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Arte na atualidade: da falta de incentivos ao reconhecimento virtual

Imagem: Lígia Andrade / Jornalismo Júnior A arte quase nunca soube ser apreciada em seu próprio tempo. Van Gogh, por exemplo, custou a vender apenas um quadro em sua vida inteira, sendo que o comprador era um amigo próximo. O artista produziu mais de dois mil trabalhos ao longo de uma década, mas infelizmente a fama …

Arte na atualidade: da falta de incentivos ao reconhecimento virtual Leia mais »

Imagem: Lígia Andrade / Jornalismo Júnior

A arte quase nunca soube ser apreciada em seu próprio tempo. Van Gogh, por exemplo, custou a vender apenas um quadro em sua vida inteira, sendo que o comprador era um amigo próximo. O artista produziu mais de dois mil trabalhos ao longo de uma década, mas infelizmente a fama só foi lhe bater à porta quando acomodou-se em um caixão. Outros exemplos são notáveis: Franz Kafka, Lima Barreto e Oswald de Andrade, artistas das letras, também só tiveram suas obras apreciadas devidamente após a morte.

Mas e atualmente? Já aprendemos a reconhecer nossos artistas enquanto vivos?

Se antes havia a desculpa da informação lenta e tardia, hoje graças à internet e às redes sociais podemos conhecer artistas do mundo inteiro em questão de segundos. O estilo das obras pode ir desde o realismo até o modernismo, em uma amálgama de talento e arte: basta procurar o que mais nos apetece.

Mas será que mesmo com toda essa facilidade em nossos dedos, nós finalmente incentivamos nossos artistas e apreciamos seus trabalhos? O Sala33 conversou com artistas da Rússia, País Basco e do Brasil para saber mais sobre as dificuldades que passam nos tempos atuais, com a difusão gratuita de suas obras e a proximidade com o público, e percebemos que ainda sofremos o mal de tratar a arte como mera arte.

 

Maria Okhotnikova (@okhotnikova_maria)

Fã de texturas, escamas, veias de folhas e flores e inspirada por toda a “imperfeição” da natureza, a arte de Maria Okhotnikova impressiona. Com mais de quatro mil seguidores, a artista e professora russa compartilha seus trabalhos com o público pelo Instagram, misturando pontilhismo com aquarela.

Mas se engana quem acha que seu estilo de desenho surgiu repentinamente. Ao contrário. Maria explica que exigiu muito tempo, sendo que, no começo, não conseguia gostar de seus próprios desenhos.

“Acho que para a maioria dos artistas, escolher seu próprio estilo é um processo bem  longo”, explica ao ser perguntada sobre como encontrou seu estilo de arte. “Certa vez, quando eu trabalhava como professora em uma escola de arte, meu aluno trouxe um esboço de um pássaro com uma caneta de gel e foi muito legal! Eu amei as linhas afiadas, os contrastes e a expressividade da tinta preta e pensei que eu precisava tentar aquela técnica. As linhas inevitavelmente fizeram os trabalhos mais ilustrativos e mais decorativos e eu gostei disto. Tentei encontrar artistas online trabalhando com este material e suas técnicas. Rapidamente percebi que desenhar com pontos, o chamado dotwork, era exatamente o que eu precisava! Desde então, o desenho tornou-se minha meditação pessoal — eu podia sentar-me por horas meticulosamente enchendo o trabalho com pontos! E se antes eu tinha que me forçar para desenhar algo, agora eu realmente gosto do processo e do resultado. Senti que estava no caminho certo, mas ainda pensava que algo estava faltando. Então adicionei aquarela”.

Atualmente, Maria largou o trabalho como professora formal de uma escola de artes para se dedicar à carreira de freelancer. “Minha avó ainda está preocupada que eu parei de trabalhar na escola de arte e me tornei uma freelancer, afinal o professor é uma profissão, e o artista,bem, que tipo de trabalho é o do ‘artista’?”. Ela considera esta a melhor decisão de sua vida, apesar de ver seu país, a Rússia, como uma nação que ainda não encoraja seus artistas. “Eu não acho que a Rússia seja de alguma forma especialmente encorajadora quanto a novos artistas. Acho que neste campo todo mundo faz o seu caminho e nem sempre é fácil, mas faz você mais forte”.

