por Carolina Ingizza
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Este filme faz parte da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui
O Filho de Saul (Saul Fia, 2015) é um filme premiado com o Grande Prêmio do Festival de Cannes 2015, dirigido pelo estreante László Nemes. A história se passa durante o período final da Segunda Guerra Mundial, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Acompanhamos a trajetória de Saul (Géza Röhrig), um Sonderkommando – prisioneiros selecionados pelos nazistas para fazerem atividades que os alemães não se sujeitavam, como a limpeza das câmaras de gás e a incineração dos corpos – que luta por um último gesto de moral e decência no meio da barbárie.
Enquanto levava os novos prisioneiros para a morte, Saul era obrigado a contar histórias sobre banhos quentes, comida e postos de trabalho que os aguardavam. Tinha que fechar as portas da câmara e vasculhar os objetos pessoais deles enquanto os ouvia gritar e suplicar pela vida. Depois que essa etapa se concluía, deveria levar os corpos, chamados pelos nazistas de “peças”, para o incinerador e limpar a sala.
Um dia, enquanto limpava o local, Saul vê que um menino respirando angustiadamente após ter sobrevivido ao gás. Instantes depois, um médico local chega e aplica uma injeção fulminante no garoto, que teve que ser levado para autópsia. Saul, desesperado, acredita que a criança morta é seu filho e, por isso, luta desesperadamente para conseguir dar um enterro digno da tradição judaica para ele.
Desse modo, ao mesmo tempo que tenta conversar com o médico para conseguir acesso ao suposto corpo de seu filho, ele percorre o campo de concentração atrás de um rabino disposto a enfrentar os perigos para recitar o Kaddish (oração judaica recitada durante os enterros em memória do falecido) e enterrar a criança.
Concomitantemente a sua missão pessoal, os outros Sonderkommandos estavam empenhados em conseguir armas e explosivos para tentar escapar da prisão. Por conta de seus serviços, essa categoria de prisioneiros era mantida separada dos restantes e contava com alguns privilégios, no entanto, eles eram mortos e substituídos em poucos meses. Por isso, numa tentativa de escapar da morte certa, os colegas de Saul buscavam alternativas para fugir. Ele, por sua vez, foi confrontado durante o filme por estar se preocupando mais com os mortos do que com os vivos.
O filme é todo sobre a figura de Saul e depende muito da atuação de Géza Röhrig. Com a câmera grudada no ator, utilizando planos fechados no rosto dele ou em sua nuca, o espectador só consegue entender e ver o que ele percebe ao seu redor. Na maior parte do tempo, só Saul está em foco, todo o entorno está desfocado, o que é positivo, pois não superexpõe os horrores nazistas, mas ainda permite que a imaginação de quem assiste construa o cenário.
Filho de Saul é um filme delicado sobre um tema tão recorrente no cinema como a Segunda Guerra Mundial e os campos nazistas. Ao abordar o assunto por meio da ótica de um único personagem, há uma subjetivação que permite uma relação direta do público com a obra. Também, ao não expor a violência diretamente, causa mais impacto na audiência, que consegue preencher as lacunas com as referências da memória. É um longa excepcional, que retrata a luta de um homem para se manter digno diante de um cenário caótico e desumano.
Assista ao trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=NzMpU0OSres