Numa tarde de sábado, à meia luz, em um lugar repleto de quadros e livros, pessoas sentadas em roda, no chão e nas cadeiras, focados na discussão de um livro escrito por uma mulher. Tal imagem não seria muito comum há 20 anos, muito menos 100 anos atrás. Afinal, ainda nos dias de hoje, o mercado editorial continua dominado por homens e as mulheres não possuem tanta visibilidade e valorização.
O projeto Leia Mulheres foi criado em 2015 com a intenção de mudar esse panorama. Idealizado por Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques, foi inspirado no projeto #readwomen2014 (#leiamulheres2014), proposto pela escritora Joanna Walsh. O objetivo é ler mais livros escrito por mulheres e promover uma discussão sobre eles, valorizando o trabalho dessas escritoras. De acordo com Juliana Gomes, faltava encontros presencias para discutir sobre as mulheres nessa área. “O projeto foi criado pela necessidade de algo mais presencial nas discussões sobre mercado editorial e a presença das mulheres como escritoras e pessoas atuantes no mercado. Partiu de algo pessoal, uma inquietação que eu tinha. Hoje o projeto já é maior do que a ideia inicial que pensamos.” Atualmente, a iniciativa já está presente em 21 cidades brasileiras.
Para os debates são escolhidos desde obras clássicas até contemporâneas, não esquecendo de destacar as autoras nacionais, africanas e latino-americanas. Apesar de homens serem bem-vindos nos encontros, é válido destacar que a mediação dos clubes de leitura é feita apenas por mulheres. E segundo Michelle, não é necessário ter nenhum conhecimento profundo sobre literatura. “Os debates não são de cunho acadêmico, é uma roda de leitura em que cada um tem espaço para comentar suas impressões. As mediadoras estão lá apenas para direcionar a conversa.”
Fora a importância para a valorização da mulher no mercado de livros, para Michelle os encontros promovem um debate enriquecedor, resultando em novos aprendizados e visões sobre os livros e assuntos ali discutidos. Juliana Leuenroth destaca também que ao ouvir outras opiniões, a empatia torna-se mais presente. “Além do aprendizado gigantesco em cada um dos clubes que acontecem, como a Michelle já falou, o Leia Mulheres me abriu os olhos para a diversidade de vozes e vivências. Nós três sempre fomos leitoras vorazes e ávidas por novidades, mas acredito que com o clube nosso olhar ficou mais empático e curioso.” Ela também enfatiza a importância das diferentes vozes literárias e discussões para o empoderamento feminino: “Mulheres escrevem sobre tudo e em todos os gêneros. E dar visibilidade para mulheres autoras também incentiva outras mulheres a encontrar sua voz literária. E mesmo que não queira ser publicada, é importante para a mulher ser dona de sua narrativa. Os clubes também ajudam a ter contato com diferentes opiniões e vivências que só fortalece essa ideia.”
Os encontros ocorrem mensalmente e, em São Paulo, não possuem um lugar fixo. As datas, livros e a localização são divulgadas na página do Facebook e no site do Leia Mulheres, onde também é possível conferir a programação de todas as cidades onde o projeto existe.
A mulher na Literatura
Jane Austen, Charlotte Brontë, Emily Brontë, Virgínia Woolf, Agatha Cristie, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Ana Cristina César, J.K Rowling, Rachel de Queiroz, Cecília Meirelles, Lygia Fagundes Telles, Svetlana Alexievich, Donna Tartt e muitas outras conseguiram o seu espaço na literatura. No entanto, escritores homens continuam a se destacar mais no meio.
A participação das mulheres na literatura começou efetivamente no século XIX. Até então, elas não podiam realizar nenhuma atividade intelectual, que era considerada tarefa dos homens, e eram criadas para realizar os serviços domésticos. Essa condição começou a mudar com a Revolução Industrial, quando as mulheres passaram a ocupar outras tarefas e começaram a frequentar escolas. Ainda assim poucas tiveram acesso à educação, mas foram estas as primeiras a publicarem livros, influenciando todas as outras que vieram depois.
É por conta deste histórico que existem poucos clássicos escritos por mulheres e a disparidade nas premiações é muito grande. Por isso a necessidade de projetos como o Leia Mulheres, pois somente quando as escritoras forem igualmente disseminadas, traduzidas, valorizadas e, principalmente, lidas como os homens será justo compará-los quanto à qualidade dos livros.
Por Beatriz Arruda
beatriz.arruda12@gmail.com
Matéria maravilhosaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. É isso Biaaa, showwwwwwwwwwwwwww.