que é importante informar, de forma acessível, o público leigo.

A responsabilidade social do divulgador científico

Os principais assuntos debatidos no evento foram questões características do cenário da divulgação científica e as aplicações delas no jornalismo científico. Um dos primeiros tópicos abordados foi a respeito das possíveis formas de transmitir informações ao público sem omitir ou distorcer conceitos científicos. Talita comentou que existem dificuldades dentro do ramo porque muitos cientistas não acreditam na utilidade da divulgação científica, por conta da ideia de que o público não é capaz de entender. 

Partindo disso, a pesquisadora declarou a necessidade de uma maior alfabetização científica, que seria expor os conteúdos para o público em uma linguagem acessível e organizados de uma forma didática. Ela também ressaltou a importância de equipes multiprofissionais, formadas por cientistas e profissionais da comunicação, para uma melhor qualidade nos projetos de divulgação.

Talita disse que, em sua trajetória, começou a entender que os cientistas têm uma responsabilidade social em divulgar ciência. [Imagem: Reprodução/ Youtube Jornalismo Júnior]

Outro tema questionado pelo público foi a divulgação científica como uma medida de combate à desinformação. A cientista explicou que as pseudociências e o charlatanismo são perigosos tanto por serem atuantes na desinformação quanto por colocarem a saúde das pessoas em risco. Nessas situações, ela diz ser necessário a construção do senso crítico que a divulgação científica é capaz de proporcionar, mas também a habilidade em lidar com grupos que não permitem serem contrariados. 

“Mais importante que só despejar o meu discurso anti-pseudociência, é levar a pessoa ao mínimo de reflexão. Talvez eu não consiga fazer ela mudar de ideia completamente, mas plantei uma sementinha que talvez, no futuro, reverta em algumas coisas”. Talita deu exemplos de seus próprios seguidores, que apesar de terem posições políticas diferentes, ainda a acompanham e possuem um pensamento crítico sobre a realidade ao seu redor.

O Brasil no cenário de divulgação e jornalismo científico

Muitos dos temas discutidos durante o bate-papo se relacionam com fatores específicos da realidade brasileira no cenário científico nacional e internacional. Ao ser questionada se, ao longo do seu pós-doutorado na Universidade de Columbia, a ciência brasileira era descredibilizada, a pesquisadora revelou que, na verdade, o brasileiro possui uma forte síndrome de impostor. 

“A formação que se recebe no Brasil é muito boa no sentido de que, na maioria das universidades do país, o estudante é formado para pensar, observar uma situação, reconhecer um problema e resolvê-lo”. Mesmo não sendo as condições desejadas e merecidas, Talita explicou que adversidades acabam gerando produtividade e esforço maiores em comparação a ambientes mais adequados, como laboratórios e instituições que possuem grandes reservas de investimentos para pesquisas.

Entretanto, também foi ressaltado que, apesar da mão de obra brasileira ser muito valorizada internacionalmente, as pessoas não sabem sobre a ciência que é desenvolvida dentro do Brasil. O motivo para isso é justamente o baixo investimento em divulgação científica no país, principalmente vindo do setor público. 

Para a cientista, o apoio institucional nesse ramo é essencial, já que a divulgação e o jornalismo científico têm papel fundamental em atrair investimentos externos que melhoram a qualidade tanto das pesquisas quanto das condições de trabalho dos pesquisadores. “O Brasil é pioneiro nos estudos de doenças tropicais, em campanhas de vacinação e em desenvolvimento de vacinas. Isso tudo também precisa de divulgação científica”, afirmou a pesquisadora.

Planos para o futuro

O evento foi finalizado com perguntas a respeito dos próximos passos de Talita. Além de terminar o pós-doutorado e permanecer trabalhando no Genoma USP  e como divulgadora científica, ela também pretende continuar produzindo e ampliando o conteúdo para o Ciência com Café. “Eu me vejo cada vez mais longe da bancada e cada vez mais próxima da divulgação científica, de ações que retornem em políticas públicas”.

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