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O emo realmente morreu?

Mais de vinte anos após seu surgimento, o pop-punk conquista espaço nos fones de ouvido da Geração Z

As guitarras fizeram seu retorno ao mainstream em 2020, quando diversos artistas se aventuraram pelo pop-punk, gênero musical há tempos esquecido pela grande mídia. Jovens destaques como Olivia Rodrigo, WILLOW e Yungblud ganharam projeção ao incorporar elementos do rock em suas músicas, muito comparadas aos hinos emo dos anos 2000. Não foi o fator nostalgia, no entanto, que levou tais artistas a revisitar o gênero — todos com menos de 25 anos de idade, eles pouco vivenciaram a época de ouro do pop-punk, que surgiu na Califórnia em meados dos anos 90.

No início, ainda que a influência do punk rock e grunge ficasse aparente em suas faixas marcadas por guitarras e vocais raivosos, o pop-punk se diferenciava de seus antecessores ao tratar de temas pessoais e introspectivos em suas composições, que possuíam grande carga emocional. Segundo a jornalista Beatriz Vaccari, repórter no portal ROCKNBOLD, “o pop-punk surgiu como um rock adolescente, vindo de jovens que não queriam falar sobre política ou problemas sociais, mas sim sobre a primeira frustração amorosa, não querer ir pra escola ou estar revoltado com os pais”.

Show da banda californiana Blink-182, uma das precursoras do pop-punk, em 1995 [Imagem: Reprodução/Flickr/Kerry Key]
Show da banda californiana Blink-182, uma das precursoras do pop-punk, em 1995 [Imagem: Reprodução/Flickr/Kerry Key]
Como resultado, o gênero conquistou grande popularidade entre o público jovem e passou a dominar as rádios no início dos anos 2000. A exposição gerada por grandes emissoras de televisão, como a MTV, e festivais dedicados ao pop-punk — sendo o mais célebre deles a Vans Warped Tour, que teve início em 1995 — revelou uma leva de artistas que dariam forma à cultura adolescente do novo milênio. Bandas como My Chemical Romance, Fall Out Boy, All Time Low e Paramore popularizaram o movimento emo, uma subcultura que, além da música, apresentava estética e atitude próprias: roupas pretas e listradas, cabelos coloridos e franjas longas se misturavam com a típica melancolia e frustração adolescente. Para Maria Dias, estudante do ensino médio, “o pop-punk criou uma comunidade, permitiu que pessoas excluídas se identificassem com algo e se juntassem”.

A partir de 2010, no entanto, artistas se distanciaram cada vez mais do estilo e assumiram sonoridades diferentes em suas músicas. O amadurecimento em suas composições também foi algo perceptível: não é possível falar de temas adolescentes para sempre, afinal, a juventude passa. A perda da relevância comercial do gênero, todavia, não fez com que ele caísse no esquecimento. “O pop-punk se tornou underground no fim dos anos 2000. Na época, o surgimento das plataformas de streaming permitiu um crescimento muito grande de bandas independentes. O gênero nunca perdeu relevância entre o público em si, só deixou de tocar nas rádios e acabou concentrado em outro lugar”, afirma Beatriz.

Platéia do festival Vans Warped Tour em 2011 [Imagem: Reprodução/Flickr/Eric May]
Platéia do festival Vans Warped Tour em 2011 [Imagem: Reprodução/Flickr/Eric May]
Mesmo após deixar o mainstream, o pop-punk continuou a inspirar novos músicos. Nos últimos anos, uma onda crescente de artistas do hip hop passaram a incorporar guitarras e outros elementos líricos do estilo a suas músicas, o que deu origem a um subgênero conhecido como “emo rap”.

Nas faixas do falecido rapper Lil Peep, por exemplo, a influência de grandes nomes do pop-punk fica evidente entre as batidas lentas de trap. O jovem artista listava como inspirações as bandas My Chemical Romance, Blink-182 e Fall Out Boy, com a qual chegou a colaborar na faixa I’ve Been Waiting, lançada postumamente. Além dele, outros rappers como Lil Xan e os também falecidos Juice WRLD e XXXTentacion levaram suas músicas recheadas de influências do pop-punk às paradas musicais.

