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45 anos do acidente de Niki Lauda em Nürburgring

Em primeiro de agosto de 1976, Niki Lauda sofreu um acidente quase fatal no GP de Nürburgring

A temporada de 1976 da Fórmula 1 se iniciou em solo brasileiro, no circuito de Interlagos, no dia 25 de janeiro. Apesar do britânico James Hunt ter conquistado a pole position, quem saiu vencedor do primeiro GP do ano foi o austríaco Niki Lauda. Lauda estava em sua sexta temporada na Fórmula 1 e vinha de seu primeiro título, na temporada de 1975

Nos nove primeiros GPs da temporada, o piloto venceu cinco deles e possuía uma considerável vantagem sobre os demais na classificação. No entanto, esse cenário seria totalmente alterado com a chegada do GP da Alemanha, um dos circuitos mais difíceis da época para os pilotos e que costumava causar muitos acidentes e problemas nos carros.

Niki Lauda [Imagem: Reprodução / Instagram @niki.lauda]


O acidente

A décima prova da temporada de 1976 ocorreu no dia 1 de agosto em Nürburgring, na Alemanha, com Lauda disparado para ganhar seu segundo título consecutivo. O treino na sexta-feira ocorreu normalmente, mas, no sábado, por conta das fortes chuvas, não houve o treino classificatório. Com isso, o grid de largada seria composto pelos tempos de sexta-feira, com Hunt na pole position e Lauda na segunda posição. 

No domingo de prova, caiu uma intensa chuva momentos antes da prova se iniciar, o que dificultava ainda mais o controle dos carros dentro de um circuito já considerado desafiador. “Nürburgring era uma pista perigosa porque era uma pista muito ‘old school’ da Fórmula 1… Era uma pista com trechos muito rápidos, muito longa e quase sem área de escape”, afirma Vitor Fazio, repórter do site Grande Prêmio. Nos três anos anteriores, cinco pilotos já haviam perdido suas vidas no circuito

Perante tamanho risco, Niki Lauda tentou um boicote à prova, mas a maioria dos pilotos, incluindo James Hunt, foram contra a iniciativa do austríaco e a prova foi iniciada. Na primeira volta, a maioria dos pilotos, incluindo Lauda e Hunt, entraram nos boxes para trocar os pneus de chuva por de pista seca, pois as condições na pista pareciam estar melhores.

Com pneus novos, Lauda foi para a segunda volta e, em uma curva de  alta velocidade, perdeu o controle do carro e se chocou contra o guard rail no lado direito da pista. Com o impacto, Lauda perdeu seu capacete e sua Ferrari, já tomada pelas chamas da explosão, foi lançada para o meio da pista novamente. Para Fazio, o acidente ocorreu por erro do piloto, mas que, por conta das condições complicadas do circuito, o acidente poderia ter acontecido com qualquer outro piloto.

Durante o tempo em que Lauda ficou preso em seu carro pegando chamas, dois outros carros colidiram com o austríaco, o que piorou ainda mais as condições do acidente. Os pilotos Arturo Merzário e Guy Edwards, com ajuda de extintores conseguiram amenizar as chamas e, após algumas tentativas, enfim retiraram o corpo de Lauda do cockpit

Lauda sofreu graves queimaduras ao redor de todo seu corpo, principalmente em sua cabeça, pois havia perdido o capacete durante o impacto. Além disso, durante os minutos em que ficou preso nas chamas, Lauda respirou uma quantidade muito elevada de gases tóxicos, o que comprometeu, e muito, seu sistema respiratório. 

O piloto austríaco foi encaminhado para o Hospital Universitário de Mannheim ao perceberem a gravidade da situação. Após quatro dias no hospital, os médicos responsáveis achavam que a situação seria muito difícil de ser revertida, especialmente a intoxicação no pulmão. Um padre foi chamado ao quarto de Lauda para que o piloto recebesse a extrema unção. 

No entanto, Lauda conseguiu se manter consciente o tempo todo, o que ajudou no processo de recuperação, pois permitiu que ele escutasse e executasse as ordens vindas dos especialistas. Após o quarto dia, a perseverança de Lauda se fez valer e seu quadro foi, aos poucos, melhorando. 42 dias após o grave acidente, tendo ficado de fora de duas etapas do campeonato, o piloto já havia se recuperado e estava pronto para correr no GP da Itália, em Monza.

