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‘Onde Está Meu Coração’: a jornada de uma dependente química

Estreou em maio, na plataforma de streaming Globoplay, a série Onde Está Meu Coração, que conta com dez episódios de em média 45 minutos cada. Criado por George Moura e Sergio Goldenberg e dirigido por Noa Bressane, o drama tem como principal tema a trajetória da protagonista, Amanda (Letícia Colin), uma médica que se torna …

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Estreou em maio, na plataforma de streaming Globoplay, a série Onde Está Meu Coração, que conta com dez episódios de em média 45 minutos cada. Criado por George Moura e Sergio Goldenberg e dirigido por Noa Bressane, o drama tem como principal tema a trajetória da protagonista, Amanda (Letícia Colin), uma médica que se torna dependente química. 

A história começa com a descoberta pelos pais da jovem, Davi (Fábio Assunção) e Sofia (Mariana Lima), de seu uso de drogas. A partir daí, inicia-se a dura saga da personagem, a qual se aprofunda cada vez mais no vício em cocaína e em crack. Logo nos primeiros episódios, o público é levado a acompanhar cenas fortes de crises de abstinência e consumo de substâncias ilícitas por parte de Amanda, que se recusa a receber ajuda da família. 

Após muita resistência, Amanda é internada compulsoriamente em uma clínica de reabilitação por seus pais. Depois de apenas um mês de tratamento, Sofia leva a filha para casa, acreditando ser capaz de cuidar da primogênita. No entanto, ainda bastante instável, ela foge da casa que passou a infância, em Santos (SP), rumo à residência que vivia com seu amado Miguel (Daniel Oliveira), em São Paulo capital. Com o tempo, novas dificuldades se impõem na vida da moça, que recai e se afunda nas drogas até o ponto mais baixo, chegando a ir morar em “cracolândias”, roubar e se prostituir pelo crack, em alguns dos takes mais pesados e impactantes da série. 

Em cena de 'Onde Está Meu Coração', leticia colin senta na beira de ponte sobre viaduto.
[Imagem: Reprodução/Globoplay]
Extremamente debilitada e tendo alcançado o fundo do poço, Amanda volta para a casa dos pais, que tentam cuidar da jovem, mas percebem que ela precisa ser internada novamente. Quando volta, enfim, para a clínica de reabilitação, dessa vez espontaneamente, a médica consegue aproveitar a intervenção e, depois de meses, recebe alta. 

Além da protagonista, outros personagens também apresentam histórias ricas para o enredo. O pai, Davi, também médico, é alcoólatra e estava sóbrio há vinte anos. A crise na vida da filha, no entanto, ameaça sua sobriedade. A irmã, Júlia (Manu Morelli), católica fervorosa, carrega o peso de ter feito uma promessa religiosa de que se manteria virgem até o casamento — em troca, sua família poderia ser feliz. O marido, Miguel, possui a culpa de ter apresentado o crack à esposa e tenta ajudá-la, sem sucesso. O casamento dos dois fica abalado pelo vício e pela nova cliente do rapaz no escritório de arquitetura, Vivian (Camila Márdila). Por fim, a mãe, Sofia, é uma das figuras mais interessantes. Por mais que todos sofram imensamente com a decadência da jovem médica, é ela a única que em momento algum desistiu de Amanda, sendo corroída diariamente pela dor e pelo medo, tentando, ao mesmo tempo, ser um alicerce para seus entes queridos.

[Imagem: Reprodução/Globoplay]
A direção da série é primorosa e valoriza até mesmo os silêncios, o que prende a atenção de quem acompanha. Além disso, a obra conta com uma fotografia detalhista, a qual valoriza os recortes, os ângulos e a disposição dos planos, o que capta com maestria as emoções e, principalmente, as angústias das personagens. Ademais, a iluminação colabora para o entendimento do estado de espírito daquelas pessoas, pois explora as noções de dia e noite, de Sol e nublado, relacionando esses fatores com os sentimentos dos indivíduos. A trilha sonora deve ser elogiada, ela se faz precisa no auxílio da construção das sensações que o espectador necessita ter ao assistir, dispondo de canções de nomes como Caetano Veloso, Nina Simone, Marvin Gaye e Elvis Presley.

As atuações são, sem dúvidas, o ponto alto de Onde Está Meu Coração, com destaque para Letícia Colin, que interpreta brilhantemente todas as etapas do processo de queda e ascensão de Amanda, desde as fragilidades até os momentos de raiva. As cenas de crise de abstinência e de quando a personagem virou moradora de rua são o auge do trabalho visceral de Colin na série, o qual merece muitos elogios. O excelente Fábio Assunção chama atenção na pele de Davi, um papel complexo com várias camadas. Mariana Lima e Daniel de Oliveira também são dignos de aplausos, ambos conseguem expressar com méritos todo o sofrimento de seus personagens. A estreante Mallu Morelli não fez feio e segurou cenas dramáticas com muito talento.

[Imagem: Reprodução/Globoplay]
Em suma, Onde Está Meu Coração é um acerto do Globoplay. Um drama denso sobre o uso de drogas que foge da superficialidade ou de narrativas simplistas, retratando todas as facetas do longo e tortuoso caminho até a recuperação de um dependente dessas substâncias. A história ilustra, também, como a dependência química pode acometer qualquer pessoa, independentemente de classe social, nível educacional ou vida pessoal. É extremamente pertinente que o audiovisual conte a trajetória de cidadãos inviabilizados ou estigmatizados pela sociedade, como os usuários de drogas, os quais foram apresentados pela série como pessoas que estão passando por uma doença. Além disso, os efeitos dessa situação para a família dessas pessoas é um aspecto muito bem explorado pelos criadores, que mostram como essa dor se manifesta diferentemente em cada um. A cena final, como já apontado acima, reforça que o problema das drogas é sanitário e precisa ser resolvido com tratamento adequado e com acolhimento, não apenas com prisões em massa que não solucionam essa questão tão complexa para o Brasil.

*Imagem da capa: Reprodução/Globoplay.

 

1 comentário em “‘Onde Está Meu Coração’: a jornada de uma dependente química”

  1. Solon Ferreira dos Santos Filho

    Parabéns Laura, excelente trabalho continue essa pessoa maravilhosa você é um orgulho para nós Solon e Maricleide

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