O que é o sonho de uma vida? O que ele vale? Quando sabemos o rumo que devemos tomar? Quais são as consequências de uma decisão? A grande maioria das pessoas passa por esses questionamentos em algum momento e nem sempre é fácil encontrar as respostas. Em Primeiro Ano (Première année, 2019) acompanhamos o crescimento de Benjamin (William Lebghil) e seus conflitos internos e externos, enquanto ele estuda para o tão concorrido curso de medicina.
A primeira coisa que precisa ser entendida é que na França os cursos de ciências médicas (farmácia, odontologia, fisioterapia e obstetrícia) são divididos de forma diferente. São três ciclos e ao final do primeiro, com duração de um ano, os estudantes passam por testes. Seu desempenho nesses concursos permite a eles a escolha de profissão. Essa diferença deixa a sensação de que na verdade os estudantes estão em cursinhos pré-vestibulares e isso pode ser meio confuso para o telespectador.
Benjamin começa como um estudante que não se dedica e não parece entender muito bem o que está fazendo ali. Enquanto a maioria dos alunos se matam de tanto estudar, o personagem principal está mais preocupado com seus games. No entanto, ele começa uma amizade com Antoine (Vincent Lacoste), que repete pela terceira vez o primeiro ano de medicina.
A relação entre os dois é muito bem construída e prende a atenção do início ao fim, arrancando lágrimas dos mais emotivos ao final da sessão. Cheia de altos e baixos, a amizade deles mostra que mesmo em um mundo tão competitivo, no qual conseguir uma vaga vale mais que a saúde mental e relações humanas, eles provam que é sim possível encontrar alguém com quem se possa contar em todos os momentos.
A pressão sobre os mais jovens é muito bem retratada também. É nítido o quanto eles sofrem por não ter uma vida social e, a grande maioria, sofrer distúrbios emocionais devido às grandes expectativas e a dedicação intensa. O longa mostra que é preciso parar e se cuidar: ou você faz isso por conta própria ou seu corpo fará isso. Além disso, fica claro a necessidade de se cercar de pessoas que querem seu bem.
Trilha sonora é algo muito pontual no filme, mas com um enredo tão envolvente e marcante nem chega a fazer falta. É arrepiante ver as diferenças entre as várias fases de um profissional de medicina. Benjamin representa aqueles que estão tentando pela primeira vez e que parecem ter escolhido o curso por pressão social, não por paixão. Antoine é a caricatura dos que, apesar de terem nascido para algo, precisam de inúmeras tentativas para alcançá-lo, o irmão do protagonista aquele que está no meio do caminho e seu pai aquele que chegou lá, mas continua precisando abdicar parte de sua vida pessoal.
O longa faz refletir. Por que fazemos o que fazemos? É isso mesmo o que queremos? Amizade é mais importante que uma vaga em um curso? Há momento certo para decidir uma profissão para o resto da vida? Quem se aventura a assistir essa obra prima pode se surpreender com as diferentes respostas encontradas e as múltiplas reflexões trazidas.
Primeiro Ano estreia no dia 28 de fevereiro e vale cada segundo dentro da sala de cinema. Assista aqui o trailer:
por Thaislane Xavier
thaislanexavier@usp.br