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‘É Assim Que Acaba’: um filme de verdades nuas e cruas

A adaptação do famoso 'best seller' de Colleen Hoover não é apenas fiel e cuidadosa para seus fãs, como também um filme apaixonante para todos os públicos
Blake Lively como Lily em 'É Assim Que Acaba'
Por Clara Viterbo Nery (claravnery@usp.br)

Baseado no livro homônimo de Colleen Hoover, considerado sucesso no Tik Tok, É Assim Que Acaba (It Ends With Us, 2024) chega aos cinemas com grande expectativa por parte dos fãs da obra original. A trama conta a história de Lily Bloom (Blake Lively) que, depois de se mudar para Boston para abrir sua própria floricultura, conhece Ryle (Justin Baldoni), um neurocirurgião, com o qual se envolve em um relacionamento. Mesmo com uma premissa simples de comédia romântica, o filme se dedica à profundidade do enredo desses personagens e entrega não apenas uma adaptação fiel ao livro, mas também uma história sensível e emocionante capaz de agradar um novo público.

Com direção de Justin Baldoni de Jane the Virgin (2014-2019), que também dá vida à Ryle, É Assim Que Acaba passou por algumas polêmicas durante sua produção: o envelhecimento dos personagens em relação à narrativa original preocupou o público. Felizmente, é possível dizer que a escolha de elenco não poderia ter sido melhor. Blake Lively, Justin Baldoni e Brandon Sklenar, que interpreta Atlas, dão a vida aos papéis principais de maneira primorosa, de forma que captam a essência dos personagens e encantam os espectadores. Além disso, com atores mais velhos, a história toma um rumo mais maduro, criando um senso de responsabilidade maior ao contar essa narrativa e ao desenvolver temas mais complexos. 

Como adaptação, de maneira geral, o filme é extremamente fiel. Mesmo com o desafio de ter que condensar uma história de mais de 300 páginas em apenas 2 horas de duração, o roteiro de Christy Hall traduz o livro às telonas com maestria. Todas as cenas mais importantes da história estão presentes, conduzindo a obra de maneira direta aos principais eventos da trama, mas sem perder o seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, traz inúmeras referências e falas idênticas às do livro, o que captura o afeto dos fãs.

Além de Baldoni, Blake Lively também assume um papel importante atrás das câmeras, sendo também produtora executiva do projeto  [Imagem: Divulgação / Sony Pictures]

A forte similaridade com seu material original traz também os mesmos problemas do livro para tela. O excesso de clichês e romance dentro de uma história que não deveria ser vendida dessa forma são aspectos que podem incomodar o público que não leu os livros, mas que não estragam a narrativa de forma geral. Diferente de como a obra de Colleen Hoover  apresenta os casais e o conflito, o roteiro do filme deixa uma pista logo no começo de que o primeiro ponto de vista mostrado não é confiável e, posteriormente, mostra cenas por outro ângulo.

A ideia de romantização é uma das grandes críticas envolvendo o livro, e com apenas uma fala, indicando que a personagem principal não seria uma narradora confiável, o roteiro busca rever essa afirmação. A adaptação cinematográfica dá a  entender que muito da visão romantizada não passava de uma perspectiva distorcida da personagem que também não enxergava sua própria situação. Recursos simples como esse, com auxílio da montagem e edição do longa, são essenciais para trazer um tom mais maduro e responsável para essa história. 

Outro exemplo de como a montagem é essencial na adaptação desse filme é através da inserção de flashbacks. O filme traz, por meio da intercalação de cenas do passado e presente, a apresentação de dois casais muito diferentes. Essa apresentação levemente distinta de como é no livro, traz um certo frescor para quem já conhece a história. As temporalidades intercaladas também proporcionam uma nova perspectiva e uma inevitável comparação entre o desenvolvimento dos casais, o que contribui para o amadurecimento da construção do ponto de vista do público.

A interpretação de Isabela Ferrer e Alex Neustadter como, respectivamente, as versões mais jovens de Lily e Atlas nas cenas de flashback são possivelmente o ponto alto do filme. Para o público que não conhece o livro, não existe maneira melhor de apresentar um personagem tão apaixonante e importante como o Atlas. Todas as suas interações, de maneira geral, são muito bonitas e delicadas e apresentam a situação dos personagens melhor do que qualquer diálogo poderia fazer. 

A única ressalva à ideia de amadurecimento da narrativa é quanto à sua classificação indicativa. Em uma tentativa de ser mais abrangente para todos os públicos, a indicação de 14 anos acaba por suavizar determinados momentos na trama que poderiam ter sido mais desenvolvidos. A principal mensagem não é perdida, mas traz uma ideia de que faltou um pouco mais para aquela abordagem.

O nome do restaurante de Atlas que, no filme, se chama Root, no material original se chama Bib’s, sigla para Better in Boston, e que virou uma referência em uma cena do filme [Imagem: Divulgação /Sony Pictures]

O  saldo para o filme como um todo é positivo. O gênero melodramático misturado com o romance é bem trabalhado e cativa os amantes do gênero, trazendo uma boa história que é capaz de emocionar a todos, fã ou não. Os detalhes em toda a produção parecem terem sido escolhidos à dedo — desde a produção de cenários, como a floricultura Lily Bloom ‘s, até a trilha sonora, que traz músicas de Lana Del Rey e Taylor Swift.

Para os amantes do livro, não tem como não se apaixonar por sua adaptação. Já como filme individual, É Assim Que Acaba é uma bela história com uma mensagem importante que, com certeza, ainda trará muita repercussão e novos admiradores para o universo de Colleen Hoover.

O filme já está disponível nos cinemas. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Divulgação/Sony Pictures

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