No último fim de semana, uma cena inusitada surpreendeu o mundo: o mar do Golfo do México foi tomado por chamas. O incêndio, ocorrido em um gasoduto da petrolífera estatal mexicana Petróleos Mexicanos (PEMEX), ainda não teve suas causas nem suas consequências para o meio ambiente completamente avaliadas. Mas uma coisa é certa: acidentes como esse evidenciam os riscos da exploração de combustíveis fósseis e a problemática por trás da dependência dessas fontes energéticas.
RING OF FIRE: An undersea gas pipeline ruptured in the Gulf of Mexico, sending infernal flames boiling to the surface in the Gulf waters. pic.twitter.com/Umk6rPTf2n
— CBS News (@CBSNews) July 4, 2021
Foi na sexta-feira, dia 2 de julho, que as imagens começaram a se espalhar na internet. O incrível fenômeno em alto-mar era, na verdade, um vazamento do gás de um duto subaquático administrado pela PEMEX, a menos de 150 metros da plataforma de perfuração de Ku Maloob Zaap. Cerca de 680 mil barris saem diariamente dessa estação, o que corresponde a 40% da produção da empresa petrolífera.
Segundo a PEMEX, não houve feridos e as válvulas do gasoduto foram prontamente fechadas, a fim de evitar a continuidade das chamas. Ainda assim, o fogo durou mais de cinco horas, no período entre 5h15 e 10h45. Embarcações foram enviadas pela companhia para neutralizar com nitrogênio líquido o incêndio.

Angel Carrizales, chefe da Agência de Segurança, Energia e Ambiente do México (ASEA), informou nas suas redes sociais que não houve vazamento de óleo no mar. Junto à agência, a Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais do México (Semarnat) determinou que a PEMEX terá seis meses para publicar um relatório da investigação do acidente. Após a publicação, medidas deverão ser tomadas para evitar novos casos como esse. O presidente mexicano, Andrés Manuel, declarou, na última terça-feira, 6, que o “impacto ambiental será avaliado”.
Histórico de desastres ambientais da indústria petrolífera
Não é a primeira vez que ocorrem desastres ambientais no Golfo do México: em 20 de abril de 2010, a plataforma Deepwater Horizon, operada pela British Petroleum, explodiu e afundou, matando 11 funcionários e provocando o maior vazamento acidental de petróleo da história, com 5 milhões de barris ao todo sendo despejados no oceano.

Além disso, Dutra chama atenção para o risco de vazamentos durante o transporte do petróleo e do gás natural, seja por meio de navios (no caso do petróleo) ou de gasodutos e oleodutos.
Um vazamento dessa natureza ocorreu recentemente no Brasil, em 2019, quando manchas de petróleo cru atingiram uma vasta parte da zona costeira do país, o que provocou graves danos à vida marinha.

Impactos ambientais do acidente no Golfo do México
O incidente da PEMEX ainda não teve seu impacto analisado. De qualquer forma, os recentes casos denotam a gravidade das consequências, seja para o meio ambiente, seja para as atividades econômicas, como a pesca e o turismo.
Dutra explicou ao Observatório os impactos dos vazamentos de petróleo e de gás: quando o gás entra em contato com a água, ele pode formar substâncias tóxicas, que se dispersam pelo ambiente marinho. Já o óleo geralmente forma uma camada fina na superfície, que pode atingir áreas “especialmente sensíveis” a esse material, como recifes de corais ou manguezais. “O óleo pode ficar aprisionado” nessas áreas e matar espécies vegetais, que dependem da luz para realizar fotossíntese, e também animais.
O biólogo conclui dizendo que a possibilidade de recuperar tais áreas após derramamentos depende do grau de fragilidade desses ecossistemas em relação ao óleo e ao gás.
Combustíveis fósseis: as principais fontes de energia no mundo hoje
Segundo o relatório BP Statistical Review de 2020, divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), os energéticos de origem fóssil, como petróleo, gás natural e carvão, predominam na matriz energética global, compondo cerca de 84% dela.
O setor de transportes é responsável por parte considerável dessa demanda. Por isso, tanto Dutra como Bermann afirmam ser preciso fortalecer as cadeias produtivas locais, o que significa reduzir a necessidade de importação de bens e produtos de outras regiões, uma vez que o transporte à longa distância desses itens demanda muita energia e, consequentemente, um grande uso de combustíveis fósseis, como a gasolina e o óleo diesel.
Outra necessidade apontada pelos especialistas diz respeito à ampliação do uso de fontes de energia renováveis e limpas, tais quais a eólica, a solar e os biocombustíveis — como o biodiesel, produzido a partir de óleos vegetais, e o etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho. Contudo, devido aos elevados custos e às tecnologias necessárias para sua produção em larga escala, esses combustíveis renováveis ainda não são capazes de substituir por completo os combustíveis fósseis.
Enquanto não se pode dar o adeus definitivo aos combustíveis fósseis, é possível ao menos tentar minimizar os riscos da sua exploração.
*Imagem de capa: Reprodução/Jim Evans/Wikimedia Commons