Registrar a expansão da cidade de São Paulo e revelar as atrocidades da Segunda Guerra Mundial certamente não parecem tarefas fáceis para fotojornalistas. Ser um nome-referência para mulheres que têm paixão pela fotografia, menos ainda. Mesmo assim, Hildegard Rosenthal e Lee Miller enfrentaram a dificuldade de se estar num meio de maioria masculina e fizeram fotos emblemáticas que mostram as mudanças do mundo nas décadas de 1930 e 1940. As pioneiras foram o tema do quarto dia da VII Semana de Fotojornalismo.
Paisagens, cidades, pessoas
Historiadora e especialista na cidade de São Paulo, Maria Luiza Ferreira de Oliveira contou os principais fatos da carreira de Hildegard Rosenthal, alemã que encontrou no Brasil uma alternativa à realidade nazista. A fotojornalista, que faria 100 anos em 2013, tinha preferência pelas cenas simples do cotidiano. Não fotografava a cores porque gostava dos desenhos feitos pelas sombras das construções e das pessoas que eram alvo de suas lentes.
Pessoas. Para Hildegard, a fotografia sem a presença de seres humanos não interessava. “As fotos são momento”, dizia a mulher que conseguiu todas as fotos que quis realizar.
A expansão do Parque Industrial que era a cidade de São Paulo no início do século passado, além de excursões pelo interior do estado e retratos de artistas vivendo sua rotina eram os principais motivos de Hildegard. Explorava ângulos não tão comuns e fazia composições geométricas das construções da cidade. Usava a famosa Leica para suas fotografias de ataque.
Singela, múltipla, ativa. Uma personalidade transmitida por seus autorretratos onde realiza tarefas comuns também é percebida nas fotografias de pessoas comuns às ruas da cidade. Buscava mostrar a realidade explorando os gestos e as expressões de quem fotografava. Para Maria Luiza, o humanismo da fotojornalista é surpreendente, pois, em seu trabalho, Hildegard não pretendia esconder nada.
A fotografia menor na paz e na guerra
A fotógrafa documentarista social e professora na área de Comunicação Sandra Maria Lúcia Pereira Gonçalves, que defende a exploração de uma fotografia “menor”, encontra em Lee Miller grande inspiração para seu trabalho. Uma fotojornalista que viveu com intensidade os movimentos artísticos de vanguarda surgidos na Europa e que caminhou entre a calmaria dos ensaios de moda e a agitada e cruel realidade da Segunda Guerra Mundial.
O conceito de fotografia menor abordado por Sandra Maria diz respeito às imagens que subvertem e incomodam, provocando o pensamento e a crítica por meio das múltiplas facetas possíveis. As fotos de Lee Miller, que foi influenciada principalmente pelo Surrealismo e é considerada uma profissional à frente de seu tempo, têm muito de contemporâneo. “O Surrealismo está na vida”, comentou a professora.
Lee Miller, que faleceu em 1977 em decorrência de um câncer, viveu muitos momentos conturbados. Certamente a visão que teve como correspondente da revista Vogue na Normandia durante a Guerra contribuiu para os conflitos internos da fotojornalista. Nunca, porém, deixou de explorar as várias possibilidades de interpretação de suas fotos. Conseguiu contar suas histórias de forma instigante e questionadora.
De diversas formas, ambas as pioneiras imprimiram suas marcas na história do fotojornalismo e se tornaram referências de um excelente trabalho que documenta os principais acontecimentos e vão além do imediatismo das páginas de jornais.
por Ariane Alves
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