As redes sociais também foram responsáveis por impulsionar o retorno da popularidade do gênero. Recentemente, diversas faixas antigas de pop-punk ressurgiram no TikTok — como Dear Maria, Count Me In, hit de 2007 do All Time Low que retornou às paradas após viralizar na plataforma —, e o interesse do público jovem abriu espaço para que novos artistas explorassem o estilo musical. 

É o caso de WILLOW, que recentemente colaborou com Travis Barker, bateirista do Blink-182, na explosiva faixa transparent soul; Olivia Rodrigo, que surpreendeu os fãs com good 4 u, música carregada de guitarras distorcidas; Machine Gun Kelly; MOD SUN; Lil Huddy e Yungblud, outros nomes de destaque que incorporam a estética e sonoridade do pop-punk.

Show de Yungblud, cantor britânico do pop-punk, em 2018 [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Stefan Brending]
Show de Yungblud, cantor britânico do pop-punk, em 2018 [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Stefan Brending]
Para Beatriz, tais artistas não estão revivendo o pop-punk em si, mas utilizam alguns de seus elementos para criar algo novo. “Da mesma forma que o gênero se dividiu entre bandas old school e underground no início dos anos 2010, essa nova geração está criando uma nova vertente, um pop-punk revival”, afirma a jornalista. Essas mudanças, portanto, seriam uma face da progressão natural da música —  assim como as primeiras bandas de pop-punk nos anos 90 se inspiraram no punk rock clássico para criar algo inédito, a nova geração de artistas na década de 2020 incorpora elementos do antigo pop-punk para formar uma sonoridade nova. 

As diferenças no pop-punk atual vão desde a maturidade na técnica, proporcionada pelos avanços da tecnologia que permitem um aumento na qualidade da mixagem e masterização do áudio, até a abertura do gênero para a diversidade. Enquanto no início dos anos 2000 o estilo era dominado por homens cis e brancos, com poucas exceções de sucesso, o cenário atual permite que outros grupos também conquistem espaço. “Agora eu vejo muito mais bandas formadas por mulheres não só no pop punk, mas também em outros gêneros. E eu fico muito feliz de ver mais mulheres nessa cena, mas eu ainda não vejo tantas bandas com integrantes negros, por exemplo”, afirma Beatriz. É um início, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Meet Me @ The Altar, banda americana de pop-punk formada apenas por mulheres, traz o empoderamento feminino como tema chave em suas composições [Imagem: Reprodução/Instagram/@MMATAband].
Meet Me @ The Altar, banda americana de pop-punk formada apenas por mulheres, traz o empoderamento feminino como tema chave em suas composições [Imagem: Reprodução/Instagram/@MMATAband].
Beatriz conclui que, a longo prazo, é improvável que o estilo perca sua relevância. “Eu acho que o pop-punk nunca vai morrer. Do mesmo jeito que bandas antigas inspiraram os artistas atuais, no futuro, outras pessoas vão conhecer o gênero e trazer elementos dele para a sonoridade de suas músicas. E assim o pop-punk continua, revive, como um ciclo. Ele pode até sair do mainstream às vezes, mas acho muito difícil que ele acabe”, conta. A efemeridade do gênero, que renova seus artistas e público conforme o amadurecimento dos anteriores, é o que permite sua constante reinvenção. 

“O pop-punk nunca sumiu e nunca vai sumir. Até mesmo depois que os consumidores de hoje passem a se interessar por outros estilos musicais, ele sempre vai continuar ali. Vêm os trabalhos de algum artista novo e eles trazem a sensação de ter 13 anos novamente”, completa Maria. Afinal, desde sua origem, o pop-punk serviu como base para a auto-expressão da juventude, perfeita cápsula das intensas emoções dessa fase com suas guitarras altas e letras melodramáticas. E a juventude sempre terá o que falar, não importa a época.

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