A dança da morte em 165 minutos. Assim podemos descrever Era Uma Vez no Oeste (C’era una Volta il Oeste, 1968). Trata-se do mais famoso filme do estilo western spaghetti, nome dado à versão do cinema faroeste americano das décadas de 50 e 60 que surgiu mais ou menos dez anos depois, na Itália.
Foi nessa época que xerifes, bandidos fora-da-lei, duelo de balas e forasteiros misteriosos se imortalizaram no imaginário popular da platéia e alegraram salas de cinema por quase 20 anos. Hoje é difícil encontrar pessoas com essas referências heróicas, pois este estilo foi atropelado pela indústria cinematográfica dos anos 70 e 80 – o que fez, aliás, com que os westerns fossem vistos com maus olhos por boa parte das gerações mais novas.
Talvez daí venha o fato de Era Uma Vez no Oeste ser uma produção de destaque do cinema. O filme é uma pintura do diretor, Sergio Leone, sobre o momento de escassez dos cowboys no tempo de fim do western way of life. A história deste faroeste italiano não chega a ser tão distinta dos bang-bangs americanos, mas a diferença encontra-se na forma como Leone faz um retrato brutal e honesto da dureza da vida e da morte no ocidente, criando uma obra-prima capaz de não apenas entreter como emocionar os seus telespectadores.
O cenário de Era Uma Vez no Oeste é a civilização avançado para o oeste desconhecido e violento em meio ao avanço tecnológico e industrial americano. No meio disso, encontramos uma trama ao redor de cinco personagens – Frank (Henry Fonda), The Man With Harmonica (Charles Bronson), Cheyenne (Jason Robards), Jill (Claudia Cardinalle) e Morton (Gabriele Ferzetti) – e suas dificuldades pessoais de se adaptar e/ou lidar com essa seca realidade.
Diferente de outros filmes do gênero, aqui a narrativa é mais lenta, mais arrastada. Temos um roteiro triste porém cheio de lirismo, que é captado não somente com as paisagens e fotografias, como também com a belíssima trilha sonora de Ennio Morricone. A sensação que se tem ao assistir é como se o filme fosse o tempo todo e ao mesmo tempo uma homenagem e um adeus de Sergio Leone ao gênero western.
Ao longo das quase 3 horas de filme, uma ponta de nostalgia também despertada, uma vez que o confronto não é apenas entre o novo (a civilização) e o velho (velho-oeste), como também entre os últimos grandes homens dessa época, pois eles são, de certa forma, auto-destrutivos. É como se você pudesse respirar os últimos minutos de uma terra perigosa e sem-lei, onde a vida vale pouco e só sobrevivem os fortes.
A escolha dos atores é acertadíssima, assim como as suas atuações beiram a perfeição. Diferente dos filmes em que é necessária uma explosão de diálogos na tela para que os pensamentos dos personagens fiquem claros a quem assiste, em Era Uma Vez no Oeste é falado apenas o necessário, e você consegue ainda assim entender o que se passa na cabeça de cada um, porque suas expressões faciais, seus olhos, são capazes de dizer tudo.
Somente ao assistir Era Uma Vez no Oeste você entende o porquê de os westerns terem feito tanto sucesso, o motivo do seu fim na indústria cinematográfica, e a razão da obra ser lembrada até hoje, mais de 40 anos depois. Você se sente enterrando o gênero junto com Leone, ao mesmo tempo que compartilha o motivo da homenagem do diretor. Esqueça tudo que você pôde um dia ter pensado sobre filmes de faroeste: procure urgentemente uma forma de assistir esta obra e emocione-se com o último dos westerns spaghettis.
por Sofia Soares
sofia.pere.soa@gmail.com