Por Amanda Manara
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Confia em mim. Essa é a frase que rege o filme brasileiro que estreará na próxima quinta-feira (10/04). O longa que carrega essa frase como nome, é um suspense psicológico sobre confiança em si mesmo e nos outros. A trama envolve traições, descobertas, sentimentos, vingança, ao mesmo tempo que retrata a frieza de um homem golpista e a determinação de uma vítima.
Esse homem é Caio (Mateus Solano), que se envolve com Mari (Fernanda Machado), uma talentosa chefe de cozinha, que é oprimida e subestimada no seu trabalho. Se aproveitando da situação (e da insegurança de Mari), Caio sugere que ela abra seu próprio restaurante. A princípio, ela revela que esse sempre foi seu sonho, mas não conseguia realizá-lo porque não tinha dinheiro. Mesmo tendo uma mãe rica, esta nunca acreditou no trabalho da filha, e nunca quis que ela fosse chef, por isso não emprestaria o dinheiro. Com o passar do tempo, e ganhando cada vez mais a confiança de Mari, Caio a convence a tentar pedir o dinheiro a sua mãe. Com tudo já planejado, inclusive o local do restaurante, só faltaria o dinheiro para ela começar o próprio negócio. Mari consegue o dinheiro com a mãe, mas deixa para que Caio resolva a compra da casa. E é aí que ele some com o dinheiro, com a desculpa que vai a um congresso de trabalho em Recife. Nesse momento, toda a insegurança de Mari se transforma em determinação para encontrar Caio onde quer que fosse e recuperar seu dinheiro.
O diretor, Michel Thikomiroff explora muito bem essas questões internas. Mari, apesar de ser talentosa, sempre foi subestimada no trabalho, e até pela própria família. À sombra da irmã bem sucedida, ela não conseguia obter o próprio sucesso, que fizesse com que sua mãe acreditasse em seu talento. Isso a deixava insegura, inclusive pra perceber que as represálias de seu chefe não passavam de inveja por ela ser melhor que ele na cozinha. “Ela não ser bem resolvida com a família é o que gera a insegurança. Uma menina tão talentosa, poderia ser mais confiante. Essas subtramas sustentam o lado emocional da Mari.”, revela Fernanda Machado, que interpreta a mocinha, em entrevista coletiva. No entanto, com a chegada de Caio, Mari passou a acreditar mais em si mesma, o que fez com que até concordasse em abrir o próprio restaurante. Como afirma o diretor, “A ironia é que quem dá a força pra Mari é o próprio Caio. Ele deu a arma com a qual ela acaba apunhalando ele”, uma vez que a confiança ganha se transforma em determinação para vingança após o golpe. “É interessante como o Caio foi ruim, mas foi bom pra Mari ao mesmo tempo. Ele é daquelas pedras no caminho que ensinam a não cair de novo”, conta Mateus Solano.
No filme ainda é retratado o descaso com a polícia em casos como esse, em que não há provas, o golpista era o próprio namorado da vítima, etc. Porém, na delegacia, um investigador escuta a queixa e decide ajudar a encontrá-lo. Não demora a descobrir que outra vítima está prestes a ser feita, a diretora financeira do Jockey Clube, que também acredita ter achado o homem da sua vida. É com a ajuda desse investigador que se inicia um jogo de atuações de ambas as partes. Caio volta a procurar Mari, tentando convencê-la que tudo não passou de um mal-entendido. Esta finge acreditar e perdoar. Os dois lados passam a ser incógnitas, que só vão ser reveladas um ao outro no fim. Durante a trama, o golpista até parece mesmo se redimir, mas o diretor afirma que não teria a menor chance disso ocorrer. “Esse tipo de personagem, com essa incapacidade de sentir culpa, age conforme as necessidades, é quase impossível se redimir”
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A escolha de desenvolver o filme sob a ótica da vítima veio desde o início. Uma conhecida de Michel tinha sofrido um golpe parecido, então ele tinha todas as informações necessárias de início. Além disso, a ideia era ajudar a introduzir um novo gênero de filme brasileiro àqueles que estão acostumados com as comédias nacionais. “Eu quis contar uma história que eu achasse relevante e que as pessoas acompanhassem a jornada da Mari, uma pessoa inteligente e talentosa que se envolve com um cara e acaba sofrendo um golpe. Eu fiquei meio chocado com a quantidade de pessoas que se identificaram”, conta o diretor.
A produção foi inteiramente filmada no polo cinematográfico de Paulínia, em 2 meses. Primeiro todas as cenas foram ensaiadas, enquanto os workshops eram feitos. Fernanda teve aulas com chefes profissionais para viver a Mari. “Esse é o grande encanto do cinema, essa magia de você esquecer um pouco de você e se misturar com o personagem. Foram 2 meses de muita Mari.”, conta a atriz. Já Mateus Solano afirma que não fez laboratório. “Não precisava porque o que o Caio faz é o que eu faço, enganar as pessoas.” Mas ele conta que foi muito legal a experiência com a culinária, que ele também acompanhou de perto. “Tinha um diretor de teatro que fazia muito essa relação entre culinária e atuação. Você pode cozinhar o mesmo prato todo dia, mas nunca vai ser o mesmo. Vai depender de como o cozinheiro está, assim como o espectador.”
Confia em mim foi cuidadosamente preparado, desde o roteiro, até as filmagens. Os ensaios contribuíram pra que as cenas saíssem as melhores possíveis, com atuações impecáveis. Mateus Solano conta que fazer isso no cinema é “muito raro e muito precioso”. “Eu estou louco pra ver como será a reação do público. Eu acho que eles vão gostar”. E aí, você confia nele?