Fé no Inferno é uma ficção publicada em 2020 pela Companhia das Letras, que fala sobre o genocídio armênio, promovido pelo Império Turco-Otomano, atual Turquia; e o preconceito no Brasil. O livro faz comparações entre as perseguições sofridas pelos armênios na Primeira Guerra Mundial e as sofridas por milhões de brasileiros atualmente.
Santiago Nazarian narra a história de dois personagens em paralelo, que a princípio aparentam não ter nada em comum: Seu Domingos, um “sobrevivente” do genocídio armênio que foi deportado para o Brasil em 1921, e Cláudio, um cuidador de idosos de origem indígena e homossexual. O segundo é contratado para cuidar do armênio, que já tem mais de 100 anos, e a partir disso o leitor percebe as semelhanças entre as duas histórias.
É comum do ser humano olhar o passado e pensar que evoluiu, melhorou, está um passo à frente. Entretanto, muitas vezes as dificuldades e preconceitos perduram de maneira modificada, o que faz com que não se perceba essa estrutura. O livro cria paralelos e explicita como a sociedade atual pode ser tão problemática quanto era há um século atrás.
Fé no Inferno aborda xenofobia e preconceito religioso quando trata do genocídio armênio; e violência policial, abuso infantil e racismo, ao se referir à sociedade brasileira atual. O livro é uma crítica a todos esses tipos de violência que aconteceram de modo velado em 1914 (a Turquia nunca reconheceu o genocídio) e perpetuam-se da mesma forma até os dias de hoje.
Alguns trechos do livro podem ser intrigantes e incomodar, por trazerem descrições muito explícitas. Porém, o incômodo acontece justamente por conta de a violência ser sempre mascarada e velada na sociedade. A intriga gerada no leitor é necessária para que se inicie um processo de reflexão.
Fé no Inferno, apesar de tratar de temas pesados, instiga e prende o leitor com uma narrativa bem amarrada. A leitura não é cansativa, pois o livro acontece de maneira rápida e a todo momento traz reviravoltas. Um livro relevante e ao mesmo tempo viciante.