Maria Madalena foi uma voz que foi calada por séculos. O filme homônimo (Mary Magdalene, 2017) veio mostrar a força de sua voz e sua verdadeira história, escondida por um machismo impregnado a ponto de alterar o seu papel na história do cristianismo. Maria (Rooney Mara) mostra-se uma alma feminista e a frente do seu tempo já nas primeiras cenas.
Dona de si, ela não tem medo das regras sociais. Quando a angústia a sufoca, Madalena corre para orar, mesmo que seja com homens, coisa que na época não era bem vista. Por negar casar-se com quem não queria e por tentar segurar as rédeas da sua própria vida, a família de Maria acredita que ela está possuída por demônios. Após quase morrer afogada no ritual de exorcismo, ela tem o primeiro contato com Jesus (Joaquin Phoenix), o curandeiro.
Ao ver Jesus pregando para o vilarejo e os discípulos batizando os homens que aceitaram Deus, ela fica encantada e atraída pelas palavras de fé. Enquanto descobre dentro de si sua crença e a vontade por conhecer mais sobre a doutrina aumenta, a família se mostra preocupada com a moça. Após julgamentos, Maria decide seguir Jesus e se torna uma apóstola.
Inicialmente os outros temem serem julgados por ter uma mulher entre eles e muitas vezes sua opinião é contestada. Ela se mostra a mais próxima de Jesus, que desabafa com Maria e lhe considera enormemente. Há uma tensão amorosa entre as personagens. Mas há apenas uma única cena que confirma um sentimento da parte de Madalena, uma conversa entre ela e Maria, em que a mãe do Salvador alerta que a moça deve preparar-se para perdê-lo, já que o ama. Porém, apesar de outras histórias especularem sobre um relacionamento entre os dois, nada é mostrado neste longa.
Em diversas cenas, Pedro (Chiwetel Ejiofor) se mostra resistente em aceitar a moça ao lado deles. Maria está ao lado de Jesus durante toda a sua pregação pelas cidades e ida à Jerusalém. Fica claro que Maria Madalena era discípula, a Apóstola dos Apóstolos. Apenas em 2016 ela foi considerada pela Igreja como uma apóstola, mostrando uma verdade que foi escondida por anos, um fato encoberto por um machismo estrutural. Maria se mostra devota e com uma fé absurda. A atuação de Rooney é cativante e mostra Maria como um símbolo de empoderamento feminino, incentivando outras mulheres a seguirem o seu próprio caminho.
Além de Pedro, outro apóstolo que se destaca é Judas (Tahar Rahim). Porém, este não é descrito como traidor, mas como um homem que acreditava no poder sobrenatural de Jesus e que esperava que ele trouxesse sua família novamente à vida. A tão falada traição de Judas foi retratada como um ato desesperado de um homem crente na ressurreição. Seu desespero é mostrado e o ator conquista o público com seu ar de jovem sonhador.
Maria Madalena é a primeira pessoa a quem Jesus aparece após ressuscitar. Os outros apóstolos não acreditam nela, não creem que Jesus a teria escolhido para presenciar isso. A última cena mostra ele a parabenizando pela coragem e pela força de se fazer ser ouvida. Uma das personagens principais da história de Jesus, que esteve presente na crucificação e ressurreição, recebe um protagonismo nunca considerado antes. Maria Madalena sempre foi dita como prostituta que se arrependeu de seus pecados e Jesus a perdoou, mas isso não passa de uma confusão com a história de uma pecadora que deduziram ser Maria de Madalena. Nunca houve provas ou indícios bíblicos nem históricos de que ela seria uma prostituta, sendo apenas um boato que foi disseminado inicialmente pelo Papa Gregório e ganhou força, mas o longa veio colocá-lo por terra.
Um filme perfeito para reescrever histórias e mostrar a força feminina. Um filme com uma mensagem de fé em que a mudança do mundo somos nós. Em sua última fala com os discípulos de Jesus de Nazaré, Maria diz que não adianta esperarmos tudo alterar de um dia para o outro, pois o bem feito por cada um é o que impacta e causa mudança.
Conheça a verdadeira história de Maria Madalena dia 15 de março nos cinemas.
Confira o trailer:
por Júlia Vieira
juliavcamargo@live.com