por Mirella Cordeiro
milucordeiro94@gmail.com
Você já pensou em como seria uma flor sem perfume? Você enxergaria a beleza e entenderia a mensagem, mas a única informação que dispensa um raciocínio não seria transmitida. Da mesma forma seria um filme sem trilha sonora. Tanto o som quanto o odor trabalham com os sentidos e a possibilidade de agitar o inconsciente é provavelmente a maior riqueza de uma obra de arte ou da natureza. “Mas e quanto aos filmes mudos?”. Mesmo nestes, há música para acompanhar e dar ritmo às cenas, isto é, a trilha sonora nunca foi desprezível.
É verdade que, por um lado, as trilhas sonoras chegam a impedir que algumas pessoas se assustem durante os filmes de terror e de suspense. Por outro lado, as músicas instigantes, intensas e envolventes podem ser um grande ponto positivo para provocar o medo, objetivo do gênero de terror, principalmente. Já nos dramas, as trilhas costumam definir os momentos pelos quais passam os personagens e assim levar o espectador inconscientemente à alegria, à tristeza, à raiva, isto é, à comoção que o momento pedir.
Elas podem parecer secundárias, mas são tão importantes quanto o odor de uma flor o é para marcar a individualidade dela. Além de dar ritmo e conduzir a emoções, as trilhas sonoras também costumam fazer referência à personalidade dos personagens. As músicas do álbum Into the Wild, de Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam, completam e nos ajudam a entender os pensamentos e as atitudes de Chris McCandless, personagem principal do filme Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2007). O documentário Amy (2015) não seria legítimo para abordar a vida da cantora Amy Winehouse sem as canções da própria artista que dizem muito sobre ela. A delicadeza e a leveza de Amélie Poulain não poderiam ter sido mais bem captadas como foram através da trilha sonora no filme O fabuloso destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain, 2001). A combinação de imagens e músicas fascinantes do documentário Intentio (2012) faz valer a dificuldade para entendê-lo e encontrá-lo.
Uma particularidade das trilhas sonoras é que elas independem da qualidade do filme. Tanto os bons quanto os filmes ruins podem ser acompanhados de boas músicas, as quais podem harmonizar ou divergir da sétima arte. Entretanto, felizmente, é mais provável que as pessoas concordem que as canções harmonizam com as cenas do que contrastam, pois, uma vez já ligadas às imagens, é difícil a tarefa de imaginar outras músicas sobre tais episódios. Por essa razão o filme Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey, 2015) pode valer a pena, a excelente trilha sonora teve boa repercussão apesar das inúmeras críticas ruins ao filme.
Ao ouvir a música Singing in the Rain, de Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952), Teresinha, uma jovem que está se preparando para tirar a primeira carta de motorista e que ainda não assistiu ao filme, se surpreendeu por considerar a música triste e, com isso, mostrou que trilhas sonoras são necessárias, mas apenas um complemento à estrutura das obras cinematográficas. Assim como seria o aroma sem a flor: apenas um bom ou mau cheiro. Em contrapartida, o instrutor de condutores e amante de filmes, Ronaldo, não precisou ouvir mais de quatro segundos da música tema de Guerra nas Estrelas (Star Wars) para provar como a trilha sonora foi marcante para ele, “dá pra arrepiar tudo”.
Trailer do documentário Intentio: