Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

‘De Volta aos 15’: nostalgia aos primórdios da internet

Estreia da Netflix reúne grandes nomes da dramaturgia nacional em adaptação literária infantojuvenil

O que você faria se tivesse a oportunidade de voltar à adolescência? E se, nessa inusitada chance, você conseguisse mudar o futuro? 

Em De Volta aos 15 (2022), Anita (Maísa e Camila Queiroz), com seus 30 anos, viaja para o passado ao logar em sua antiga rede social, o Floguinho, e descobre que sua realidade — não tão glamurosa quanto a que desejo em ter quando mais jovem — pode ser mudada, assim como a de seus amigos, pelas decisões tomadas aos 15 anos. 

O drama da protagonista é iniciado com uma visita a sua cidade natal, Leopoldina, para o casamento de sua irmã, Luiza. Seguindo o estereótipo de personagem principal, Anita tem um dom para causar confusão e, após reencontrar velhos amigos, ela encontra no Floguinho um alento para o coração que não sabe em quais decisões errou para que ela se encontrasse nessa atual situação: distante dos amigos, da família, e com uma vida complicada em São Paulo.

 

Uma garota branca de cabelos cacheados e blusa xadrez, a protagonista de De Volta aos 15, está centralizada na imagem, com jovens vestindo roupas coloridas ao seu redor. Em primeiro plano, dois deles, um homem branco de cabelos cacheados, de blusa azul e mochila, e uma garota branca de cabelos cacheados vestindo verde, ambos de costas. Ao lado da protagonista, um menino negro de jaqueta jeans azul.
Anita, em seu primeiro dia de aula, ao voltar ao passado, revivendo o trote com os colegas de classe. [Imagem: Reprodução/Trailer/Youtube/Netflix]

Com uma premissa que lembra muito o icônico filme De Repente 30 (2004), a série, inspirada no livro Depois dos Quinze (Editora Gutenberg, 2012) da blogueira Bruna Vieira, promete uma viagem nostálgica e divertida aos primórdios da internet, com direito a playlists típicas de 2006 — ano em que se passa a história da Anita jovem — e comunidades de antigas redes sociais. 

Ao longo dos episódios, porém, a dinâmica entre passado e presente, que no início é cômica e leve, torna-se confusa ao ponto do espectador se esquecer de quais atitudes foram responsáveis na promoção da nova realidade criada. Além disso, não demora muito para que tais viagens tornem-se cansativas, repetitivas e até mesmo banais, uma vez que não há nada de especial na protagonista para que ela viaje entre passado e futuro, basta, apenas, que ela se conecte ao Floguinho. O questionamento que fica é: se o Floguinho é o meio de tudo, porque não houve outros viajantes no tempo? Ou houveram? 

Os sete jovens protagonistas de De Volta aos 15 estão apoiados em um banco em um fundo de uma construção bege. As três garotas estão uma ao lado da outra, as três brancas e a do meio de cabelos cacheados, enquanto os das outras é liso. Os garotos são, os dois sentados no chao e o ao lado das garotas brancos, e o em pé negro. Todos usam roupas coloridas e fazem cara de entediados.
O elenco jovem reunido na antiga escola de Anita. Da direita para a esquerda: Luiza (Amanda Azevedo), Joel (Antonio Carrara), Leonardo (Pedro Ottoni), Anita, Carol (Klara Castanho), Fabrício (João Guilherme) e Eduardo (Gabriel Wiedemann). [Imagem: Reprodução/Instagram/@devoltaaosquinze]
Outro ponto que agrava tal percepção negativa sobre as idas e vindas é quanto à prepotência de Anita em querer consertar a vida dos seus amigos. Seguindo o clichê ficcional de personagens que querem ser heroínas, especialmente pelo privilégio dela em saber qual  o futuro das pessoas, a protagonista insiste em não só reajustar sua própria vida, mas também das pessoas ao seu redor. Contudo, ela lida com superioridade, como no momento em que ela assegura a Joel (Gabriel Stauffer), um de seus colegas adolescentes, que ele não será ninguém na vida.

