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Netflix: A realidade assustadora em ‘Rede de Ódio’

Há aproximadamente 3 semanas, o Facebook derrubou uma série de perfis envolvidos em uma rede de disseminação de discursos de ódio e desinformação, pertencentes a apoiadores do Governo Bolsonaro. Gabinetes do Ódio não são exclusividade brasileira e alguns permeiam secretamente no universo cibernético, sem que tenha uma Comissão Parlamentar de Inquérito, uma investigação do Poder …

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Há aproximadamente 3 semanas, o Facebook derrubou uma série de perfis envolvidos em uma rede de disseminação de discursos de ódio e desinformação, pertencentes a apoiadores do Governo Bolsonaro. Gabinetes do Ódio não são exclusividade brasileira e alguns permeiam secretamente no universo cibernético, sem que tenha uma Comissão Parlamentar de Inquérito, uma investigação do Poder Legislativo, para combatê-los. A nova tendência, que envolve grandes financiamentos privados, faz parte de uma reformulação distorcida do debate político virtual. Nesse pretexto, a arte imita a vida.

Em uma viagem ao cenário virtual europeu, o novo filme do diretor polonês Jan Komasa, premiado internacionalmente por Corpus Christi (Corpus Christi, 2019), aborda os desdobramentos dramáticos do ódio das redes sociais. Em Rede de Ódio (Sala samobójców. Hejter, 2020), após o jovem polonês Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) ser expulso da faculdade de Direito por plágio, uma empresa especializada na proliferação de discursos de ódio o contrata por conta de suas habilidades em moderar redes sociais. Em segundo plano, ele tenta se aproximar do casal Krasucka, velhos amigos de sua família, por conta de uma paixão obsessiva pela filha deles, Gabi (Vanessa Aleksander).

O longa é a continuação indireta de outro filme do diretor, Suicide Room (Sala samobójców, 2011), que também aborda desdobramentos reais da vida virtual. Na verdade, o novo filme demonstra que não é possível uma divisão. Saindo da temática da aceitação e do suicídio de Suicide Room, que apresentava tons mais psicológicos, nesta nova obra, Jan nos apresenta um lado mais palpável, cru e visível da internet: a transformação do espaço político virtual pela indústria do ódio na Europa, se encaixando na crescente do extremo conservadorismo.

Elementos vistos em Suicide Room, como a fotografia de luz fria e pálida e a tentativa de encaixar o tema com jogos online, continuam presentes na sequência proposta. No entanto, enquanto a fotografia evoluiu consideravelmente, com a adoção mais presente da luz dos monitores em contraste com o olhar semi-morto do protagonista, a presença do jogo online como forma de comunicação secreta quebra o ritmo da realidade que ainda está tentando se estabelecer no roteiro. Aproveitando este ponto rítmico, a estrutura do longa peca justamente na condução de seus primeiros dois atos.

A transformação de Tomasz. [Imagem: Reprodução/Netflix]
Em uma divisão de três atos para esta análise, a escalada dramática até o terceiro é prejudicada pela condução da atuação de Maciej. O filme poderia ser lembrado pelo estudo de personagem que faz de Tomasz nesse contexto real, que vai apodrecendo com o poder a cada passo dado no submundo. No entanto, o desenvolvimento da história opta por uma transformação rápida e não gradual.

É preocupante, a partir do momento que acompanha-se o ator a maior parte da obra e ele só parece ganhar magicamente protagonismo e expressão no terceiro ato. Ao final, pelo menos a vergonha alheia é substituída por um cinismo assustador impulsionado pelo roteiro.

A narrativa passa um tom preciso da realidade. Ao inspirar-se em um caso real, em que as manifestações de um grupo online de ódio culminou no assassinato de um prefeito polonês, ela se encaixa ainda mais no cenário proposto. É interessante observar o fato de que o crescimento dessas manifestações é a variante necessária para formar figuras públicas que se embebedam no extremismo. O roteiro aborda acertadamente o nascimento deste tipo por meio da manipulação de discursos polarizantes, destacados por uma indústria obscura que fornece o palco a esses indivíduos.

É o ápice do ódio construído, batendo a porta de um gabinete político. A desumanização étnica já foi estabelecida e adotada, grupos extremistas tomam as ruas em maioria e um indivíduo que promete a salvação da moral cristã expressa fisicamente sua violência. Calma, por mais que não pareça, ainda estamos falando do filme, mais especificamente de seu terceiro ato. Neste ponto, após passar por dois lentos atos, os elementos da direção e da narrativa convergem para um nó na garganta, com um tom cínico sufocante.

No clímax, o ambiente se estabelece junto a sua trilha sonora de música clássica. A direção é calma, em contraste com a velocidade de disparo de uma arma. A edição de som é quase um personagem, aumentando o som do perigo eminente a cada segundo no silêncio. Então, a música clássica que retorna no ápice da cena exerce um tom de fechamento, já que foi interrompida no começo da ação. Há uma sincronia com a narrativa, no ponto alto de sua mensagem: o ódio semeado pode tomar rumos inimagináveis e incontroláveis.

Rede de Ódio pode ser interpretado como um retrato atual implantado em um drama, com tons quase documentais. É uma narrativa envolvente pautada em um protagonista que demora a escalonar junto a ela, o que transparece uma diferença rítmica que incomoda.

No geral, essa imitação da vida pela arte ajuda a esclarecer os principais problemas comunicacionais atuais, com um desfecho que já pode ser visto nos jornais. A câmera continuando ao fim do enredo expressa a continuidade pessimista e cínica, mas real, dos discursos de ódio.

O longa já está disponível na Netflix, confira o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=8vtU1Oikx84

*Capa (Imagem: Divulgação/Netflix)

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