Sobre pedidos de desenhos gratuitos, Maria Okhotnikova desabafa: “Provavelmente todo artista já enfrentou isso. O desenho é percebido pelos outros principalmente como hobby, e leva muito tempo até que você possa provar o contrário”.

Mas a russa garante que não se deve desanimar com a falta de incentivos, principalmente com aqueles que venham do próprio artista, e dá um conselho a quem quer se dedicar à arte:

“Não tenha medo de encontrar o seu estilo e de cometer erros, tente algo novo. Não tenha vergonha de se declarar como artista, mesmo que na sua opinião pessoal você ainda esteja longe de ser perfeito.

No desenho, não existe uma linha tão clara que separe o artista profissional do artista que está apenas aprendendo. Muitas vezes nós criamos isso em nossas mentes, pensando que não somos bons o suficiente para receber pedidos ou vender pinturas. Eu acho que, em criação, a perfeição é sempre inatingível.  Melhorar suas competências, experimentar novas técnicas, testar novos materiais são partes integrantes do caminho.

E aqui está outro conselho: pare de se comparar constantemente com os outros. Eu não acho que a constante comparação pode levar a algo bom, pois sempre haverá aqueles que podem fazer algo melhor que você. Mas isso realmente não importa, porque nenhum deles faz como você pode fazer. Imperfeições muitas vezes tornam as obras mais vivas”.

 

Esti AMO (@estipikal)

Para a artista basca Esti AMO, tudo começou na sala de aula enquanto desenhava rostos em seus livros didáticos. Com uma arte envolvente, em que linhas e formas geométricas criam expressões fortes e rostos quase tão realistas quanto o próprio realismo poderia almejar, declara que desenha porque isso a acalma: “por um momento me faz ser outra pessoa”.

Com mais de 52 mil seguidores, seus desenhos compartilhados no Instagram atingem público cativo, que acompanha suas postagens geralmente semanais. Sobre seu processo de produção e estilo, a artista comenta: “Eu nunca sei o que vai aparecer ou que cara será até o final. Eu tento ser realista, mas minha mão faz o que quer”.

Motivada a continuar compartilhando seus trabalhos porque se expressa melhor com desenhos do que com palavras, Esti AMO diz que para ela a arte é uma maneira de se comunicar, e atualmente é apenas um hobby.

Apesar de as postagens mais antigas de seus desenhos datarem de 2014 no Instagram, comenta que recebeu incentivos pela primeira vez apenas este ano.

“Passei dez anos sem desenhar nada. Um mau momento na minha vida me fez voltar a pegar o lápis. Eu desenhei todos os dias e esqueci meus problemas. Foi como uma terapia. Agora é algo que tenho que fazer todos os dias. Eu sei que perdi muitos anos, mas estou me recuperando, fazendo o que eu gosto, inventando rostos, expressões. Imagino uma pessoa e vejo que ela aparece no papel, porque você tem controle nesse desenho, é um sentimento maravilhoso.”

Perguntada sobre como define sua arte, conta: “Um chef, meu amigo, me disse que minhas ilustrações eram como comida desconstruída e me fez rir. Pode ser um realismo desconstruído?”. Basta olhar para seus desenhos que esta definição nos faz também sorrir: assim como os pratos desconstruídos de chefs, Esti AMO desconstrói a impressão da alma humana, e traz à tona suas expressões e sentimentos. Separe os olhos, a boca, o nariz, o queixo: em cada parte de sua arte há sentimento florescendo.

