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Luke Hemmings e a coragem de encarar aquilo que evitamos

Em seu primeiro álbum solo, vocalista do 5 Seconds Of Summer reflete sobre a passagem do tempo em doze faixas etéreas, que caracterizam sua experimentação durante o afastamento da banda na pandemia

O tempo em isolamento imposto pela pandemia de Covid-19 abriu uma gama de possibilidades até então inexploradas a diversos artistas. No caso do 5 Seconds Of Summer (5SOS), banda australiana que completa dez anos em 2021 e tem Luke Hemmings como vocalista, a quarentena interrompeu subitamente a divulgação de seu quarto álbum de estúdio, CALM (2020), e levou o quarteto a desacelerar pela primeira vez desde sua adolescência. 

O frenesi da carreira artística acompanhava o 5SOS desde 2012, quando a banda foi descoberta no YouTube e seus quatro membros, com idades entre 16 e 18 anos, deixaram Sydney, sua cidade natal, para entrar em turnê. Crescer em meio ao turbilhão de acontecimentos da indústria musical pode ser um desafio, como confessa Luke na canção Why Won’t You Love Me (2018): Switching into airplane mode again / We’re not alright but I’ll pretend” (Entrando no modo avião de novo / Nós não estamos bem, mas vou fingir que sim). 

O período longe dos holofotes foi propício para que o grupo encarasse sua bagagem emocional e traduzisse os sentimentos em música. No entanto, separados e vivendo em cidades diferentes, o processo criativo dos integrantes naturalmente assumiu um caráter de maior pessoalidade. Suas composições, até então desenvolvidas em conjunto, passaram a abordar temas que pouco fariam sentido fora de um âmbito individual. A separação da banda, mesmo que temporária — recentemente, o quarteto anunciou em uma live que seu quinto álbum de estúdio já está em produção — permitiu que seus integrantes descobrissem uma voz artística própria. 

Ë o caso de Superbloom, primeiro álbum solo do baterista Ashton Irwin, lançado em outubro de 2020. O projeto, diferente de qualquer produção da banda até então, tanto surpreendeu quanto agradou aos fãs e à crítica. As letras extremamente pessoais de Irwin dificilmente teriam espaço em um álbum do 5SOS, e a liberdade de compor sozinho permitiu também que ele explorasse novos estilos musicais.

Não demorou muito para que Luke seguisse um caminho semelhante. No final de junho, o vocalista anunciou seu álbum de estreia, When Facing The Things We Turn Away From, lançado no último dia 13 de agosto — exatamente 14 anos depois do dia em que criou o canal no YouTube que o projetou para a fama com o 5 Seconds Of Summer. 

 

Luke Hemmings adolescente, sentado em uma cadeira, com um violão sobre o colo e uma cômoda de madeira ao fundo
Luke Hemmings no primeiro vídeo postado em seu canal: um cover de “Please Don’t Go”, de Mike Posner. [Imagem: Reprodução/YouTube/5SOS]


Uma atmosfera introspectiva permeia as faixas e faz com que o disco soe como um diário, no qual Hemmings registra descobertas e arrependimentos que surgem ao refletir sobre sua vida na última década. Aos 25 anos, Luke parece tentar processar questões acumuladas em si desde a adolescência, quando sua carreira teve início. 

Starting Line, música enérgica que abre o disco, é marcada por um ritmo crescente que acompanha Luke pela dolorosa sensação de estar perdendo suas memórias com o passar dos anos. Em seguida, Saigon traz leveza à primeira parte do álbum, com um refrão divertido que ameniza o clima antes das próximas faixas, mais melancólicas.

Segundo single do projeto, Motion possui uma melodia agitada e carregada de sintetizadores que complementa a sensação de paranoia e delírio apresentada em sua letra. Após as três faixas iniciais, o ritmo desacelera em Place In Me, canção acústica na qual os vocais protagonizam. Ao intercalar músicas animadas com faixas lentas, Hemmings consegue construir uma atmosfera etérea de autodescoberta e confusão.

 


O álbum se torna progressivamente mais denso a partir de
Mum, cuja letra parece um grito por ajuda endereçado à mãe do músico: Can’t you see me sinking? / Don’t you know I’m too young? (Você não vê que estou afundando? / Não sabe que sou muito novo?). A sensação de desamparo se repete em Diamonds e Bloodline, faixas viscerais nas quais Hemmings divaga sobre sua experiência com o abuso de substâncias e distúrbios alimentares, e confessa que não esperava chegar à idade que possui hoje.

O público fica na expectativa para descobrir como a experiência de introspecção registrada em When Facing The Things We Turn Away From influenciará os próximos projetos do 5 Seconds of Summer ou, quem sabe, um segundo álbum solo de Hemmings. Ainda que o disco não surpreenda em sua sonoridade — o rock suave e o synthpop explorados por Luke Hemmings se encaixariam facilmente em um álbum do 5SOS, que se desvencilhou completamente de suas raízes no pop-punk em seus últimos trabalhos —, ele destaca aquilo que o cantor traz de melhor. Seus vocais controlados, ora suaves, ora potentes, misturam-se com o mais acertado trabalho lírico de sua carreira para gerar um conjunto sublime e tocante de faixas. 

Além de um álbum de estreia brilhante, When Facing The Things We Turn Away From  é um ponto de virada para um artista que, após uma década de carreira, ainda está somente no início.

*Imagem de capa: Reprodução/Spotify

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