As Olimpíadas são palco de celebração do esporte, seja este com ou sem bola, seja na água ou na terra. Para os brasileiros é também um fundamental momento de união em uma época tão marcada pela polarização. Ontem, Darlan Romani, na final do arremesso de peso, protagonizou mais um momento de se dar orgulho de ser brasileiro. Não pela popularidade do esporte, não pela conquista de medalha, mas sim por chegar lá e, simplesmente, nos representar.
Catarinense de 140kg e 1,88m, Darlan deu seus primeiros passos na modalidade em 2010, quando deixou Concórdia rumo a Uberlândia, Minas Gerais, atrás de patrocinadores e de seu sonho de se tornar um atleta. Hoje, aos 30 anos, já se consagrou como o maior nome sul-americano da história do esporte, superando o antigo recorde brasileiro em quase quatro metros.
Sua caminhada ganhou reconhecimento nas Olimpíadas do Rio, em 2016, quando alcançou 21,02m no arremesso final e terminou na quinta colocação e a melhor posição de um brasileiro. Antes disso, já havia sido campeão do sul-americano sub-23 (2012) e dos Jogos Mundiais Militares (2015), além do sexto lugar nos Jogos Pan-americanos de 2015. Desde então, foi eleito atleta do ano no atletismo brasileiro em 2018 e 2019 e melhorou suas performances até alcançar 22,61m em 2019, seu recorde pessoal. Contudo, um vilão maior que ele apareceu nesse caminho de sucesso: a pandemia.
Esses três arremessos históricos — e que estabeleceram recordes da competição — saíram na última rodada da final, em sequência, tirando assim a vaga de Darlan no pódio. O quarto lugar não é novo, mas ficou ainda mais escancarado na final olímpica.
Crouser, Kovacs e Walsh repetiram, nessa ordem, o pódio da última noite, com Darlan novamente na sequência. Não é motivo de espanto: são arremessadores de elite e recordistas da prova. Mas eles tiveram condições totais para continuar no topo, com treinamentos em centros profissionais e modernos, equipados para atender às suas demandas. A realidade do brasileiro na pandemia era totalmente oposta.
Atleta do Pinheiros, Darlan não tem centro de treinamento para treinar desde o início da pandemia, em 2020. A solução foi um terreno baldio ao lado de sua casa, sem os equipamentos apropriados. Em dezembro do ano passado, o seu treinador cubano Justo Navarro foi passar o natal em família em Cuba, e não conseguiu retornar ao Brasil para acompanhar a preparação por conta de problemas na frequência de voos internacionais.
Darlan Romani 🏅 pic.twitter.com/vHz67THnpX
— Marcel Merguizo (@marcelmerguizo) August 5, 2021
Nesse cenário de caos, vieram mais notícias ruins: em fevereiro de 2021, Darlan recebeu o diagnóstico de hérnia de disco, problema esse causado pelas más condições de treinamento. Ele teve que se afastar por 45 dias para reabilitação. Quando retornava, precisou viajar a Concórdia para acompanhar sua família acometida pela Covid-19. O irmão, com 80% do pulmão comprometido, e a mãe foram para a UTI. Darlan também foi infectado e perdeu 10kg durante a quarentena obrigatória.
Ainda assim o levantador de peso, chegou a Tóquio. Sua marca de 21,88m foi suficiente para o quarto lugar, assim como naquele Mundial de 2019. Darlan não terminava competições internacionais abaixo dos 22m desde 2018.
Ele aproveitou o momento para homenagear a filha no seu singelo coração com os dedos, parabenizar a mulher após a classificatória e agradecer à sua nação pela torcida, com uma mensagem: “Se eu dava 200, agora vou dar 300%. Obrigado, Brasil”. É dessa energia que deve renascer Darlan Romani para mais um ciclo olímpico: de sua família, de sua superação, de seus resultados.
*Imagem de capa: Reprodução/Twitter @timebrasil