Por Sofia Colasanto (sofiacolasanto2@usp.br)
O filme Betânia (2024), que estreou no 74º Festival Internacional de Cinema de Berlim, teve sua pré-estreia em São Paulo no dia 07 de março de 2025. O longa foi dirigido e roteirizado por Marcelo Botta e a protagonista, que dá nome ao filme, é interpretada por Diana Matos. No ano de lançamento, a produção também participou da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do Festival do Rio.
A obra acompanha a trajetória de Betânia, uma parteira maranhense de 65 anos que, após a morte do marido, é convencida pelas filhas a deixar sua vida simples e voltar a viver no povoado em que nasceu, onde se depara com uma urbanização em curso que lhe dá acesso a inovações tecnológicas. Nessa nova etapa da vida, a mulher passa a morar próxima aos Lençóis Maranhenses com sua filha Ivonilda, seu genro viúvo Tonhão e seus netos Catherine Vitória e Antônio Filho. A partir desse núcleo familiar a trama consegue explorar diversas temáticas a partir dos conflitos geracionais.
O filme é uma bela exploração de opostos. Em seu início, o relato da protagonista sobre o primeiro parto que realizou é contrastado com imagens do velório de seu marido, cena que já decreta que a potência da produção está nas antíteses e simbolismo que constrói. Nesse começo também é apresentado um dos grandes símbolos do filme, o Bumba Meu Boi. A festa popular retorna em diversos momentos da narrativa como uma raiz de Betânia, uma cerimônia que representa a tradição da personagem em meio a modernidade que passa a experienciar, como o acesso a energia elétrica e a internet.
A inserção de questões da atualidade, como sexualidade e crise climática, no cotidiano maranhense faz com o longa tenha uma representatividade nordestina que fuja do estereótipo de uma população isolada do mundo. Além disso, mesmo que haja momentos de dificuldade na trama, essa não demonstra apenas as lástimas da região, de modo que sua mensagem final se traduz em felicidade, união e esperança.

A fidelidade da narrativa com a realidade vivida nos Lençóis Maranhenses acontece porque ela foi pensada a partir da experiência de Marcelo Botta no local para a realização de um documentário. Ao entrar em contato com a população e, principalmente com uma líder comunitária, é que o diretor e roteirista teve a inspiração para que seu primeiro longa-metragem contasse a história de uma mulher forte e corajosa. Para a gravação do filme, o elenco composto por estreantes e a equipe passaram 25 dias nos Lençóis, de modo que os atores estiveram em constante contato com moradores enquanto exerciam seus papéis, como contou Marcelo na pré-estreia.
O longo período de captação é justificado pela impressionante fotografia da obra, com destaque para os planos abertos das dunas de areia do local. As imagens atuam em conjunto com uma trilha sonora que transita entre músicas tradicionais e hits internacionais em estilo reggae, o que também contribui para o contraste entre tradição e modernidade.

Não há dúvidas que o filme aborda temas múltiplos ao longo da narrativa. Porém, o que em certa medida é positivo por representar a amplitude da vida dos personagens, também acaba por deixar discussões rasas e sem uma finalização devida. O longa tem a preocupação de abordar as diversas pautas que impactam a população, mas poucas são encabeçadas ao longo de toda a trama a ponto de se tornarem impactantes.
Esse quesito está diretamente ligado aos personagens, já que cada um deles propõe certas tensões ao longo da narrativa. Mas, novamente, as histórias são tantas que em certo momento a trama de Tonhão (Caçula Rodrigues), genro de Betânia que realiza turismo nas dunas com seu quadriciclo, toma tanto tempo de tela que a protagonista é deixada de lado.
De acordo com Marcelo seu pensamento para realizar o longa foi “vamos fazer um filme antes do mundo acabar”. E assim o filme se consolida, apresentando que em meio a tantos desafios e mudanças há de se manter a coragem. É através de grandes temas vivenciados por Betânia e sua família que a produção sensibiliza seu telespectador.

O filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:
*Imagem de Capa: Divulgação/Salvatore Filmes