O Braço Direito (2020), mais novo thriller nacional independente, é um filme circundado por certo grau de mistério. Enquanto a sinopse chega a ser detalhada, seu trailer é composto por um minuto e meio de cenas desconexas, amarradas por frases genéricas como “experiencie o dia mais extremo deste homem e desvende sua vida”.
Em tons cinzentos e música agourenta, acompanhada pelo que se assemelha a batimentos cardíacos, a propaganda tenta indicar um sombrio e misterioso suspense – o “primeiro brasileiro a denunciar insider trading” (negociação de informações privilegiadas). O resultado, no entanto, é tão raso quanto diz ser a investigação sobre tal crime.
O longa acompanha Anselmo (Denis Derkian), protagonista carente de qualquer traço de carisma ou personalidade, acometido pela metástase e pelo cargo de capanga que exerce para um magnata da Bovespa, ao passo que a doença evolui junto aos delitos que comete.
Sem vida, vítima de um roteiro inorgânico e escasso de substância, que tenta se disfarçar atrás de silêncios prolongados e planos gerais, Anselmo faz de sua maior crueldade pedir ao espectador que siga suas ações e observe seu olhar nublado repetidamente centrado no enquadramento, como se implorasse a quem o assiste que achasse a significância e humanidade que não lhe foram atribuídas.
Pelo campo da exposição, fica claro que a ambição do diretor e roteirista estreante, Rodrigo Reinhardt, era tecer comentários sócio-políticos pertinentes à contemporaneidade influenciada pelo mercado financeiro. No entanto, a narrativa simplista, mas complicada por infindáveis tentativas frustradas de aprofundamento, não esclarece sua perspectiva.
O arco de redenção de Anselmo é falho, e as linhas entre denúncia e compaixão se turvam sem grande efeito. As observações mais claras são deixadas para frases explicativas estampadas na tela no início e fim da obra, mas tampouco oferecem algo cativante ou específico ao filme.

De resto, os conflitos são tediosos e a violência narrada e demonstrada é afogada pela trilha sonora repetitiva que força uma tensão que nunca atinge clímax satisfatório. Sobretudo, o choque pretendido se perde quando não há semblante algum de vitalidade no universo construído.
O Braço Direito, como um todo, parece um filme feito apenas em nome da própria existência, um exercício em busca de algo não definido. O longa constrói sua estética sombria com sucesso superficial, mas perde de vista todo o resto. O punhado de planos embaralhados e o uso de cortes abruptos o aproximam a um vazio filme de arte que negligencia sua intenção política e narratividade.
Depois de toda sua duração, o longa chega a uma conclusão esperada, comum e anticlimática. Trata-se de um encerramento coeso para um estudo de personagem tão difuso. O Braço Direito é uma coletânea de intenções em um pacote exaustivo e cheio de si. O enredo insípido dificilmente repercutirá em audiências contemporâneas, as quais a violência e crime se apresentam através de uma multidão de obras mais pungentes, bem colocadas e merecedoras de seu tempo.
O filme fica disponível nas plataformas digitais a partir do dia 08/10. Confira o trailer:
*Capa: [Imagem: Divulgação/O2 Play]