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Amazon Prime: ‘Os Aeronautas’ voam alto, apesar de infortúnios

Dirigido por Tom Harper e co-produzido pela Amazon Studios, Os Aeronautas (The Aeronauts, 2019) se passa na Londres de 1862 e retrata, com cenas vívidas e um cenário excepcional, a história da aeronauta Amelia Wren e do cientista James Glaisher, que juntos voam cada vez mais alto em prol da ciência. A cena inicial é …

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Dirigido por Tom Harper e co-produzido pela Amazon Studios, Os Aeronautas (The Aeronauts, 2019) se passa na Londres de 1862 e retrata, com cenas vívidas e um cenário excepcional, a história da aeronauta Amelia Wren e do cientista James Glaisher, que juntos voam cada vez mais alto em prol da ciência.

A cena inicial é muito bem trabalhada e vai direto ao ponto – a decolagem. É nesse momento que são expostas as características mais marcantes dos protagonistas: James (Eddie Redmayne) é contido e um típico cientista, fascinado pela natureza e constantemente lendo ou anotando algo; já Amelia (Felicity Jones) é uma personagem vibrante, destemida e carismática. O casal, já conhecido por sua atuação em A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2015), ganha o público nos primeiros minutos do longa.

Sem sombra de dúvida, as cenas no balão são impecáveis. As técnicas de filmagem utilizadas provocam as sensações certas nos momentos certos e o espectador se sente parte da trama, como se estivesse no pequeno cesto com Amelia e James. A câmera extremamente próxima aos personagens revela uma situação claustrofóbica, enquanto as reações do balão às condições climáticas causam propositalmente uma sensação de vertigem. Harper sabe dosar os instantes de contemplação com os angustiantes momentos de ação, estes muito bem explorados, com uma trilha sonora (de Steven Price) que faz ótimo uso dos silêncios, efeitos especiais precisos e uma maquiagem irrepreensível.

Felicity Jones protagoniza as cenas mais eletrizantes [Imagem: Amazon Studios]
As cenas de voo são interrompidas por flashbacks, essenciais para a construção da história dos personagens, pois apresentam suas motivações, seus medos e seus traumas, mas muitas vezes seu desenrolar é lento demais e acaba por quebrar um pouco a expectativa com os acontecimentos no balão. Neste ponto, o roteiro deixa a desejar, com momentos importantes que perdem o impacto esperado por se alongarem excessivamente durante o filme, e contextualizações pouco complexas, que não empolgam.

O filme é baseado em fatos e inspirado pelo livro Falling Upwards: How We Took The Air (2013), de Richard Holmes, mas deixa a dúvida se é uma biografia ou se teria tornado-se uma ficção.

Enquanto James Glaisher é um personagem histórico real, foi pesquisador do Observatório Real de Greenwich e fundou a Sociedade Real de Meteorologia da Grã-Bretanha, Amelia Wren não existe. A personagem é fictícia e seria o resultado de uma mistura de várias pessoas reais: Henry Coxwell (o co-piloto da viagem retratada no filme, que salvou a vida de Glaisher), Sophie Blanchard (a primeira balonista profissional, cujo marido, também aeronauta, morreu devido a um acidente com um balão) e Margaret Graham (a primeira britânica a fazer um voo solo, cujo balão azul e vermelho teria inspirado a direção de arte).

Amelia e James momentos antes da partida [Imagem: Divulgação]
Além de não ter existido na vida real, a personagem de Felicity Jones causa desconforto logo no começo do filme, ao usar um vestido na altura dos joelhos, o que seria muitíssimo improvável no período vitoriano, apesar da escolha do figurino fazer algum sentido se for levada em conta a apresentação um tanto circense feita por Amelia antes da decolagem do balão.

O longa deixa ainda outras dúvidas. Se a biografia é sobre James Glaisher, por que temos a impressão de que a protagonista da história é, na verdade, Amelia Wren? E, se mudaram tanto a história a ponto de fazê-la girar em torno de uma personagem que nunca existiu, não poderiam ter ‘incrementado’ o passado de James, de forma a torná-lo menos raso ao longo do filme?

Os Aeronautas acima das nuvens [Imagem: Amazon Studios]
A aposta da Amazon no casal já conhecido (e aclamado) para os protagonistas de Os Aeronautas, leva à sensação de que trata-se de uma colagem de outras obras estreladas por Redmayne e Jones.

O papel de cientista vivido pelo ator nos remete imediatamente a sua atuação como Stephen Hawking e a caracterização do personagem lembra uma versão mais sutil de Newt Scamander em Animais Fantásticos e Onde Habitam  (Fantastic Beasts and Where to Find Them, 2016). Já Felicity Jones retoma a determinação de Jyn Erso em Rogue One: Uma História Star Wars (Rogue One: A Star Wars Story, 2016).

Contudo, o casal apresenta a química esperada e, apesar do final cliché (mas não necessariamente ruim), é um filme gostoso de assistir. A obra levanta ainda alguns pontos relevantes, como a importância do conhecimento científico (é impressionante ver a metodologia de Glaisher em cada apuração de dados ao longo do filme) e uma certa dose de representatividade das mulheres na ciência, o que torna Os Aeronautas uma belíssima colagem.

O filme está disponível para todos os assinantes do Amazon Prime. Confira o trailer:

1 comentário em “Amazon Prime: ‘Os Aeronautas’ voam alto, apesar de infortúnios”

  1. Incrível é viver na época das narrativas. O século XXI parece que veio com a missão óbvia de reescrever os séculos anteriores em nome do politicamente correto. Tudo hoje parece aceitável, sem ser necessariamente verossímil. Espero que essa tentativa de apagar a realidade e viver de narrativas não cause arrependimentos às gerações futuras.

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