Kubrick era um gênio do cinema. Tal fato se corrobora em seus filmes — são considerados obras de arte e clássicos do cinema. O diretor americano também é conhecido por seu perfeccionismo, desde o roteiro — repetindo dezenas de vezes takes de seus filmes — até mesmo na parte visual de suas obras. 2001: A Space Odyssey (2001: Uma Odisseia no Espaço, 1968) por exemplo, levou 5 anos para ser feita e é até hoje, 50 anos após seu lançamento, considerada por muitos o melhor filme de ficção científica já filmado.
Stanley Kubrick era um homem muito à frente de seu tempo; essa frase é extremamente clichê, mas é necessária para descrevê-lo. A construção de suas obras cinematográficas se constituem através da síntese de diversos elementos de parelha importância. Os elementos visuais do filme, bem como os enquadramentos, a perspectiva e os pontos de fuga que Kubrick utiliza são essenciais para sua obra.
Quando assistimos um filme ficcional, é feito um pacto entre o espectador e o diretor para causar o efeito de aquilo é real. Uma das maneiras que Kubrick utiliza para produzir esse efeito é utilizar elementos em seus enquadramentos que contribuam para essa extensão da realidade. Ele resgata a perspectiva da pintura renascentista com pontos de fuga – através de linhas que direcionam-se para um único ponto. A pintura renascentista e a fotografia (bem como a cinematografia) têm o mesmo objetivo: alcançar a tridimensionalidade a partir de imagens bidimensionais.
Kubrick utiliza os ângulos de tomada, simetria, linhas imaginárias, centralização e profundidade, para causar no espectador diversos efeitos, como por exemplo suspense e tensão. Um exemplo evidente é o filme The Shining (O Iluminado, 1980), onde ele utiliza esses elementos para causar enorme desconforto ao seu espectador. Na clássica cena das gêmeas no corredor por exemplo, Kubrick utiliza o ponto de fuga situado nas gêmeas, direcionando o olhar do espectador para elas, e assim, obtendo a tensão no momento.
Em incontáveis momentos de seus filmes podemos observar esses mesmos efeitos. Kubrick utiliza seu enquadramento para que se possa obter a sensação de imersão no filme, para que essa barreira entre espectador e tela de cinema se rompa e possamos ter uma extensão de nossa realidade. Por exemplo, na cena do filme Paths of Glory (Glória Feita de Sangue, 1957), são apontados fuzis para uma única pessoa e, através do ponto de fuga, é direcionado o olhar do espectador – passando pelas armas e centralizando-se na pessoa que está amarrado ao poste pronta para ser fuzilada. Ele consegue aproximar o espaço fílmico (recorte promovido pelo quadro) do espaço real, permitindo que o espectador adentre a imagem e faça, assim, parte da obra.
Kubrick deixou sua marca na história do cinema – influenciou diversos cineastas e inspirou inúmeras obras cinematográficas. Wes Anderson, por exemplo, é um admirador declarado de Stanley. Tal fato é evidente se compararmos fotogramas de Moonrise Kingdom, de 2012, e Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987), além de traços de influência de O Iluminado em O Grande Hotel Budapeste (The Grand Hotel Budapest, 2014).
Bons cineastas possuem bom entendimento de toda a história da imagem, e portam imagens que admiram e influenciam seu trabalho. Kubrick influenciou, por exemplo, renomados cineastas como Martin Scorsese, Spielberg, Tarantino, David Lynch, David Fincher, entre muitos outros.
Por fim, um vídeo feito pelo usuário Kogonada que mostra os enquadramentos de Kubrick em alguns de seus filmes:
por Guilherme Roque
guilhermeroque@usp.br