Sobre o incentivo que seu país, o País Basco, na Espanha, fornece a novos artistas e à arte, alega que “Não há muita ajuda, e você tem que se mexer muito por aqui”. A respeito do abuso que sofre com sua arte, como pedidos de desenhos gratuitos por apreciadores, a basca é categórica e tenta fazer com que as pessoas parem de menosprezar o trabalho por trás do desenho final: “Explico às pessoas que por trás de cada ilustração está o meu tempo, a minha mente e a minha capacidade. É difícil, e fica muito mais com pessoas que pedem ilustrações gratuitamente”.

Para os novos navegantes, Esti AMO aconselha: “Desenho não é inato, todos podem fazê-lo bem, mas requer muitas horas de trabalho e segurança em si mesmo. Você pode ter um dom, mas se você não investir tempo nisso, você não tem nada”.

 

Gabriel Vinícius (@gabrielvdesenhos)

Acredite ou não, o desenho acima foi feito apenas com uma caneta Bic. Sim, com aquela mesma que usamos para anotar compras do supermercado, Gabriel Vinícius usa para fazer verdadeiras obras de arte.

Artista brasileiro, começou a desenhar ainda criança, copiando os desenhos de histórias em quadrinhos: “Eu sempre gostei de Heróis. Cresci vendo animações, como “Liga da Justiça”, e sempre pedia para minha mãe comprar HQs para mim, quando tinha 6 a 7 anos. Então começava a copiar os desenhos até que fui aprendendo sozinho”.

Especializado em desenhos com canetas esferográficas, hoje em dia possui mais de 61 mil seguidores no Instagram. Por seus traços já passaram Lindsay Lohan e Cara Delevingne, estilizadas por sua arte, que tomou forma conforme os anos passavam: “Eu amo hachuras. Cresci vendo artes do Mike Deodato e Frank Cho, e sempre gostava da forma como sombreavam com simples cruzamentos de linhas. Comprei algumas revistas de tutoriais e fui treinando desde os 13, conheci outros artistas como Paolo Serpieri… Nunca cheguei a fazer algum curso relacionado a arte ou a desenhos, vi alguns tutoriais no Youtube e hoje domino bem”.

Sempre incentivado por sua mãe, que o ajudava com sua arte mesmo antes de se tornar algo rentável ao comprar materiais e revistas, o artista revela o que realmente o estimula a compartilhar sua arte com o mundo: “O que mais me motiva é meu sonho de me tornar desenvolvedor e artista conceitual em jogos. Ah, e arquiteto também”. A arte para ele é tanto um hobby como uma ajuda financeira, embora não a principal fonte de renda. ”Infelizmente o dinheiro que ganho não é o suficiente para eu viver somente da minha arte”.

“Ser artista no Brasil é muito complicado. São muitas as complicações que enfrentamos, preços altos nos materiais e também as pessoas vêem desenho como um hobby e não acham que vale a pena pagar por tal. Já perdi as contas de quantos pedidos de desenhos de graça já recebi. Divulgar trabalhos também é algo difícil. Eu mesmo cresci e fiquei conhecido por meu Instagram com ajuda de páginas americanas que divulgaram meus trabalhos. Hoje tenho um público consideravelmente grande”.

Gabriel Vinicius publica seus desenhos na rede há mais de cinco anos, com um total de 896 trabalhos publicados. O processo artístico de um de seus desenhos, feito com caneta esferográfica, pode levar mais de dez horas para ser concluído. O resultado não poderia ser mais impressionante.

Para aqueles que se encontram receosos sobre suas artes, o brasileiro recomenda: “O maior segredo é continuar praticando, se possível fazer cursos. É importante sempre ter a mente aberta para novas ideias e conhecimentos, e saber onde e como divulgar seu trabalho também é algo importante. O Instagram é uma ferramenta muito útil, e grupos do Facebook também”.

Por Lígia Andrade
 ligia.andradem@gmail.com

1 comentário em “Arte na atualidade: da falta de incentivos ao reconhecimento virtual”

  1. Adorei as postagens e comentários destes artistas.
    Não lido bem com omundo digital.
    Mas, reconhecendo que pra sair do armário e ser visto; tem que ir por estw caminho.

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