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Boi de Lágrimas: a poesia no cinema

Boi de Lágrimas (2018) tem como proposta ser um filme de horror sobre questões políticas e cultura popular, trazendo cinco personagens centrais de maneira abstrata, todos sem nome e sem voz. Os personagens não falam e suas expressões faciais dizem o que a boca não pode. Além disso, o filme possui linguagem experimental poética e …

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Boi de Lágrimas (2018) tem como proposta ser um filme de horror sobre questões políticas e cultura popular, trazendo cinco personagens centrais de maneira abstrata, todos sem nome e sem voz. Os personagens não falam e suas expressões faciais dizem o que a boca não pode. Além disso, o filme possui linguagem experimental poética e foge daquela convencional no mundo do cinema.

Logo no início estão formigas trabalhando em conjunto, figuras com faces cansadas e discursos políticos importantes proferidos em diversas línguas. Essas cenas se mesclam, se confundem e deixa curiosidade para o que vem a seguir.

No longa não há linearidade e tão pouco uma narrativa, são cenas soltas, que não possuem necessariamente ligação umas com as outras. Toda essa abstração incomoda o espectador, pois sempre que se acha que a história vai começar a fazer sentido, tudo muda e quem assiste fica ainda mais perdido. Mas quando se entende que o filme não precisa fazer sentido, essas cenas jogadas se tornam quase mágicas.

Os olhas falam quando não se tem voz [Divulgação]
Há um show de interpretação dos atores, ponto crucial para o longa. Como não há falas, muito das expressões faciais dos cinco personagens foi utilizado para passar a tristeza, a dor e o sofrimento sentidos, impactando quem assiste e mostrando o quão capazes de dizer os olhos são.

Juntando isso à televisão, quase sempre ligada com ruídos ou cenas de manifestações, e aos efeitos visuais, como a granulação e tons extremos de vermelho, se tem um filme incômodo e de sensações, que pode dar muito certo ou muito errado.

Expressões de sentimentos estão presentes de diversas formas, como no gozo do sexo para a filha do tocador de pandeiro ou na violência do delírio do amigo da família ao imaginar sua esposa gravida dando a luz. Nesta, há o flerte com o terror psicológico, transformando o parto em uma cena que soa quase como um exorcismo, conectada, através de sons, à ressurreição do Bumba meu Boi.

A obra é poética. Desde sua forma ao apresentar os personagens até a maneira como trata o cenário político, usado como fundo para o longa. O filme é incômodo, confuso, delirante, chocante, impressionante e profundo. É fácil não gostar  e impossível entender. São muitas possibilidades de interpretação e nenhuma resposta pronta é entregue. Ele é apenas o que é e pode tirar o sono de quem se aventura a assistir.

Boi de Lágrimas estreia no dia 24 de janeiro de 2019. Veja o trailer:

por Thaislane Xavier
thaislanexavier@usp.br

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