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“Pelos caminhos da Imagem e do Som: Narrando Situações-limite” – Mesa #Olhares

Convidados ilustres contam como reportam situações-limite por meio do fotojornalismo

Qual o impacto do fotojornalismo em situações-limite? Como os profissionais da comunicação reportam toda a importância de um acontecimento em apenas um clique?

Essa pergunta foi respondida no evento “Pelos caminhos da Imagem e do Som: Narrando Situações-limite”, da Jornalismo Júnior, que ocorreu no sábado, dia 20. A primeira mesa #Olhares foi apresentada pela repórter Caroline Kellen e contou com a presença de Andre Liohn, Gabriela Biló e Rafael Ribeiro. 

Liohn começou se apresentando e comentou sobre o estopim para o início de sua carreira de jornalista, na China, há mais de 20 anos atrás. A partir do contato com ambientes de transformação, ele imaginava o poder da fotografia em documentar tais momentos. Liohn se tornou fotojornalista freelancer e passou a cobrir situações de violência e guerra para jornais como Times, nos Estados Unidos, Le Monde, na França, Veja, no Brasil, entre muitos outros.

Biló também contou sobre sua iniciação na fotografia a partir do seu trabalho como pauteira. Foi trabalhando nessa função que entendeu que queria ser fotojornalista, ainda que não fosse muito boa com tal prática no início. Apesar de conhecer as dificuldades no ramo — como as muitas horas de trabalho —, ela acreditava no poder do jornalismo para chamar a atenção e mudar a realidade. Após algum tempo, foi contratada pelo jornal brasileiro Estadão e sua carreira foi marcada por coberturas de manifestações populares, como o dia do um milhão nas ruas, sete de setembro, manifestações pró-impeachment, entre outros.

A fotojornalista ainda falou sobre suas experiências na carreira e destacou a importância da leitura do ambiente, entender aquilo que está sendo fotografado e a força política inclusa na captura do momento. “Eu uso a fotografia para aproximar as pessoas do poder, porque eu acho que o poder está no povo e desmistificá-lo por meio da fotografia é uma ferramenta de transformação”, relata. 

Depois foi a vez de Rafael Ribeiro falar um pouco sobre seu trabalho. Sua carreira é voltada para o esporte, com uma área principal de atuação no futebol. Hoje ele atua no Club de Regatas Vasco da Gama (CR Vasco da Gama) e fotografa todo tipo de modalidade. Sempre teve uma grande paixão pelo futebol e pela fotografia, devido a influências familiares. Trabalhou durante 12 anos na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), começando como estagiário e chegando a cobrir campeonatos mundiais.

Evento sobre fotojornalismo com apresentação de Caroline Kellen e convidados: Rafael Ribeiro, Gabriela Biló e André Liohn. [Créditos: Reprodução/Youtube]

Após as apresentações, os convidados comentaram sobre a seguinte questão: o fotojornalismo precisa ser necessariamente sobre situações-limite? 

Para Liohn, não há paradigmas determinantes para o fotojornalismo, ainda que seja necessário apresentar sentido e valor jornalístico para o público. “A situação-limite não é apenas o que está acontecendo no ambiente, é aquilo que está acontecendo na sociedade em geral, há assuntos que não podemos aceitar que continuem existindo”, comentou o fotojornalista a respeito de situações como racismo e violência. Segundo ele, um dos deveres da profissão é se aproximar de problemas e relatar situações que são crônicas e que não podem mais serem aceitas.

Biló comentou que o papel do jornalista é fiscalizar e denunciar, e a fotografia é uma ferramenta para isso. Segundo a profissional do Estadão, o fotojornalismo pode ser feito em qualquer lugar, desde que tenha conteúdo, narrativa e mostre situações que tenham poder transformador. “O fotojornalismo é sempre voltado ao social: o que é limite e o que não é? Apenas a guerra ou uma mãe empregada doméstica que viaja muitas horas por dia para ganhar R$ 150 reais?”, questiona Biló. 

