Por Giovanna Accioli (giovannagaccioli@usp.br)
O Victoria’s Secret Fashion Show 2024 aconteceu no último dia 15 de outubro e trouxe modelos renomadas da atualidade, como as irmãs Gigi e Bella Hadid, e nomes consagrados dos anos 90 e 2000, como Adriana Lima, Kate Moss e Tyra Banks. As apresentações durante o desfile ficaram com a veterana na indústria musical, Cher, e, como atrações do momento, as cantoras Tyla e Lisa performaram. Pela primeira vez com transmissão do pink carpet e da passarela ao vivo nas redes sociais e no YouTube, a marca de lingeries retornou ao calendário da moda com discurso de maior diversidade nos corpos que usam suas asas luxuosas.
O desfile aconteceu em Nova York, nos Estados Unidos, e foi transmitido em vários países com início às 20h do horário de Brasília. Às 19h30, as apresentadoras Olivia Culpo e Tefi Pessoa já haviam começado a entrevistar celebridades, atrações do show e modelos. Uma das entrevistadas foi Isabeli Fontana, que disse ter se sentido divina e comentou que suas asas favoritas são as pretas.
Os últimos anos
Em 2018, o então diretor de marketing da marca, Ed Razek, em entrevista à Vogue, disse que modelos transexuais e plus size não faziam parte da fantasia que a Victoria’s Secret vendia. A marca sempre propagou a ideia de corpo perfeito e inalcançável. No entanto, dado o crescimento dos discursos sobre diversidade na última década, a marca saiu dos holofotes por não se adaptar ao mercado e tampouco aos novos ideais de uma era.
Após polêmicas envolvendo transfobia, gordofobia e até mesmo violência sexual, a Victoria’s Secret anunciou o fim dos desfiles em 2019. Desde então, a marca tenta um rebranding com a contratação de uma gestão apresentada como inclusiva, além de novas modelos plus size e a primeira modelo trans, a brasileira Valentina Sampaio, que estreou nas passarelas da marca neste ano.
Em 2023, o documentário Victoria’s Secret The Tour ‘23 foi lançado com intuito de apresentar a nova imagem da Victoria’s Secret. O desfile, gravado em diversos países com modelos plus size e sem muito glamour e sensualismo característicos da marca, não foi bem aceito pelo público, pois pareceu uma inclusão forçada e pouco original.
We are back: Lisa abre o show e Gigi Hadid é a primeira a desfilar
Lisa entrou na passarela em uma moto e abriu o show com a música Rockstar, seu primeiro single solo. A apresentação contou com dançarinas em figurinos pretos e sensuais, trazendo pele à mostra e elementos mais pesados, como couro, botas e brilho. Para finalizar o show, a cantora cruzou a passarela ao som de uma batida de funk.
A modelo Gigi Hadid foi responsável pela abertura do desfile. Ao surgir do chão por uma passarela elevatória, a modelo desfilou ao som da música Never Tears Us Apart com figurino rosa e asas incrivelmente grandes que abriam e fechavam. Com a frase “We are back” (Nós estamos de volta) no telão, Hadid saiu de cena para que outras modelos cruzassem a passarela.
Uma das modelos brasileiras mais importantes da marca, Adriana Lima, fechou o primeiro bloco do desfile, chamado Modern Heritage, vestida com uma roupa quadriculada em tons de rosa e preto e uma asa holográfica, sem plumas e com aspecto mais moderno.
Apresentação de Tyla
As luzes passaram do rosa para o azul na entrada da dona do single Water, Tyla. A cantora, que usava asas brancas, se apresentou na passarela no ato Twinkle, durante a passagem de outras modelos vestidas em tons de nude, azul e prateado. Além de acessórios como vestidos transparentes e ombreiras com apliques brilhantes, as asas criativas chamaram a atenção de quem assiste. A modelo de maior destaque desse momento foi Barbara Palvin, que usou um vestido longo com brilhos e uma asa prateada.
Kate Moss ao som de I Love Rock ‘N Roll
Em um dos momentos do desfile bastante comentados nas redes sociais, a modelo influente dos anos 90 e ícone da estética rockstar girlfriend, Kate Moss, abriu o ato Heroes com asas pretas e lingeries de renda da mesma cor. Ao som de I Love Rock`n Roll tocada pela guitarrista Orianthi, Moss desfilou entre dançarinos e transmitiu seu poder ao atravessar a passarela. Após a passagem de Moss, outras modelos entraram com figurinos pretos e pratas, que levavam apliques de estrelas.
Flores e peças mais românticas
Os destaques do ato mais floral do desfile, o Atelier, foram a consagrada brasileira Alessandra Ambrósio e a modelo Ashley Graham, que desfilou com lingerie preta e asas no mesmo tom, porém com flores douradas aplicadas. As demais modelos usaram preto e vermelho para evidenciar o romantismo presente nas peças. Lisa voltou ao palco cantando Kiss Me, música que compõe trilhas sonoras de filmes românticos.
Cher, “a mãe da moda”, e Tyra Banks fecham o último ato
A icônica Cher abriu o último segmento do show com entrada dramática e cantou seus sucessos Strong Enough e Believe. As dançarinas na passarela performaram uma coreografia descontraída e as modelos são mostradas no telão curtindo a apresentação da cantora no backstage.
A maioria das últimas lingeries da coleção foi vermelha, apenas com detalhes brancos ou pratas. No último ato, ficou evidente que os principais destaques do Victoria’s Secret Fashion Show, assim como em edições passadas, foram as modelos famosas: elas desfilaram de forma descontraída e interagiram com o público. Para fechar o ato Unwrap the Magic, a penúltima a desfilar foi Bella Hadid, uma das maiores modelos da atualidade, que recentemente voltou às passarelas.
Para encerrar a volta grandiosa da Victoria’s Secret ao mundo da moda, a escolhida para desfilar foi a supermodelo Tyra Banks, que usou roupa preta brilhante e uma longa capa prateada. O seu retorno surpreendeu grande parte do público, já que Tyra foi uma das modelos mais importantes da marca e estava no primeiro desfile, em 1995. Por ser a primeira modelo negra da companhia e colecionar muitas conquistas em sua carreira em uma época com menor inclusão, sua passagem para o fechamento do desfile foi simbólica.
A diversidade ainda é limitada
O atual casting da Victoria’s Secret conta com 50 modelos de 25 países diferentes e não coloca mais em destaque apenas as que se encaixam em padrões de beleza inalcançáveis – altas, magras e loiras. No entanto, elas ainda são maioria na passarela. O novo elenco contém modelos não brancas, com destaque para Tyra Banks e Imaan Hammam, de ascendência egípcia, que desfilou após a abertura do primeiro bloco por Gigi Hadid.
Pela primeira vez, duas modelos transgênero representaram a marca em seu desfile de lingeries. Valentina Sampaio desfilou no ato com pegada mais rockstar e, apesar de não ter usado asas, levou um grande laço nas costas. Além da brasileira, a modelo estadunidense, Alex Comsani, desfilou ao som de Water com asas e roupas prateadas.
A marca também deu destaque para as modelos plus size, Ashley Graham e Paloma Elsesser; e para as modelos Carla Bruni, de 56 anos, e Eva Herzigova, de 51, para demonstrar a inclusão de modelos mais velhas, que ainda têm pouco espaço no topo do mundo da moda.
Mesmo com os esforços para ampliar a diversidade, as modelos extremamente magras ainda são o grande destaque no desfile, enquanto as plus size ainda aparecem menos. Apesar de ter um histórico de exclusão de corpos fora do padrão magro, a Victória´s Secret não é a única marca que se limita a diversificar seu casting hoje. Geralmente, a inclusão ainda é maior em marcas e criadores menos conhecidos no mercado, sem grande visibilidade. No Fashion Show deste ano, apesar de mínima, a diversidade não pareceu superficial e provou que, se bem elaborada, é aceita pelo espectador e consumidor, que hoje se importam ainda mais com assuntos relacionados à pluralidade de corpos.
O cenário fashion atual é favorável para a Victoria´s Secret voltar ao sucesso no mercado, com tendências nostálgicas dos anos 2000 e 2010. As asas, perfumes e os famosos roupões listrados rosa e branco da marca têm potencial de retornar ao imaginário do público, principalmente ao dos jovens que não viveram a era de ouro e glamour das angels.
*Imagem: Divulgação/YouTube/Victoria’s Secret