Niki Lauda após o acidente, com queimaduras no rosto
O piloto na temporada de 1977 [Imagem: Reprodução / Instagram @niki.lauda]
“O desafio de Lauda foi a questão física”, destaca Fazio, visto que as corridas, naquela época, exigiam o máximo do físico dos pilotos, devido a força g aplicada nos carros.

Após todas as dificuldades, o austríaco ainda foi capaz de alcançar a quarta colocação. Entretanto, seu rival James Hunt havia diminuído a distância entre eles, acirrando a disputa pelo título após vencer quatro corridas desde o acidente de Lauda. Com isso, O GP do Japão, em Fuji, seria a disputa final da temporada e definiria o campeão. 

Com uma chuva muito intensa no momento da prova, as condições de pista em Fuji eram horríveis. Mesmo com o título em disputa, como medida de precaução, Lauda abandona a prova e, dos boxes, observa o final da corrida. Mesmo não vencendo a prova, James Hunt alcançou a pontuação necessária para ultrapassar Lauda por um ponto, 69 a 68, e ser o campeão da temporada. 

A partir de 1977, por conta do acidente de Lauda e de outros ocorridos anteriormente, a organização da Fórmula 1 passou a utilizar um outro traçado no circuito de Nürburgring, mais curto e de menor perigo aos pilotos. Niki Lauda continuou a correr e, na temporada seguinte, alcançou seu segundo título.


O piloto 

O grande destaque da década de 70, na Fórmula 1, foi Niki Lauda. Com quase nenhum suporte familiar no automobilismo, a ascensão do piloto foi construída aos poucos e precisou de investimentos próprios. A carreira se iniciou em 1968 com turbulências geradas pelas relações familiares e pelos acidentes. Aos poucos, o piloto foi conquistando espaço no automobilismo mundial até a conquista das três temporadas.

Lauda nasceu no dia 22 de fevereiro de 1949, em Viena, e teve uma infância relativamente confortável devido a descendência da família de fabricantes de papel abastada e o avô banqueiro. Os pais Elisabeth Lauda e Ernst-Peter Lauda criaram Andreas Nikolaus e Florian Lauda na Áustria e pouco aprovaram a carreira do piloto, que precisou desembolsar quantias próprias para iniciar nas corridas.

O cenário adverso faria com que qualquer outro piloto desistisse das corridas. Porém, um Minis, primeiro carro competitivo de Niki produzido pela empresa inglesa Alec Issigonis e subsidiária da BMW, foi suficiente para o início do automobilismo para ele, em 1968.

Nas pistas, o austríaco despontou por possuir conhecimento técnico e mecânico do carro.  Vitor Fazio aponta que “Lauda tinha um talento muito bom para deixar o carro acertado e configurado exatamente como ele queria”, o que era uma vantagem na época, em que a tecnologia ainda não estava tão avançada. 

Niki Lauda dentro do carro, com a viseira do capacete levantado
Niki Lauda em uma corrida após o acidente. [Imagem: Reprodução / Instagram @niki.lauda]
Seus conhecimentos e legado resultaram em cargos nas equipes mais famosas da Fórmula 1. Em 1990, após um longo período gerenciando a empresa de aviação Lauda Air, Lauda retorna às pistas na área administrativa como consultor técnico extraordinário da Ferrari, depois diretor técnico da Jaguar, em 2001, e presidente não executivo da Mercedes, em 2012. 

Os três títulos conquistados e a resiliência do piloto após o acidente em Nürburgring em 1° de agosto de 1976, sagraram-no como um dos maiores da história do automobilismo. Fora das pistas, Lauda foi pai três vezes, lançou uma autobiografia e teve a vida no automobilismo contada pelo cineasta Ron Howard, no filme Rush – No Limite da Emoção (Rush, 2013).  

Devido à inalação da fumaça por conta do acidente, o piloto teve que passar por um transplante de pulmão. No entanto,  diferentemente do que se esperava, Niki Lauda faleceu em 20 de maio de 2019 aos 70 anos, no Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, em decorrência de complicações renais. 


