A maioria das vezes que andamos pela metrópole, estamos distraídos e com pressa para chegar ao nosso destino. São muitas pessoas, ruas, carros, prédios, sons, estímulos visuais que raramente paramos para analisar e apreciar qualquer coisa. Ignoramos a estética individual de cada elemento, principalmente da própria cidade, e dessa forma esquecemos seu passado.
Por Matheus Alves
matheus.dcb.alves@usp.br
Por trás de cada prédio, existe uma história, uma sociedade, uma época, e, tudo isso pode ser sintetizado em sua arquitetura. As pessoas modificam o espaço e o espaço modifica as pessoas. É por esse motivo que o estudo e o ofício da arquitetura são tão importantes. Desde a origem da cidade até as construções mais recentes, podemos reconhecer estilos estéticos, comportamentos, e valores de cada século.
Aqui vai, em ordem cronológica, alguns dos mais importantes prédios da arquitetura paulista:
Pátio do Colégio (ou, Pateo do Collegio no português arcaico) marca a fundação de São Paulo, por ser a primeira construção da cidade. Levantada em 1554 (495 anos) pelos jesuítas, a obra tinha o objetivo de catequizar os índios. Hoje, ela ainda pertence a Companhia de Jesus. Sua arquitetura é Colonial Portuguesa, porém, foi reestruturada e restaurada diversas vezes. Começou como uma simples cabana com folhas de palmeiras, e depois, foi finalizado em Taipa de Pilão, pelo Padre Afonso Brás, precursor da arquitetura Brasileira. Ainda é possível encontrar paredes e fundações dessa época.
O local é um conjunto da Basílica Abacial Nossa Senhora da Assunção, do Colégio de São Bento e da Faculdade de São Bento. Sua estrutura atual começou a ser construída entre 1910 e 1912, a partir do projeto criado pelo arquiteto alemão Richard Berndl. Sua arquitetura exterior segue a tradição eclética germânica, enquanto o interior combina adornos de vários povos antigos, como egípcios, gregos, sumérios e babilônios. O objetivo dessa união é que permitisse um contato entre o fiel e Deus, pois acreditava-se que os povos antigos tinham este conhecimento e o empregavam nos seus templos e que estava sendo perdido. O mosteiro hospedou o Papa Bento XVI em sua primeira visita ao Brasil.
A Casa das Rosas é um casarão no estilo clássico francês, e se encontra na Avenida Paulista. É um dos únicos edifícios remanescentes da época de início de ocupação dessa via. Seu espaço é utilizado para diversas manifestações culturais e artísticas. Seu estilo arquitetônico é discutível, alguns dizem que caracterizam como parte da Renascença Francesa, outros, que é eclético e abrange elementos neoclássicos, Art Nouveau, Art Déco, e Neocolonial.
O prédio, que serviu de residência para a Marquesa de Santos, foi construído por volta da segunda metade do século XVIII e é um dos mais raros exemplos de residência urbana dessa época.
Foi restaurado diversas vezes em sua história, mas mantém as características arquitetônicas de cada época que foi restaurado. É possível encontrar no local, estruturas originais da construção, como paredes de taipa de pilão, concreto, e alvenaria. Sua fachada mantém uma feição neoclássica do século XIX
O Theatro Municipal de São Paulo é um dos emblemas da cidade de São Paulo, e foi construído para atender ao desejo da elite paulista da época, que queria que a cidade estivesse à altura dos grandes centros culturais. Por esse mesmo motivo, sua arquitetura eclética foi completamente inspirada nos teatros mais importantes do mundo na época, como a Ópera de Paris. Seu estilo combina, Renascentista, Barroco e Art Nouveau, sendo o último o estilo da época. E no seu interior pode-se encontrar diversos adornos como bustos, medalhões, cristais, afrescos e mármores. Foi palco da polêmica Semana de Arte Moderna de 1922.
A construção da Catedral Metropolitana de São Paulo, também conhecida como Catedral da Sé, foi iniciada em 1913, e só terminou 40 anos depois, e é considerada a maior igreja de São Paulo. Sua arquitetura é eclética, com forte predomínio de características neogóticas. Porém sua enorme cúpula tem forte influência Renascentista, como o célebre domo da Catedral de Florença. Todos os seus mosaicos, esculturas e mobiliário vieram de navio da Itália.
O edifício Martinelli foi o primeiro arranha-céu de São Paulo, segundo da América Latina, atrás somente do Edifício carioca Joseph Gire que terminou antes. Com 105 metros de altura, foi entre 1934 e 1947 o maior arranha-céu do país e, durante um tempo, o mais alto da América Latina. Gerou grande polêmica, pois, até esse momento, não havia nenhum outro edifício em São Paulo com altura elevada. Chegou a ser extremamente luxuoso, e também passou por um processo de degradação extrema, ocupado por moradores de rua, e servindo de cenário para diversos crimes famoso na época.
Também chamado de Edifício Banespa, Banespão, ou Farol Santander, o Edifício Altino Arantes, é o terceiro maior arranha-céu da cidade.Com 161 metros de altura, foi durante 13 anos o edifício mais alto do país.Sua arquitetura foi totalmente influenciada pelo Art Decó do Empire States Building (o mais alto do mundo na época), e foi considerado a maior construção de concreto armado do mundo. O Art Decó, teve seu auge nas décadas de 20 e 30, combinava estilos modernistas com habilidade fina e o uso de materiais ricos, e representou luxo, glamour, exuberância e fé no progresso social e tecnológico.
Localizado na Avenida Casper Líbero, um prédio imponente contrasta com a arquitetura local. Projetado por Enrico Brand na década de 30, a pedido da Condessa Germaine Burchard, de quem levou o nome, foi o primeiro edifício a utilizar a modalidade hoje conhecida como Flat. Isso supria a demanda de pessoas ricas que visitavam São Paulo, mas que não queriam gastar montanhas de dinheiro se hospedando em casarões caros.
O Museu de Arte de São Paulo é um dos maiores exemplos da Arquitetura Brutalista brasileira, e um dos mais populares ícones da cidade. Esse estilo de arquitetura deriva do Modernismo, e privilegia a verdade estrutural, sempre deixando exposto elementos estruturais, e o concreto aparente.
O doador do terreno à prefeitura, não permitiu a construção de uma obra que prejudicasse o panorama da cidade. Dessa forma, seria necessário que o projeto fosse subterrâneo ou suspenso. Logo, a arquiteta Lina Bo Bardi e o engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, optaram por ambas as alternativas. Sua inauguração em 1968, teve a presença do príncipe Filipe e da rainha Elizabeth II da Inglaterra, a quem coube o discurso de inauguração.
Criado com a intenção de ser uma extensão do Theatro Municipal, a Praça das Artes revitalizou culturalmente o centro de São Paulo. O projeto teve o objetivo de ser uma espécie de praça e edifício, que contornasse o antigo prédio tombado do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Ele abriga atividades do Theatro Municipal e é sede de diversas escolas de artes. Seu estilo é caracterizado pela Arquitetura Contemporânea.
Em frente a Casa das Rosas, se ergueu uma das mais recentes construções da Avenida Paulista. A Japan House possui o objetivo de promover a cultura nipônica através da arte, cultura, gastronomia e tecnologia e também possui sedes em Londres e Los Angeles. Suas instalações abrigam restaurantes, lojas, exposições, oficinas e até uma biblioteca. Sua arquitetura claramente contemporânea com influência japonesa, com uma fachada decorada de bambus, se destaca de todos os outros prédios da Avenida.