Por Alinne Maria Aguiar (alinnemariaaguiar@usp.br)
Os atletas paralímpicos Yeltsin Jacques e Júlio César Agripino, acompanhados de seus guias, Guilherme Ademilson e Micael Batista, subiram ao pódio dos 1.500m na classe T11, destinada a atletas cegos. Yeltsin conquistou o ouro com um tempo de 3min55s82, enquanto Júlio garantiu o bronze com um tempo de 4min04s03 — o segundo lugar foi para o etíope Yitayal Yigzaw.
Essa não foi a primeira vez que os atletas dividiram o pódio: logo na estreia do atletismo nos Jogos Paralímpicos de Paris, Júlio quebrou o recorde mundial nos 5.000m T11 com o tempo de 14min48s85 e levou a medalha de ouro, enquanto Yeltsin ficou com o terceiro lugar.
Trajetória dos atletas
Yeltsin Jacques teve contato com o mundo dos esportes desde cedo. Aos dois anos, começou a fazer natação e aos doze, entrou para o judô. O primeiro contato com o atletismo, esporte que viria a transformar sua trajetória, ocorreu aos 16 anos, quando ele aceitou ser guia de um amigo totalmente cego, que queria competir em uma maratona.
Nascido com uma condição congênita retiniana que comprometeu grande parte de sua visão, Yeltsin cresceu com o aviso dos médicos de que, por volta dos 20 anos, perderia a capacidade de enxergar por completo. Inicialmente, ele competia nas categorias T12 e T13, destinadas a atletas com baixa visão. No entanto, com o agravamento de sua condição, aos 28 anos, Yeltsin passou para a classe T11, destinada a atletas totalmente cegos.
Sua primeira medalha veio no Mundial da França, em 2013. Desde então, Yeltsin acumulou uma série de vitórias, incluindo ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto (2015), Lima (2019) e Santiago (2023), além de ouro na Paralimpíada de Tóquio (2021) e nos Mundiais de Paris (2023) e Kobe (2024).
Nos 1500m, Yeltsin quebrou os recordes mundial e paralímpico, que já eram dele, obtidos nos Jogos Paralímpicos de Tóquio (2021) [Reprodução/Youtube/Paralympic Games]
Por outro lado, Júlio esteve ligado ao atletismo desde muito jovem. Aos sete anos, competia na modalidade convencional. No entanto, o diagnóstico de ceratocone, uma doença degenerativa na córnea, levou-o a migrar para o paradesporto. Em entrevista ao podcast Fala Parça, o atleta contou que o início de sua carreira não foi fácil. Sem recursos financeiros, ele treinava em um campo de terra batida. Diante das dificuldades, o apoio do avô materno foi crucial para sua persistência.
A obstinação e o foco trouxeram resultados expressivos. O meio-fundista acumula medalhas em Mundiais de Dubai (2019), Paris (2023) e Kobe (2024), além de ter conquistado ouro e bronze nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago (2023).
Júlio planeja criar, junto com sua esposa, um projeto social que incentiva a prática esportiva entre os jovens [Reprodução/Instagram: @correjuliao]
Campanha brasileira no atletismo
A campanha do Brasil nas Paralimpíadas de Paris foi notável, especialmente no atletismo. Com 36 medalhas — 10 ouros, 11 pratas e 15 bronzes — o Brasil se destacou como uma potência no paratletismo.
Destaque para o ouro de Rayane Soares nos 400m T13: a maranhense quebrou um recorde mundial que estava em vigor desde 1995. Em sua segunda participação paralímpica, a atleta também conquistou a medalha de prata nos 100m livre T13 e estabeleceu um novo recorde das Américas. Outra atleta que mostrou a força das mulheres no esporte, Jerusa Geber conquistou duas medalhas de ouro nos 200m e 100m T11. A velocista acumula mais quatro medalhas em paralimpíadas: duas pratas em Londres (2012), um bronze em Pequim (2008) e um bronze em Tóquio (2021).
Rayane Soares se tornou a primeira mulher da categoria a correr abaixo dos 54 segundos [Reprodução/Youtube/ge]
Imagem de capa: [Reprodução/Instagram: @deborablochoficial]