Trajetória nas pistas

A Ferrari 312T de Niki Lauda. [Imagem: Reprodução / Instagram @niki.lauda]
Na jornada até o alto nível da Fórmula 1, o piloto correu a  Fórmula V, que é destinada aos corredores mais jovens, em 1969, com um Porsche 911. Como base do automobilismo, ela é a maior categoria de monopostos do mundo e uma das principais projeções de pilotos nas pistas. Depois da base, ele correu nas Fórmulas 3 e 2 e foi destaque em todas essas etapas.

A estreia na Fórmula 1 ocorreu em 15 de agosto de 1971, pela March-Ford, no Grande Prêmio da Áustria. Na ocasião, a vaga para correr pela March foi comprada e ele disputou o prêmio como “piloto pagante”, que é visto como termo pejorativo por não ter conquistado a vaga por mérito, após um empréstimo bancário.

A corrida de estreia foi abandonada por Niki por problemas mecânicos no carro, o que fez com que ele completasse apenas 20 das 54 voltas necessárias. O piloto não conquistou nenhum ponto na temporada de estreia e só retornou às pistas na temporada seguinte, após consolidar a vaga na March-Ford.

Após esse período na March, Lauda se transferiu para a British Racing Motor (BRM). Com um BRM P160, ele correu a temporada de 1973 e ficou em 18º lugar com dois pontos, tendo deixado de correr nove das quinze etapas daquele ano. 


O início das sucessivas vitórias e a temporada 76’

O ano de 1974 simbolizou o início de uma parceria com a escuderia da Ferrari. Niki Lauda passou a ser piloto remunerado da equipe italiana e a ganhar destaque entre os mais velozes. Foi nesse período que ele marcou nove pole positions e conquistou suas primeiras vitórias na Espanha e na Holanda. 

Sucessivos abandonos o deixaram fora da disputa pelo prêmio, mas, mesmo com oito abstenções, o automobilista computou 38 pontos e terminou na quarta posição do campeonato.

Encaminhado na Ferrari e correndo com um 312T, recentemente leiloado a U$6 milhões, Niki repetiu as nove pole positions na temporada seguinte. E mesmo com um início de temporada um pouco abaixo, a velocidade e o conhecimento técnico do controle do carro combinados resultaram na vitória do campeonato, com quase vinte pontos à frente do último campeão, o brasileiro Emerson Fittipaldi, depois de quatro vitórias  em cinco corridas.  

O ano de 1976 foi emblemático. O automobilista manteve o ritmo crescente da temporada anterior e, com o surgimento de um competidor à altura — James Hunt da escuderia da McLaren —, o indicativo era de que as corridas teriam um alto nível. Foi o que se sucedeu, já que a vitória da temporada de Hunt foi ponto a ponto e variando posições com Lauda.

Niki em um dos circuitos da temporada 1975 [Imagem: Reprodução / Instagram @niki.lauda]


As temporadas seguintes ao acidente

Com resiliência, a primeira vitória após o acidente ocorreu em 1977, no GP de Kyalami, na África do Sul. Na temporada, Lauda compilou dez pódios e três primeiros lugares com a Ferrari. O bicampeonato foi conquistado com o terceiro lugar em Watkins, nos EUA.  

No período em que o piloto estava em recuperação, alguns desencontros na equipe forçaram a transferência dele para a Brabham-Alfa, depois de um acordo com o diretor Bernie Ecclestone. 

As condições de competição na Brabham estavam longe de ser as oferecidas pela Ferrari, tanto pelo carro, quanto pela estrutura da equipe. Depois de um período conduzindo um BT46, Lauda decide passar um tempo afastado das pistas. Essa foi a deixa para o investimento na companhia aérea Lauda Air, criada justamente nessa época.

A pausa nas corridas teve fim em 1981, com a McLaren. E, mesmo desacreditado, o automobilista venceu novamente na África do Sul, correndo com um McLaren MP4/2. A partir de então, o piloto passa um longo período na escuderia britânica, disputando a glória com o novo talento Alain Prost, que viria a ser o segundo piloto da equipe. 

O último título de Niki Lauda foi conquistado em 1984. Cinco vitórias foram necessárias para sagrar-se campeão pela terceira e última vez no GP final de Estoril, Portugal. No ano seguinte, o piloto anunciou a sua aposentadoria, em uma corrida na Áustria, depois de três títulos e um legado respeitável na Fórmula 1. 

Ayrton Senna levantando o braço de Niki Lauda
Lauda e Senna em 1982 [Imagem: Reprodução / Instagram @niki.lauda]

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