Além disso, as decisões de Anita no passado, por vezes, são trabalhadas de forma que tendem a chamar mais atenção para os sentimentos da protagonista do que para o ocorrido, não cabendo no contexto dos diálogos e, principalmente, no tempo em que eles ocorrem. Um exemplo disso é quando o personagem César (Pedro Vinícius) sofre homofobia e Anita contra-ataca o agressor apenas com frases de efeito que condizem com a atualidade, afirmando que ele poderá ser preso por homofobia no futuro — palavra que, por sinal, era desconhecida na época. Nesse caso, um diálogo explicativo poderia surtir efeito não só no agressor, mas também nos presentes da cena.

 

Há três mulheres em um fundo verde claro com nuvens. A da esquerda está em pé, é branca de cabelos cacheados e sorri com a cabeça deitada para a direita, usando um vestido prata. A do centro, branca e ruiva de cabelos cacheados, tampa metade do rosto com a mão esquerda e usa uma blusa branca de mangas compridas. Ela está embaixo das outras. A da direita, mais jovem, é branca de cabelos pretos e cacheados, como a primeira, e sorri de boca fechada usando uma camisa xadrez por cima de uma blusa preta com uma estampa.
A criadora das personagens, Bruna Vieira, entre as atrizes que deram vida a Anita, Camila Queiroz e Maísa. [Imagem: Reprodução/Instagram/@brunavieira]

É importante lembrar que Anita jovem vive em 2006, época em que bullying e preconceitos não eram tratados com tanta seriedade; logo, a maneira com que ela lida com tais situações são muito mais para defesa própria do que para ensinar àquelas pessoas o porquê da ação ou da fala não ser correta; lembrando que, no passado, Anita mantém sua mentalidade e consciência dos 30 anos. Atualmente, com uma maior divulgação das informações através dos meios digitais, existe uma maior conscientização acerca desse tópico que não existia naquela época.

A exceção principal, aqui, é o arco do personagem César,  futuramente Camila (Alice Marcone), a qual atuou também como roteirista da série produzida pela Netflix. O desenvolvimento desse personagem é feito com muito cuidado e leveza, ganhando notoriedade e não sendo completamente deixado à mercê de Anita, como acontece com outros personagens que tinham um potencial grande. Por ser muito focado nas questões pessoais da protagonista, o enredo deixa a desejar no quesito profundidade, como é possível observar ao analisar o desfecho — não — dado a Luiza: no início da série, é o casamento dela com o namorado da juventude que reúne Anita a Leopoldina, e, no final, a realidade da irmã é completamente diferente. Mesmo assim, não é dado muito espaço para entender o que aconteceu com ela e usar a incerteza de uma segunda temporada, que poderia destinar alguns momentos para tal explicação, é muito arriscado. A sensação que domina o telespectador é a de que, com a vida de Anita resolvida, não há necessidade de dialogar sobre as que ela alterou, mesmo que tenha sido uma mudança drástica. 

 

 

Em suma, é inegável que o último episódio foi o mais bem elaborado, pois reúne tanto um futuro aguardado quanto um romance merecido, embora ainda deixe o espectador confuso quanto a quem os produtores gostariam de fechar como par romântico de Anita. Ambientado em Paris, as cenas românticas de Anita alternam entre o presente e o passado e, por mais que, durante a série, tais trocas sejam cansativas, neste momento específico, é algo que encaixa bem, em especial por serem momentos que o casal, na juventude, já sonhava em vivenciar. 

A expectativa para uma segunda temporada é quebrada pela continuação do looping entre os dois tempos quando [SPOILER ALERT] outro personagem consegue acessar o Floguinho de Anita e também viaja para o passado. Ou seja, caso haja uma continuação, ela aparentemente apenas continuará com o mesmo estilo da primeira temporada, o que pode desanimar aqueles que gostariam de uma maior movimentação geral. 

*Imagem de capa: Reprodução/Instagram/@netflix

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima