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O dia em que o Galo cantou

Por André Romani e Henrique Votto Há exatos quinze anos, a cidade de Itu deixava sua pegada na seleta calçada dos campeões paulistas de futebol. Fazendo justiça a sua origem da “Cidade dos Exageros”, onde “tudo é grande”, o pequeno Ituano Futebol Clube se agigantou e conquistou, dramaticamente, com um gol salvador aos quarenta minutos do …

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Por André Romani e Henrique Votto

Há exatos quinze anos, a cidade de Itu deixava sua pegada na seleta calçada dos campeões paulistas de futebol. Fazendo justiça a sua origem da “Cidade dos Exageros”, onde “tudo é grande”, o pequeno Ituano Futebol Clube se agigantou e conquistou, dramaticamente, com um gol salvador aos quarenta minutos do segundo tempo, o título do Campeonato Paulista de 2002, inédito na história do Galo. Em uma edição marcada pela ausência dos grandes times do estado, quem roubou a cena foi o “forte, valente e audaz”, como canta o hino do clube, rubro-negro de Itu.

Time Campeão, disputando depois o Super Campeonato Paulista (Imagem: Placar)
Time Campeão disputando depois o Super Campeonato Paulista (Imagem: Placar)

O campeonato

Naquele ano, as federações de futebol optaram, em âmbito nacional, pela valorização e pelo inchaço dos torneios regionais em detrimento das competições estaduais. Assim, o Paulistão de 2002 não contou com a participação de São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos, Guarani, Ponte Preta, São Caetano, Portuguesa e Paulista (Etti Jundiaí), que jogariam o , já extinto, Torneio Rio-São Paulo.

A fim de reorganizar o campeonato sem os maiores do estado, a Federação Paulista de Futebol (FPF) alterou seu regulamento, de modo a não rebaixar nenhum time do Campeonato Paulista de 2001 e proporcionar a quatro times, ao invés dos dois previstos, a classificação à primeira divisão. Estas séries de mudanças permitiram ao Ituano, quarto colocado da Série A2 do ano anterior, disputar a divisão principal.

O jornalista e radialista Moura Nápoli, 59, que cobriu o título pelo Jornal Periscópio, conta como esse fator aumentou as esperanças da torcida do Galo: “o sonho é sempre entrar para ser campeão. A realidade para os times do interior é disputar para não cair e, depois, entra o sonho. Sem os times que disputavam o Rio-São Paulo, o campeonato ficou mais vazio, porém, o sonho ganhou força e, aos poucos, foi ganhando forma”.

Com doze participantes de nível equivalente e fórmula de disputa em pontos corridos, com turno e returno, o torneio foi muito marcado pelo equilíbrio. O empresário e fanático torcedor Darci Belon Neto, de 30 anos, conta que a torcida acreditava no título para o Galo. “O Ituano tinha um gestor muito bom, que fez muita história no clube: o senhor Oliveira Júnior. Tinha um elenco bom, que a cidade inteira conhecia. Todos sabiam o nome dos jogadores e o povo de Itu apoiava o time nessa época”, disse Netão, como é conhecido na arquibancada.

O rubro-negro só assumiu a liderança na 18ª rodada, das 22 do campeonato. Chegou à penúltima quatro pontos à frente do vice-líder União São João, contra quem jogaria em casa. A cidade estava em êxtase e a torcida lotou o Estádio Novelli Júnior, inclusive o setor de visitantes, esperando por pelo menos um empate, que traria o título inédito. Porém, a equipe perdeu por 1 a 0.

Darci lembra até hoje da euforia que cercava a decisão, inclusive com bebida garantida para as comemorações: “o [José] Nelson Schincariol tinha doado um caminhão de chopp para a torcida do Ituano. E o time foi lá e não ganhou esse jogo. A torcida saiu super revoltada do estádio, querendo, mesmo com a derrota, tomar o chopp”.

O jogo do título

A semana seguinte à derrota foi de apreensão. Após perder a chance de erguer a taça diante de sua torcida, o Galo viajaria a São José do Rio Preto, com a obrigação de vencer o América fora de casa. A rodada final se aproximava e o Ituano ainda dependia somente de si, mas outros três times também sonhavam com o caneco, sendo aquele que estragou a festa em casa o principal concorrente.

Na partida final, o Ituano caminhava para um melancólico empate. A equipe não fazia um bom jogo, apesar de obter o controle da bola, e criava poucas chances de gol, conforme relato do zagueiro e capitão do time, Vinícius, ao Estadão. Até que, aos 40 minutos do segundo tempo, após jogada de Lelo pela direita, um muito contestado atacante Silvinho, que havia entrado há pouco tempo, marcou o gol consagrador, definindo o título inédito do Galo.

