Em 1972, quando Carl Bernstein e Bob Woodward, repórteres do Washington Post, decidiram investigar a prisão de cinco pessoas que tentavam fotografar documentos e implementar escutas no escritório do Partido Democrata americano no Hotel Watergate, eles não poderiam prever que a reportagem em questão desencadearia na renúncia do então presidente dos Estado Unidos, Richard Nixon. Na época, a história parecia um tanto quanto aleatória. Bernstein estava prestes a ser demitido e ganhara a pauta como uma oportunidade de segunda chance de seu editor. Uma pauta que era ignorada pelos outros veículos e que já esfriava após a reeleição do candidato republicano.
Dois anos depois do início das investigações, quando finalmente o caso Watergate estourou, o jornalismo aprendeu que tratando-se da apuração dos fatos, é praticamente impossível prever qual acontecimento ganhará o poder de mudar o curso da História. De uma forma ou outra, há um certo elemento do acaso que levou um esquema de espionagem tão estruturado, envolvendo uma complexa rede de corrupção, a ser revelado de uma maneira tão estúpida. Um acaso que, de tão trágico, chega a ser cômico.
Por essa razão, para as gerações que não viveram o Watergate, sobretudo para quem não é estado-unidense, entender esse escândalo pode ser um tanto quanto desafiador. Afinal, se tivermos como ponto de partida a imagem de um Estados Unidos super organizado, que liderava os países capitalistas e, de uma forma ou de outra, derrotou a União Soviética no contexto da Guerra Fria, é estranho absorver a ideia de um fenômeno tão absurdo ter acontecido lá — ainda mais em plena década de 1970, quando o american way of life era despejado ao redor do mundo.
Nesse sentido, 18 ½ (2021), o novo filme do veterano Dan Mirvish, é interessante. A obra propõe uma imersão na atmosfera insana própria do espírito daquele tempo, trazendo para o presente a oportunidade de especular sobre o que aconteceu para que os fatos tenham se sucedido da maneira que ficou marcada na História.
Para tanto, Mirvish joga com a imaginação. A narrativa é centrada no mistério dos 18,5 minutos de áudio que foram ocultados das fitas entregues à Suprema Corte americana por Nixon em 1974. Na versão proposta, a gravação cai nas mãos da protagonista Connie (Willa Fitzgerald), que decide entregá-la à imprensa. Uma tarefa que vai se tornando cada vez mais difícil à medida que os outros personagens — inclusive o próprio jornalista Paul (John Magaro) — parecem estar a tal ponto hipnotizados com as revelações do Watergate que não conseguem agir naturalmente.

Pouco a pouco, Mirvish até consegue voltar a instigar a curiosidade do espectador. Depois da metade, o plot finalmente ganha velocidade, dando indícios que algo de interessante vai acontecer. O problema é que, para quem está entediado desde o começo, a sensação de passagem do tempo está mais aguçada e, por mais que a promessa seja bem construída, é inevitável achar algumas cenas demoradas. Cenas que talvez em outros contextos poderiam até ser cativantes — quem assistiu ao filme vai concordar que o monólogo de Lena (Catherine Curtin) com certeza seria melhor apreciado se não tivéssemos que escutá-lo por longos minutos.

Esse filme faz parte da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. Confira o trailer: