Os filmes de animação, mesmo que normalmente voltados ao público infantil, são assistidos por pessoas de diversas faixas etárias. Apesar desses filmes às vezes serem encarados como um entretenimento raso, muitos deles trazem em suas narrativas comportamentos e discussões sociais vivenciados no cotidiano.
Veiculados em cinemas e em canais de televisão, meios que abrangem as grandes massas rapidamente, os longas animados costumam retratar acontecimentos usuais do cotidiano dos espectadores por meio de uma dinâmica simples e divertida, e estimulam o telespectador a refletir sobre o mundo e sobre si mesmo, como é o caso de Zootopia, Ron Bugado, e Red: Crescer é uma fera, todos lançados pela Disney. A partir disso, podem mostrar, mesmo que de forma lúdica, questões pertinentes à realidade, e aproximam o público aos personagens por meio desses pontos em comum.
“Os filmes são realizações da sociedade, então eles estão muito implicados desde o começo. É impossível você pensar que ele não se relaciona com as questões sociais” conta Esther Hamburger, professora titular do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Ainda de acordo com ela, mesmo que a equipe responsável por eles não se preocupe com abordar aspectos sociais, não significa que não serão identificados nele, já que qualquer história que contenha relações humanas também envolve as convenções que as fundamentam.
Além disso, o longa também traz uma importante reflexão sobre a falta de privacidade que a tecnologia gera. Nele, de uma forma parecida com a que vemos em tecnologias reais, todos os usuários do B-Bot têm seus dados armazenados na nuvem, o que permite ao aparelho decidir as suas amizades. Em seu desenvolvimento, é mostrado que isso abre margem não só para que a empresa fabricante saiba dados essenciais sobre os compradores, mas também possa rastreá-los por meio de seus aparelhos para atender a seus interesses comerciais.
Isso é notado em Zootopia, de 2016, que conta a história da policial Judy Hopps (Ginnifer Goodwin) que, junto com seu amigo Nick Wilde (Jason Bateman) , investiga um mistério acerca do sumiço de alguns predadores.Na narrativa, é possível perceber o preconceito das presas em relação aos predadores, já que os relacionam diretamente ao perigo e à violência, e vice-versa, já que o primeiro grupo também é discriminado pelo segundo por ser atrelado à fragilidade. Desse modo, ele mostra como vincular estereótipos a diferentes raças gera uma ideia pré-concebida acerca delas e estimula atitudes discriminatórias.
“Se a Disney se restringir aos tipos que são vistos como sendo estadunidenses, ela corre o risco de ser questionada e rejeitada em certos lugares. Então ela tem a pretensão de ser mundial e faz parte disso ter essa diversificação” diz Hamburger quando questionada sobre a influência das condutas sociais na construção dos filmes. Ela acrescenta que não é suficiente produzir longa-metragens que destaquem tipos raciais e culturais diversos, mas que suas histórias devem estar enraizadas, ou seja, estabelecidas em seus hábitos.
Quando questionada sobre a importância de pessoas pertencentes ao grupo retratado participarem como diretores, roteiristas e outros cargos, como é o caso de Shi, a professora disse que é de extrema relevância. “Aumenta a chance de histórias serem contadas de forma a ajudar a desarticular preconceitos, personagens podem ganhar profundidade, ir além de ‘tipos’ superficiais, desprovidos de tensões e contradições”, ela justifica.
Excelente texto , de uma clareza pontual.
Adoro assistir as animações e sempre tenho olhos críticos para elas e a jornalista foi pontual.
Perfeita , parabéns pelo texto.
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