O vendedor Rodolpho Galdini, 29, que também administra a página “És Um Gigante Guerreiro”, dedicada a notícias do Ituano, aponta uma virtude importante da torcida rubro-negra, que foi fundamental nesse jogo: “apoiar até o último o segundo’

Moura, que estava em São José do Rio Preto, lembra que o título foi especial também porque 2002 marcou o centenário do campeonato. Sobre a comemoração em Itu, ele conta que todos os protocolos foram cumpridos, com direito adesfile em carro aberto e a delegação sendo recebida pelo prefeito”.

O torcedor Darci se emociona com a lembrança daquele dia de alegria e celebração. “O mais gostoso da festa do título foi que nós saímos antes do time, e no pedágio, voltando de São José, encostou os ônibus da torcida nas cabines e, nisso, encostou o ônibus do time. Foi a maior festa! Nesse mesmo dia, chegamos em Itu e tudo estava parado. Foi a maior festa na cidade.”

O legado da conquista

Aquele time dirigido por Ademir Fonseca, que substituiu Ruy Scarpino nas últimas rodadas, tinha caras que viriam a ser conhecidas posteriormente, como o lateral Lúcio, que passou por Palmeiras e Grêmio, o volante Richarlyson, que atuou em clubes como São Paulo, Atlético-MG e na Seleção Brasileira, e o volante Pierre, que jogou por Palmeiras e Atlético-MG mais tarde.

O título paulista assinalou o início de uma era vitoriosa para o Ituano. Ainda em 2002, na condição de campeão do estado, o clube se habilitou a disputar o Super Campeonato Paulista daquele ano, disputado, em mata-mata, contra São Paulo, Palmeiras e Corinthians. Após eliminar o Corinthians na semifinal e arrancar um empate contra o São Paulo no primeiro jogo da decisão em Itu, o Galo não resistiu ao Tricolor no Morumbi e ficou com o vice. A taça do Campeonato Brasileiro da Série C veio também, em 2003, e com ela o acesso à segunda divisão do torneio nacional, a qual disputou entre 2004, quando ficou na sexta colocação, e 2007, ano do rebaixamento.

Em 2014, o clube ainda conquistou o bicampeonato paulista, em pleno Pacaembu, vencendo, nos pênaltis, o Santos. Rodolpho Galdini, ao ser questionado se o título de 2014 ofusca o de 2002, é enfático: “sem dúvida nenhuma o título de 2002 continua especial para nós. O brilho do título de 2014 ainda acende sobre a torcida ituana, mas não ofusca nossa conquista de 2002. O primeiro título estadual será lembrado para sempre, com muito carinho”.

O Ituano para os torcedores

Rodolpho conta que, para ele, o time representa o “típico brasileiro que luta todos os dias para vencer, às vezes volta para a casa derrotado, mas quando a vontade de vencer supera o sofrimento, ele briga por suas conquistas, para ser aquilo que sempre sonhou ser. E nada melhor do que olhar para trás, ver seus tropeços e analisar o quanto aquilo te ensinou e te levou as glórias. Não existe um vencedor sem sofrimento”.

O fato do clube ser um dos meios de representar a cidade em todo o mundo também é lembrado pelo vendedor. Ele recorda que, em 2014, a torcida do Middlesbrough, time da Inglaterra no qual Juninho Paulista (prata da casa do Ituano) e Doriva foram ídolos, torceu junto pelo título paulista, e que os torcedores do Galo são muito gratos aos do “Boro”, como é chamado carinhosamente o time inglês, por essa atitude.

Torcida do ‘’Boro’’ apoiando o Ituano em 2014 (Imagem: @Stonehouse88)
Torcida do ‘’Boro’’ apoiando o Ituano em 2014 (Imagem: @Stonehouse88)

Darci ressalta a importância do clube também para sua família: “O Ituano representa muito na minha vida. Em 1986, o ano em que eu nasci, meu avô, Darci Belon, foi presidente do Ituano FC. A minha família inteira sempre torceu para o clube, e eu desde pequeno vou no campo. Sempre torci e sou muito conhecido. O Ituano é minha vida”.

Moura Nápoli conta,  por sua vez, sua dupla relação com o clube. “Na minha vida o Ituano representa – como torcedor – uma paixão. Já como profissional, é meu norte, meu ganha pão. Desde 1978, acompanho – às vezes mais proximamente, às vezes nem tanto – as coisas do clube. Fui assessor de imprensa, trabalho atualmente muito próximo ao dia a dia do clube. Amo o Ituano como amo o jornalismo, as coisas se confundem… Se hoje sou um profissional respeitado em Itu e região, devo boa parcela ao ‘Galo Guerreiro’”.

Hoje o Ituano, atual Campeão Paulista do Interior, disputa a 4ª divisão do Campeonato Brasileiro. A confiança da torcida em relação ao futuro do clube, gerido por Juninho Paulista, segue elevada. Não é à toa que Darci crava sem hesitar: “com certeza, o Ituano vai ser um time da elite”.

 

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