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Abel Ferreira e Tiago Costa visitam a Bienal do Livro, falam sobre sua obra e encantam torcedores

Analista de desempenho do Verdão conversa com exclusividade ao Arquibancada e confidencia algumas curiosidades sobre o livro Cabeça Fria, Coração Quente, do qual é co-autor

A Bienal do Livro de São Paulo teve, como país convidado da edição de 2022, Portugal. O presidente português Marcelo Rebelo de Sousa participou da abertura do evento, que ocorreu entre os dias 2 e 10 de julho, e outros 21 representantes vieram diretamente das terras lusitanas para São Paulo. Sob o lema “O urgente é viver encantado”, houve homenagens a José Saramago (que completaria 100 anos em 2022), discussões sobre literatura, língua portuguesa, ativismo, alteridade, memória, gastronomia e futebol.

Evidentemente, todos esses pontos são relevantes, mas não há dúvidas de que o que mais chamou a atenção do público no Expo Center Norte foi o futebol. Com as presenças ilustres de Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, e de Tiago Costa, analista de desempenho dos adversários do Verdão e principal autor do livro Cabeça Fria, Coração Quente, a Bienal ganhou um rosto novo, diferente do usual, mas não menos agregador.

Tiago Costa esteve presente no Estande de Portugal (E62) da Bienal do Livro na manhã de quinta-feira (7). Ele é um dos cinco membros da comissão técnica portuguesa que veio ao Brasil em novembro de 2020 para comandar o Palmeiras e que conquistou um total de cinco títulos: bi-campeonato da Libertadores da América, Copa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Campeonato Paulista. Abel Ferreira (treinador principal), João Martins (responsável pela parte física), Vitor Castanheira (responsável pela ligação base-profissional), e Carlos Martinho (analista de desempenho do Palmeiras), completam a comissão alviverde, escolhida a dedo por Abel. Cabeça Fria, Coração Quente é, então, um produto feito a dez mãos.

Em seu bate-papo, mediado por Fernando Galuppo, jornalista e funcionário do Palmeiras, Tiago abordou alguns detalhes e referências presentes no livro, que muito mais do que exaltar as conquistas do time palmeirense, fala sobre bastidores, dificuldades, estratégias, emoções e reflexões, além de abordar questões táticas e do futebol como meio profissional de atuação.

Ele também deixou um recado em prol da valorização da cultura, algo sempre salientado por Abel Ferreira: “Futebol e cultura deveriam andar de mãos dadas. E num espaço cultural em que estamos, é urgente nós humanizarmos o futebol, porque olhamos para o jogador e para o treinador como uma máquina, e temos sentimentos. E depois, estou a olhar para este gesto com a mão na cabeça (vide capa do livro), e temos que entender o futebol como um jogo mais cerebral do que com os pés”, completou, comparando o esporte ao xadrez,no qual o protagonismo da mente sobre a parte física é mais naturalizado.

Palmeiras e Abel Ferreira na Bienal do Livro
Costa admitiu que, por mais prazeroso que seja produzir um material tão rico, atender a prazos em meio ao cansaço da temporada tornou o processo desgastante. Apesar disso, ele se orgulha do resultado e comparou o livro a um filho, já que sua esposa, presente no evento, está grávida. [Foto: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé]
Quando a reportagem do Arquibancada chegou à sala de bate-papo, foi colocada uma música, cuja letra está presente no livro. Os versos têm uma relação tão intrínseca com o que Abel diz em seu livro, em suas coletivas de imprensa e aos seus jogadores, que poderiam ter sido compostos por ele. Trata-se de “Melhor de Mim”, da cantora portuguesa Mariza. “É preciso perder, para depois se ganhar” é, talvez, o verso mais chamativo da canção, que emocionou todos no estande de Portugal, incluindo Tiago Costa.

Nesse cenário, nossa reportagem conseguiu uma entrevista exclusiva com Tiago Costa, na qual ele foi perguntado sobre o processo de produção do livro. Afinal, Abel, Tiago e os demais treinadores do Palmeiras (Abel faz questão de se referir a todos como treinadores, pois são todos profissionais formados e licenciados) sempre comentam sobre a insalubridade do calendário futebolístico brasileiro.

A reclamação se refere a quanto a questão afeta jogadores e treinadores, ainda que mentalmente. Isso leva a um questionamento: como escrever um livro, tão detalhado, dotado de referências musicais e culturais do Brasil e de Portugal, em tão pouco tempo, se nem tempo para treinar e descansar eles tinham? E Tiago nos explica:

“Primeiramente, este livro acabou por ser escrito durante quase um ano. Começamos a escrever quando nós chegamos, não logo, mas em janeiro de 2021. E terminamos de escrevê-lo em dezembro. E, na verdade, eu diria que 20% do livro foi escrito até novembro, e 80% do livro foi escrito no mês de dezembro, nas férias (risos), que não foram férias. A minha esposa sabe perfeitamente que não foram férias [aponta para a esposa]. Foi nessa fase que nós conseguimos concluir, que eu consegui realmente escrever o livro e avançar no mês de dezembro. Porque para quem tá lá, é muito difícil ter o discernimento de chegar ao final de um dia de trabalho e escrever. Teve dias que conseguia, teve dias que não conseguia, mas realmente 80% foi escrito em dezembro”.

Após a palestra, Tiago se direcionou à livraria de Portugal, onde seu livro estava sendo amplamente exposto e comercializado, e pôs-se à disposição dos torcedores e curiosos presentes para fotos e autógrafos. Isso não estava previsto na programação, e o analista de desempenho do Palmeiras tratou os presentes com gentileza, sem pressa e até conversando com quem quisesse.

Algumas horas depois, às 17:45, ocorreu um bate-papo de Abel Ferreira com o embaixador de Portugal em São Paulo, Luís Faro Ramos. Já nas palestras anteriores e nas imediações da Arena Cultural Pólen, onde aconteceria o evento, era possível ver a imensa movimentação de palmeirenses, uniformizados ou não. A imprensa e a TV do clube também estavam presentes para registrar o momento.

Abel chegou, com alguns minutos de atraso, e fez vir abaixo a arena. Recebido aos gritos de “Abel, Abel”, o treinador, tímido como é, sentou-se, acenou para o público e começou a responder às perguntas do embaixador, que atuou como um mediador. Em cerca de meia hora, ambos abordaram a dedicação de Abel aos estudos e à sua formação desde a época de jogador, sua chegada e adaptação ao Brasil e seu relacionamento com jogadores, torcida e imprensa.

Dentre esses tópicos, Ferreira fez questão de enaltecer a importância dos estudos para seu sucesso profissional: “Os meus amigos iam todos pra balada e eu não tinha férias. Dediquei 100% da minha atenção aos estudos e ao futebol para completar minha graduação, para ser melhor profissional e ser humano”.

 

Palmeiras e Abel Ferreira
“Se têm a oportunidade [de estudar], agarrem-na com unhas e dentes, porque educação e formação é o melhor que o ser humano pode ter”. Abel Ferreira estimulou a busca pelo estudo e pela capacitação. [Foto: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé]
A seguir, o treinador do Palmeiras comentou sobre o significado de “família” a seu ver. Sabe-se que Abel está afastado de seus parentes desde que chegou ao Brasil e que a vinda de sua esposa e de suas filhas a São Paulo no meio de 2022 foi um requisito para a sua renovação  de contrato, em março.

“Família é um conjunto de pessoas que você sabe que nas dificuldades vai te ajudar. É o equilíbrio, o corpo de abrigo, e aconteça o que acontecer vai estar lá”. 

Ele ainda disse ter duas famílias: a biológica, que está em Portugal, e os funcionários do Palmeiras, que ele diz o conhecerem como pessoa, com suas qualidades e defeitos. Nesse momento, o português se emocionou, comovendo a plateia da Arena Cultural Pólen.

Abel Ferreira ainda proferiu alguns dos dogmas de sua equipe técnica, como o fato de que sua missão é deixar os jogadores, o clube e o futebol brasileiro melhores do que quando os encontrou e viver o presente de forma intensa, sem se preocupar com passado e futuro. Fazendo um paralelo entre futebol e vida, ele disse que “O ser humano não foi feito para sofrer” e que “Ninguém é feliz sozinho”, valorizando o companheirismo que conseguiu instaurar dentro do clube.

Por fim, Abel contou um pouco sobre sua adaptação ao Brasil, sobre ter aprendido a falar mais devagar para ser compreendido, e agradeceu aos palmeirenses pelo apoio, e pediu que continuem torcendo, em todos os momentos. “O futebol existe para nos unirmos, para que cada um possa pertencer a uma família. Eu sei que os palmeirenses se identificam com o Palmeiras, porventura os de outros clubes com outros, mas isso não significa que nós tenhamos que nos desrespeitar”.

“Eu sou do Palmeiras, eu gosto do Palmeiras. Não me perguntem por que, algo especial aconteceu, magia fez-se dentro deste clube, deste elenco”

Depois, o treinador partiu para o Espaço de Autógrafos ZAP, no Pavilhão Azul da Bienal, onde assinou livros e tirou fotos com os torcedores sortudos que conseguiram as poucas senhas oferecidas. O processo para conseguir as senhas ocorreu online, ao longo da semana, e gerou irritação em muitos torcedores, já que o link disponibilizado não havia sido especificado pela Bienal, com a página aberta tardiamente e as senhas esgotadas quase que instantaneamente.

Abel também teve um encontro com os estudantes da Imprensa Jovem, oficina de educomunicação e jornalismo da EMEF Coelho Neto. O projeto, premiado pela UNESCO e pela ONU, é desenvolvido pelo Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de São Paulo, e atua em escolas públicas introduzindo jovens estudantes às práticas jornalísticas e educomunicacionais desde o Ensino Fundamental.

Na foto com Abel, os jovens repórteres com certeza escolheram o gesto. [Foto/Divulgação: Secretaria Municipal de Educação de São Paulo]
Você poderá conferir mais sobre o Estande de Portugal e a Bienal do Livro 2022 em breve, nos destaques do Instagram da Jornalismo Júnior.

Foto destaque: [Imagens: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé e Divulgação]

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