A próxima pergunta da mesa tratou sobre as diferenças do vídeo e da foto na cobertura jornalística e a contribuição de cada meio para criação de momentos memoráveis. Biló comenta que são linguagens diferentes, e cada uma serve para uma situação, podendo se complementar eventualmente. A foto escolhe uma fração de um segundo e é esse resultado que as pessoas olharão, um elemento congelado. Porém, em outros casos, é necessário registrar mais alguns instantes para gerar potencial transformador. 

Liohn comentou que a fotografia dá a oportunidade de interagir com aquilo que está acontecendo no exato momento. Para ele, a grande essência da profissão é a vontade de estar na hora e no lugar em que a história acontece. “Você participa e vê os atores que estão produzindo a história como testemunha ocular”. Na filmagem, esse testemunho é feito através das lentes de uma câmera e essa sensação gera um distanciamento do que acontece no presente. 

A mesa #Olhares também abordou como conciliar os traumas de uma guerra com uma vida de “paz”. [Créditos: Reprodução/Youtube]

O evento também tratou sobre o trauma ao fazer coberturas de guerras e seus impactos. A questão foi direcionada principalmente para o fotojornalista freelancer, que já cobriu conflitos no Oriente Médio, África Oriental e América do Sul. Liohn comentou que não utiliza a palavra “trauma” para si. Em sua concepção, o trauma pode ser apenas utilizado pelas vítimas, que foram acometidas e reprimidas por um ambiente de violência como as guerras. Ele (assim como soldados que decidem ir para a guerra) não sente trauma, mas remorso e arrependimento. Para ele, o que acontece emocionalmente é que a psique do indivíduo é reforçada por conta das situações vivenciadas.

Nesse contexto, os convidados falaram sobre a separação da vida pessoal e fotografia no meio em que atuam. Para a jornalista do Estadão, é muito difícil desvencilhar, pois a foto é um recorte da realidade que o indivíduo está (vi)vendo. “É o meu olhar que está ali. O máximo que acontece é ter um distanciamento da cena e a impressão que não é real por conta de um visor, mas ainda assim você está muito presente”, relata. Liohn complementou a fala de Biló ao tratar do protagonismo do fotógrafo em seu trabalho e ter o respeito necessário por aquilo que está sendo fotografado. Alguns profissionais se colocam muito na foto, mas é necessário dar espaço para o conteúdo na tela. 

Isso trouxe à tona a pauta sobre a imparcialidade do fotojornalista, a escolha de fotografias e modos de capturar os momentos. Para Ribeiro, é importante procurar estar sempre próximo do torcedor e entender a técnica do jogador. Além disso, estar perto das pessoas mais experientes da profissão, receber dicas e estar atento para novas tendências contribuem para um bom trabalho. Liohn comentou que é essencial ser isento, ainda que seja impossível alcançar a imparcialidade. Biló concordou e acrescentou que, para ela, o fundamental é não ter ‘rabo preso’, e manter seu trabalho como jornalista. 

Ao final do evento, os convidados falaram das expectativas para o ano de 2022, um ano de eleições presidenciais e muitos acontecimentos. O fotógrafo do Vasco está ansioso para o desafio de subir para a série A com o clube e diz que está preparado para atuar dentro e fora do campo, se precisar. 

Liohn se diz preocupado com a política e o rumo que o posicionamento das pessoas estão tomando. Ele relata que o público está cobrando cada vez mais um posicionamento dos jornalistas em se mostrarem militantes e, quando não se manifestam, são atacados. Biló comenta sobre a tamanha polarização nas redes e como essas bolhas devem ser estouradas e estimular o público a não aceitar verdades absolutas. 

Assista a tudo que foi falado na mesa #Olhares neste link do Youtube. Confira também a mesa #Vozes na íntegra por meio deste link

 

 

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