por Felipe Higa e Gabriel Lellis
felipemassahirohiga@gmail.com e g.lellis.ac@gmail.com
Ansiedade é o singelo título do filme dirigido por Min Hwan-ki, em cartaz pela 37ª Mostra Internacional de cinema em São Paulo.
O filme é uma espécie de reality show caseiro sobre o dia a dia de um grupo de jovens designers idealistas que fundam uma marca de roupas pautada em valores éticos e sustentáveis.
A indústria têxtil é hoje uma das mais contestadas no mundo. Grandes marcas, como a Zara, são acusadas de utilizar mão de obra em regime semi-escravo e da utilização de métodos de produção agressivos ao meio ambiente. No caso específico da Coréia do Sul, um pólo asiático de produção têxtil, essa realidade é ainda mais latente. A intensa competitividade e demanda de produção recaem sobre as duras condições de trabalho impostas nas confecções.
Em cena não há apenas uma tentativa de empreendedorismo, mas sim uma batalha constante contra o capitalismo e seus ideais de lucro. O projeto inicial era criar uma marca transparente, que passasse mensagens positivas a seu publico, desenvolvesse um plano de carreira de forma que todos os funcionários ganhassem de forma justa e equiparada e protegesse o meio ambiente através de produtos fabricados por fontes recicláveis.
É possível ser utópico em um sistema econômico como o atual? Somos de forma pessimista levados a crer que não. Tudo gira em torno do dinheiro. Como sustentar e sobreviver uma empresa cujos valores são antagônicos aqueles que sustentam a sociedade moderna?
O título, Ansiedade, reflete a sensação que está presente a todo o momento, ao buscar metas ou encontrar objetivos e motivações que impulsionem seus trabalhos. É também o que encerra o filme, com o diálogo entre um dos gerentes da marca e o ex-designer, que questiona por mais quanto tempo ele irá vagar de emprego em emprego buscando sua satisfação. Três anos, ele diz. Ao final, todos são ansiosos. Movidos por ânsias individuais que colidem quando confrontadas com as condições laborais e a unidade da empresa.
O filme, entretanto, não nos atinge, talvez por tratar de um caso ou realidade muito específicos, voltado o público sul-coreano que está ciente da importância que a moda tem e das condições de trabalho desse setor no país. O atrativo, a criação de uma forma alternativa de empresa, perde sua força nas intermináveis discussões e takes meramente ilustrativos. O documentário limita-se a retratar um caso e não expande suas reflexões para algo maior.
Apesar da interessante reflexão sociológica, falta no filme ritmo para que o seu curto tempo de duração (90 minutos) não se torne algo massante e arrastado. O diretor utiliza técnicas de filmagem simples, colocando em segundo plano a parte tecnológica e priorizando o conteúdo documental em detrimento do fator estético.
Ansiedade pode não ser o melhor filme da Mostra Internacional, mas surpreende na medida em que traz um estilo diferente daquele que estamos acostumados. A visão artística do diretor Min Hwan-ki pode causar estranheza para o público que não está acostumado com o cinema sul-coreano. Apesar da falta de profundidade reflexiva em alguns momentos, a proposta não deixa de ser interessante. Cabe ao espectador a compreensão e paciência para tentar entendê-lo.