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Quase Memória vem nos relembrar da força de Ruy Guerra

Passados dois anos e meio de sua estreia no Festival do Rio, Quase Memória (2018) volta às grandes telas. O diretor autoral Ruy Guerra  ‒ de Os Fuzis (1964) e Os Cafajestes (1962) ‒, afastado do circuito há 12 anos, retorna com uma adaptação do best-seller de Carlos Heitor Cony, a qual leva o mesmo …

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Passados dois anos e meio de sua estreia no Festival do Rio, Quase Memória (2018) volta às grandes telas. O diretor autoral Ruy Guerra  ‒ de Os Fuzis (1964) e Os Cafajestes (1962) ‒, afastado do circuito há 12 anos, retorna com uma adaptação do best-seller de Carlos Heitor Cony, a qual leva o mesmo nome do livro, e nos apresenta uma forte e bela discussão sobre a formação da memória, dando devido lugar a importância das narrativas, além da força de sentimentos como a saudade, no desenvolvimento desse processo.

Tudo se inicia com o anúncio de um sapo (Ruy Guerra), que promete ao público a história de um homem que tem a sua memória obscura como um pântano, o qual aparece em tela. O filme desenvolve-se através do diálogo de Carlos consigo mesmo. Entretanto, são dois personagens diferentes: o Carlos de 1968 (Charles Fricks) e o Carlos de 1994 (Tony Ramos). Reunidos na sala de sua própria casa acabam surpreendidos por um envelope, que logo percebem ser de seu pai, Ernesto (João Miguel), o que cria uma dúvida para ambos os Carlos, abrir ou não o embrulho.

Ambos os carlos admiram o balão (Imagem: Divulgação)

Essa dúvida começa a despertar várias memórias em Carlos, compartilhadas entre sua versão futura e sua versão pretérita,  que logo notam sutis diferenças em como lembravam da figura de seu pai. A partir desta deixa, aparecem amigos de Ernesto que, compartilhando algumas de suas memórias, ajudam Carlos a lembrar e reformular a imagem de seu pai, dando início a parte mais viva e alegre do filme. Ruy Guerra, todavia, nunca deixa de nos lembrar que a memória depende de quem a  tem e da intenção de quem a narra, por meio de um Carlos surpreso com algumas das facetas de Ernesto.

Neste enredo, mais ao passado, aparece também Maria (Mariana Ximenes), a mãe de Carlos, que apesar de um personagem importante na vida deste, sendo chave de alguns dos momentos mais emocionais do filme, acaba por sumir perante as afetações e ambições de Ernesto, o que acaba por ser mais um belo toque na cuidadosa ambientação histórica do filme.

Os pais de Carlos aflitos com o desastre de uma das empreitadas de Ernesto (Divulgação)

Juntando todas essas memórias, Ruy Guerra constrói uma bela história, com toques de realismo fantástico, bonitas imagens poéticas e detalhes históricos precisos. Apesar de sua beleza, a narrativa se arrasta e se confunde ocasionalmente, seja devido a confusão dos próprios personagens ao expor suas memórias, seja devido ao baixo orçamento, que impossibilitou a produção de algumas das cenas mais impactantes escritas no livro. O magistral enquadramento, o preciso movimento das câmeras, a excelente ambientação, o belo jogo de luzes e cores e as boas atuações seguram as pontas, no entanto, nas partes em que o filme tende  à inércia.

Ruy Guerra, portanto, é muito bem sucedido ao adaptar o ótimo romance jornalístico de Carlos Heitor Cony, em uma excelente reflexão sobre a memória, discussões relevantes, repleta de poesia e silêncios que nos proporcionam autoconhecimento. Acaba, também, nos atentando a detalhes importantes em tempos difíceis, como o papel do jornalista na construção da memória.

 

Quase Memória estreia dia 19 de abril nos cinemas. Assista ao trailer abaixo:

por Pedro Teixeira
pedro.st.gyn@gmail.com

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