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Roxanne Roxanne: rap cinematográfico

“Quer saber o que é Rap puro? A escola ocupada pelos aluno! Marighella, Mandela, Guevara, Dandara, Zumbi Foram Rap antes do Rap existir Um texto do Ferréz, um samba do Adoniran São Rap tanto quanto qualquer som do Wu Tang Clan E as tia que leva sopão pros mendigo É Rap até umas hora, mais …

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“Quer saber o que é Rap puro?

A escola ocupada pelos aluno!

Marighella, Mandela, Guevara, Dandara, Zumbi

Foram Rap antes do Rap existir

Um texto do Ferréz, um samba do Adoniran

São Rap tanto quanto qualquer som do Wu Tang Clan

E as tia que leva sopão pros mendigo

É Rap até umas hora, mais que os MC umbigo”

 

Os versos do grupo brasileiro de rap Inquérito pintam um amplo conceito do estilo musical. Além das batidas, das rimas, até mesmo da música. Um modo de desafio ao que está posto, de denúncia, de crítica, de ação. 

A exemplo disso, o diretor americano Michael Larnell faz rap através do cinema. Ao retratar a história da pouco badalada Roxanne Shante, que na precoce carreira como MC teve de abrir mão da infância, o cineasta dá voz ao lado muitas vezes não escutado, assim como o hip hop tem feito para as comunidades pobres desde os anos 70.

Claro que os filmes temáticos do gênero não são novidade, mas é curioso ver que  enquanto a desconhecida rapper do Queens tem sua história contada de forma tão crítica, digna da música que faz, Notorious B.I.G e Tupac Shakur, dois dos maiores rappers da história, têm sua trajetória contada por filmes pouco questionadores. É nesse contexto que Roxanne Roxanne (2017), Notorious (2009) e All Eyez on Me (2017) podem ser comparados. 


Os três
 

Segundo a Billboard, Notorious B.I.G. já vendeu mais de 13.4 milhões de álbuns nos Estados Unidos. Conta com onze nomeações e quatro vitórias dentre os maiores prêmios da indústria, incluindo melhor rapper do ano de 1995 e da história, também pela Billboard. 

Tupac vendeu mais de 16 milhões de álbuns nos EUA e mais de 75 milhões ao redor do mundo. Dono de 19 nomeações e cinco prêmios, incluindo melhor álbum de rap dos anos de 1996 e 1997.

Já Roxanne Shante tem como maior sucesso seu primeiro single, aos 14 anos: Roxanne’s Revenge (1985), (A vingança de Roxanne), com 250 mil cópias vendidas. Na faixa, a adolescente cantava seu talento em meio aos assédios de três rapazes, um prenúncio do que seria a história de vida contada em sua cinebiografia.


O misógino contra o feminino

Biggie invade a sala impetuoso, agarra Faye pelo colarinho. Grita, busca respostas. Ela foge, se esconde. Ele lança o que estava no caminho contra a esposa. 

O momento de confronto entre o casal em Notorious (2009) é visto da ótica masculina. Na suspeita de infidelidade o marido estoura, vai atrás do embate e beira a violência doméstica. Claro que a temática é importante e a narrativa é verdadeira, mas e se o olhar voltar-se para a vítima?

Roxanne, de aparelho nos dentes e espinhas no rosto, é engravidada. Da sala, ouve os berros do recém-nascido intercalados com os seus, a adolescente é enforcada e esmurrada por ciúme, presa num relacionamento abusivo do qual não vê escapatória.

Ambas as cenas abordam a possessividade, o machismo levado às últimas consequências. No entanto, enquanto a primeira é um detalhe passageiro, o homem é agressivo e não há muito o que se questiona, a segunda torna-se uma denúncia, repete-se o tema e seu desenrolar sufocante, mostra-se a cicatriz.

Tal qual na essência do rap, em que a música é usada para expor uma realidade daqueles que não são ouvidos, o filme opta por trazer os holofotes a um outro lado da indústria do hip hop: o feminino. Não como pano de fundo para o homem, mas como protagonista, com seus próprios obstáculos, sendo eles de gênero ou de idade.

Em All Eyez on Me (2017), o retrato da prisão de Pac por estupro não abre ponto para discussão: ele é inocente e injustiçado. Versão não corroborada pela justiça na época,em 1995, nem pela suposta vítima. Ainda que o recorte busque discutir o racismo no judiciário americano, bater o martelo em defesa do homem em uma questão que não há consenso torna-se uma escolha questionável.


Maternidade

Biggie e Roxanne são pais na adolescência. Ele em um romance do colégio, ela em uma relação de pedofilia. Mais do que isso, o que difere os dois é uma questão de escolha.

Como homem milionário, ele vive uma paternidade ocasional, paga pensão à ex-namorada e faz visitas de vez em nunca, com a consciência tranquila. Foi o que lhe permitiram escolher.

Como uma mãe adolescente, ela não tem essa escolha. Tem de ser mãe. Mesmo com tudo que lhe é imposto, o filho está lá e não cuidá-lo não é uma opção.


O glamour da indústria 

A indústria da música foi muito generosa com os dois homens em questão: ambos se tornaram milionários, frequentavam as melhores festas, tiveram os melhores carros. E os filmes não poupam detalhes de todo esse glamour, o rap é bem retratado como promotor de ascensão social: os pretos do gueto enriquecem. Nenhum dos dois sai de casa sem as pesadas correntes de ouro.

Todo esse fator é importante, não tem mais por quê retratar, de novo, a negritude presa à pobreza. No entanto, as festas cheias de mulheres, as drogas e os carrões já foram mostrados, já foram foco do cinema inúmeras vezes. É aí que a história de Roxanne torna-se ainda mais relevante.

A garota, ingressante da indústria aos 14, é submetida a toda uma gama de problemas particulares da mulher. Seu cabelo é alisado até que se encaixe no padrão; o assédio, muitas vezes pedófilo, é constante e incentivado pelos homens a seu redor. “Dar corda aos fãs trabalha o imaginário, traz fama”. Nem a grana das gravações e shows é dela, os mesmos senhores que estão a seu lado dão um jeito de tomar o dinheiro para si.

O meio não foi bondoso com Shante, que mesmo fazendo o que gostava e sendo uma das primeiras mulheres a alçar vôo na profissão, foi privada da infância em prol disso. Seu filme explora a questão e é tão denuncista, tão rap em 2017 quanto sua música foi em 1985.

 

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