Nas ruas de Havana, em Cuba, o senhor Andrés e seu jupará Vivo alegram o dia daqueles que passam por ali através de suas apresentações musicais. É assim que começa A Jornada de Vivo (Vivo, 2021), com uma cena inicial animada que demonstra bem a que o filme veio.
A rotina da alegre dupla musical é interrompida, no entanto, por alguns acasos do destino, que fazem com que Vivo emerja em uma aventura na missão de entregar uma carta de amor escrita por Andrés à Marta Sandoval, que fará o último show de sua carreira em Miami, nos Estados Unidos.
A fórmula de A Jornada de Vivo é algo seguro e que já sabemos que irá cativar logo de início, afinal, quem não gosta de um animal fofinho que canta e dança? Os personagens são engraçados e facilmente identificáveis. A exemplo disso temos Gabriela, que retrata muito bem uma criança no início de sua pré-adolescência: teimosa, tagarela e curiosa.
Ao contrário do receio que algumas pessoas possuíam, o filme não é uma cópia genérica de Viva – A Vida é uma Festa (Coco, 2017) ou de outras produções famosas. Inicialmente é possível estabelecer algumas comparações a essas animações conhecidas, sobretudo pela explosão de música e cores (e, no caso de Viva – A Vida é uma Festa, pode-se estender às semelhanças a ambientação latina), mas a história faz questão de se distanciar dessas referências gradualmente, de modo que essa percepção inicial, ao final do filme, já tenha sido descartada.
Um dos pontos fortes do filme é, sem dúvida, a trilha sonora. A animação é um musical em que todas as músicas são cantadas pelos personagens, mas diferente do que fomos acostumados pelo mundo da Disney. Com composições de Lin-Manuel Miranda, famoso pelo musical Hamilton, as canções se sobressaem principalmente pelo rap e pelo hip-hop e ajudam a manter o ritmo da narrativa sempre lá no alto. Contudo, nenhuma música é tão marcante ao ponto de ficar grudada na cabeça após o filme terminar.
Aliás, isso também pode ter a ver com o ritmo da narrativa, que não possui um equilíbrio muito grande. O filme tem muito mais altos do que baixos, e às vezes ignora a necessidade de alguns respiros maiores. Boa parte de A Jornada de Vivo são cenas extremamente agitadas e coloridas, o que faz jus aos personagens e músicas elétricos que dominam a história e garantem uma certa fluidez ao longo de todo o filme, evitando a perda de atenção por parte do espectador. No entanto isso torna mais difícil o despertar de uma maior sensibilidade em cenas mais emotivas e tristes, já que rapidamente a atmosfera energizante retorna, além de fazer com que as cenas que contêm os clímax e os plots da história percam um pouco de seu impacto justamente pelo ritmo constantemente acelerado.
Isso também transparece através da grande quantidade de músicas. É claro que, por se tratar de um musical, a trilha sonora cantada tende a aparecer mais, mas, nesse caso, por vezes as canções engatam umas nas outras, isto é, sem um tempo razoável para absorver a anterior. Considerando ainda que boa parte se trata de músicas animadas, com muito rap, hip-hop e sem refrões muito repetitivos, em alguns momentos o longa oferece informação demais em um curto período de tempo. Por outro lado, toda essa agitação pode ser o diferencial para cativar a atenção e o gosto do público infantil ainda mais.
Um detalhe muito interessante são os flashbacks de Andrés e Marta, que fogem do padrão 3D do resto do filme. As cenas compostas por um 2D conferem um toque estético especial à narrativa sem deixar de lado a música e as cores, isto é, sem se distanciar do universo proposto pela história, além de aprofundar a relação, o passado e os sentimentos dos dois personagens.
Em suma, A Jornada de Vivo, em meio a tantas animações já consolidadas como parte da cultura pop, não consegue ser marcante ao ponto de se tornar uma obra totalmente memorável e tocante. No entanto não deixa de ser um bom filme que consegue proporcionar diversão do começo ao fim.
A Jornada de Vivo está disponível para os assinantes da Netflix. Confira o trailer dublado:
*Imagem da capa: Divulgação/Netflix