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‘Quem Vai Ficar Com Mário?’ e a leveza do cinema LGBTQIA+

Descontraída e alto-astral, a comédia traz à tona discussões importantes sobre tabus da sociedade

Lançado no mês do orgulho, Quem Vai Ficar Com Mário? (2021) é dirigido por Hsu Chien. O longa conta a história de Mário (Daniel Rocha), rapaz que decide visitar sua família no interior do Rio Grande do Sul e revelar que, além de ser escritor, também namora há quatro anos com o diretor teatral Fernando (Felipe Abib). No entanto, seus planos mudam de repente após conhecer Ana (Letícia Lima), coach contratada para ajudar a modernizar a cervejaria da família.

É comum que filmes que envolvam a temática LGBTQIA+ possuam um final trágico. A ideia de que relacionamentos duradouros e membros da comunidade andam separados foi, por muito tempo, perpetuada em diversas produções cinematográficas. Tal questão, felizmente, não é assistida no longa de Chien. Aqui, a fluidez do romance entre Mário e Fernando, ainda que por vezes tenha tido momentos de conflito, é construída de maneira prazerosa para o espectador, que torce incessantemente por uma boa resolução entre os dois. Mas… onde entra Ana nessa situação?

Quem Vai Ficar Com Mário?, acima de tudo, trata da redescoberta de si mesmo. A personagem de Letícia Lima é uma mulher empoderada e moderna. Vinda de São Paulo, ao entrar em contato com os moradores de uma cidade pequena, traz importantes questões que fazem com que a família do protagonista repense no conservadorismo das atitudes que afetam até mesmo o ambiente profissional. Inclusive, ela representa um grande papel para a reflexão de Mário sobre sua sexualidade, que, ao decorrer do filme, descobre-se bissexual.

A trama ainda é concluída com uma solução simples, mas que devido à instauração monogâmica dentro da sociedade, revela-se um tabu: o poliamor. Tal desfecho se difere de O Primeiro Que Disse (2010), filme italiano que inspirou a recém-estreada produção. A Jornalismo Júnior participou da coletiva de imprensa do lançamento da obra e, nela, Chien comentou sobre o assunto: “se ele termina com um, é uma coisa, termina com a menina, é outra coisa. Como levantar essa questão sem polarizar?”.

O diretor revelou, também, que o elenco teve uma grande influência para a tomada de decisões do roteiro e para o destino dos personagens. “O Mário se descobriu essa pessoa que ama homens e mulheres. Eu quero que as pessoas entendam que a questão da diversidade de gêneros atende a todas as pessoas.”

Mário (Daniel Rocha) conversa com Ana (Letícia Lima). Os dois estão sentados no chão, apoiados em um sofá listrado branco e preto, com uma almofada com bolinhas coloridas.
Mário conversando com Ana. [Imagem: Divulgação/Paris Filmes e Downtown Filmes]
Contudo, os esforços para driblar os estereótipos acerca da temática não são tão bem sucedidos assim. Lana de Holanda (Nany People), Kiko Silva (Victor Maia) e Xande Pinto (Nando Brandão) participam, juntamente com Mário e Fernando, do grupo teatral Terceira Força. Apesar de entregarem um ato de abertura visualmente impecável, a caricatura destinada para estes personagens decepciona. 

Com um esforço do roteiro para caracterizá-los como alívio cômico, a produção peca ao desenvolver Kiko e Xande de forma rasa, definidos apenas por seus trejeitos femininos e por suas constantes buscas por homens com que possam se relacionar. Infelizmente, nem as correções de Nany People puderam evitar essa problemática.

Além disso, a abordagem do movimento feminista é realizada, muitas vezes, de forma muito expositiva e superficial. A trajetória de Bianca (Elisa Pinheiro), irmã de Mário, até a reconquista de sua confiança é extremamente válida e vantajosa para o longa. Afinal, após seu próprio pai, Antônio (Zé Victor Castiel), duvidar de sua capacidade de se tornar alguém profissionalmente sucedida, abre-se um aguardado espaço para sua reviravolta. Entretanto, é complicado acompanhar esta parte da história quando a mesma está repleta de frases de efeito que dificilmente seriam ditas num contexto real. Torna-se vago escutar falas que foram provavelmente retiradas de publicações das redes sociais.

E por falar em frases de efeito, a repetição do slogan do filme é, também, algo negativo a se acrescentar. “Tenha coragem para ser feliz” é, de fato, algo bonito para se dizer. Mas quando escutado inúmeras vezes, novamente, torna-se vago e cansativo.

Quanto à Rômulo Arantes Neto, não há muito o que dizer. O ator convence como o irmão Vicente, recém-assumido gay para a família, mas não recebe um holofote especial. Assim, realiza sua interpretação de forma morna, entregando um bom trabalho com o que lhe foi destinado pelo enredo. Vale, por fim, destacar Zé Victor Castiel e Nany People, que possuem uma ótima química em cena.

Em Quem Vai Ficar com Mário?, Antonio (Zé Victor Castiel) e Holanda (Nany People) dão as mãos durante um jantar. Antonio usa uma camisa social listrado branca e azul e Holanda usa uma roupa preta com rosas vermelhas estampadas.
Antonio e Lana de Holanda durante jantar. [Imagem: Divulgação/Paris Filmes e Downtown Filmes]
Por mais que Quem Vai Ficar Com Mário? tropece em certos pontos, a leveza e a confortabilidade de como seu humor se instala fará com que sua experiência valha a pena. Talvez o filme não traga de imediato a revolução almejada por seus idealizadores. Por outro lado, é um bom pontapé para que a inclusão de minorias sociais seja finalmente bem representada no cinema nacional. Ao obter uma construção mais comercial, Hsu Chien pode esperar que sua obra possua um maior alcance e seja discutida dentro dos lares familiares. Caso você precise de um filme tranquilo e alto-astral para assistir no fim da tarde, está aqui uma recomendação.

Nota do Cinéfilo: 3, Ok

O longa estreou no dia 10 de junho nos cinemas brasileiros. Confira aqui o trailer

*Imagem da capa: Divulgação/Paris Filmes e Downtown Filmes

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