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A animação imita a vida

Apesar de tratados como bobos e infantis, longas animados podem se parecer mais com a vida real do que aparentam

Os filmes de animação, mesmo que normalmente voltados ao público infantil, são assistidos por pessoas de diversas faixas etárias. Apesar desses filmes às vezes serem encarados como um entretenimento raso, muitos deles trazem em suas narrativas comportamentos e discussões sociais vivenciados no cotidiano.

Veiculados em cinemas e em canais de televisão, meios que abrangem as grandes massas rapidamente, os longas animados costumam retratar acontecimentos usuais do cotidiano dos espectadores por meio de uma dinâmica simples e divertida, e estimulam o telespectador a refletir sobre o mundo e sobre si mesmo, como é o caso de Zootopia, Ron Bugado, e Red: Crescer é uma fera, todos lançados pela Disney. A partir disso, podem mostrar, mesmo que de forma lúdica, questões pertinentes à realidade, e aproximam o público aos personagens por meio desses pontos em comum.

“Os filmes são realizações da sociedade, então eles estão muito implicados desde o começo. É impossível você pensar que ele não se relaciona com as questões sociais” conta Esther Hamburger, professora titular do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Ainda de acordo com ela, mesmo que a equipe responsável por eles não se preocupe com abordar aspectos sociais, não significa que não serão identificados nele, já que qualquer história que contenha relações humanas também envolve as convenções que as fundamentam.

Barney Pudowski e Ron
Barney Pudowski e Ron. [Imagem: Reprodução/ Disney Plus]
Ron Bugado, lançado em outubro de 2021, é um exemplo disso. Barney Pudowski (Jack Dylan Grazer), o protagonista,  é constantemente excluído pelos colegas de classe por não ter um B-Bot, aparelho que permeia todos os aspectos da vida dos personagens e, inclusive, decide quem deve ser amigo de quem. Tudo muda quando ele ganha seu próprio robô que, mesmo estando quebrado, o ensina lições valiosas sobre a amizade. O longa mostra, em sua história, o uso exagerado de aparelhos tecnológicos e os prejuízos que isso traz aos relacionamentos pessoais.

Além disso, o longa também traz uma importante reflexão sobre a falta de privacidade que a tecnologia gera. Nele, de uma forma parecida com a que vemos em tecnologias reais, todos os usuários do B-Bot têm seus dados armazenados na nuvem, o que permite ao aparelho decidir as suas amizades. Em seu desenvolvimento, é mostrado que isso abre margem não só para que a empresa fabricante saiba dados essenciais sobre os compradores, mas também possa rastreá-los por meio de seus aparelhos para atender a seus interesses comerciais.

Sede da Bubble, empresa que fabrica os B-Bots
Sede da Bubble, empresa que fabrica os B-Bots [Imagem: Reprodução/ Disney Plus]
Ao juntar elementos fantasiosos com aspectos da realidade, esses filmes podem contribuir para a discussão de problemáticas, a exemplo da discriminação de raça. De acordo com a professora, isso acontece porque, apesar de serem vistos como inofensivos, eles sempre contam uma história trazendo esses elementos como algo natural a partir de um ponto de vista. “O uso de animação nesse sentido é uma coisa recente, mas contribui para uma discussão atual e emergente, que é como falar sobre violência e discriminação sem reforçá-las”.

Isso é notado em Zootopia, de 2016, que conta a história da policial Judy Hopps (Ginnifer Goodwin) que, junto com seu amigo Nick Wilde (Jason Bateman) , investiga um mistério acerca do sumiço de alguns predadores.Na narrativa, é possível perceber o preconceito das presas em relação aos predadores, já que os relacionam diretamente ao perigo e à violência, e vice-versa, já que o primeiro grupo também é discriminado pelo segundo por ser atrelado à fragilidade. Desse modo, ele mostra como vincular estereótipos a diferentes raças gera uma ideia pré-concebida acerca delas e estimula atitudes discriminatórias.

Judy pegando spray de pimenta ao se sentir ameaçada por Nick
Judy pegando spray de pimenta ao se sentir ameaçada por Nick [Imagem: Reprodução/ Disney Plus]
As animações também transmitem conhecimentos, tradições e estilos sociais, abrangendo as mais variadas culturas e etnias existentes no mundo. Devido a pressão da sociedade por maior representatividade nos filmes, a Disney tem, ainda com limitações, incluído personagens de diversas raças e etnias como protagonistas. Soul, que chegou na plataforma Disney Plus em 2021, é um exemplo claro, já que é um dos únicos lançamentos da empresa que é protagonizado por personagens pretos e inclui em sua história elementos da cultura afro-americana destacando-os, tal qual o jazz.

“Se a Disney se restringir aos tipos que são vistos como sendo estadunidenses, ela corre o risco de ser questionada e rejeitada em certos lugares. Então ela tem a pretensão de ser mundial e faz parte disso ter essa diversificação” diz Hamburger quando questionada sobre a influência das condutas sociais na construção dos filmes. Ela acrescenta que não é suficiente produzir longa-metragens que destaquem tipos raciais e culturais diversos, mas que suas histórias devem estar enraizadas, ou seja, estabelecidas em seus hábitos.

Joe em uma barbearia
Joe em uma barbearia [Imagem: Reprodução/ Disney Plus]
Seguindo a busca por longas que representam diversos povos e permitem que esses se identifiquem com os personagens, a Disney Pixar lançou, em 2022, Red: Crescer é uma fera. Nele, a personagem principal, Meilin Lee (Rosalie Chiang), e sua família são sino-canadenses que trabalham administrando um templo dedicado a honrar os Pandas Vermelhos, lenda que faz parte da mitologia chinesa. Além de remeter a aspectos reais dessa cultura, a produção também é dirigida por Domee Shi, que pertence à nacionalidade em questão.

Quando questionada sobre a importância de pessoas pertencentes ao grupo retratado participarem como diretores, roteiristas e outros cargos, como é o caso de Shi, a professora disse que é de extrema relevância. “Aumenta a chance de histórias serem contadas de forma a ajudar a desarticular preconceitos, personagens podem ganhar profundidade, ir além de ‘tipos’ superficiais, desprovidos de tensões e contradições”, ela justifica.

Mural do templo da família de Meilin
Mural do templo da família de Meilin [Imagem: Reprodução/ Disney Plus]
O filme lançado em 2022 também caracteriza um avanço no que diz respeito à ruptura de estereótipos, notada nos traços de Meilin Lee e suas amigas, todas pré-adolescentes, cujos corpos são representados sem idealizações, da mesma forma como pessoas da faixa etária são na realidade. Apesar de parecer algo comum, a atitude é uma novidade nas produções Disney, já que, antes, meninas de 12 até 15 anos eram representadas com corpos adultos, como a Branca de Neve (Branca de Neve e os Sete Anões, 1937) que, apesar de sua aparência física, tem apenas 14 anos de idade.

2 comentários em “A animação imita a vida”

  1. Roseli Santo André

    Excelente texto , de uma clareza pontual.
    Adoro assistir as animações e sempre tenho olhos críticos para elas e a jornalista foi pontual.
    Perfeita , parabéns pelo texto.

  2. Roseli Santo André

    Excelente texto , de uma clareza pontual.
    Adoro assistir as animações e sempre tenho olhos críticos para elas e a jornalista foi pontual.
    Perfeita , parabéns pelo texto.

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