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‘Cazuza: Boas Novas’: um último ato contra a caretice

Documentário de Nilo Romero traz relatos e registros inéditos do cantor quando já enfrentava os estágios finais da AIDS
Por Laura Roson (lauraroson@usp.br)

Estreia nesta quarta-feira (11), na 17ª edição do In-Edit Brasil, o documentário Cazuza: Boas Novas (2025), que chega aos cinemas apenas em 17 de julho. Dirigido pelo cantor e compositor Nilo Romero, a obra mostra imagens e vídeos de Cazuza nunca antes divulgados, bem como depoimentos de familiares e amigos como Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Roberto Frejat e Lucinha Araújo (mãe do cantor). 

Focado nos dois últimos anos de vida do musicista, falecido em 7 de julho de 1990 em decorrência de complicações da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, popularmente conhecida como AIDS, o documentário opta por, mais do que lamentar sua morte, celebrar a vida e a carreira de um dos personagens mais emblemáticos da música brasileira do final dos anos 1980. Com isso, detalhes nunca antes divulgados são compartilhados no intuito de aproximar o telespectador ao mundo particular de Cazuza. 

Ao usar como trilha sonora as próprias canções do compositor — muitas das quais retratam experiências pessoais do roqueiro, como Boas Novas, Brasil e Cobaias de Deus —, o longa também se constitui como um making of dos principais sucessos do roqueiro carioca, transformado em símbolo da boemia que tomava conta do Baixo Leblon durante os anos imediatamente posteriores ao final da Ditadura Civil-Militar (1964-1985). 

Neste aspecto, a humanização do cantor torna-se completa à medida em que a obra busca, ao invés de santificar Cazuza e glorificar sua imagem, retratá-lo como um ser tridimensional, dotado de contradições e polêmicas. Um exemplo disso acontece quando Frejat, companheiro de palco de Cazuza nos tempos de Barão Vermelho, compartilha suas mágoas — felizmente, resolvidas ainda em vida — em relação ao amigo pela sua saída da banda bem às vésperas do lançamento de um novo álbum, em 1985. 

O documentário também traz um lado do músico relativamente pouco explorado pela mídia hegemônica: a pessoa política de Cazuza. Ao retratar o processo de produção por trás da canção Burguesia e não hesitar em abordar o episódio polêmico no qual o cantor cuspiu duas vezes em uma bandeira do Brasil atirada ao palco durante um show, o espectador é apresentado ao universo político do cantor, nascido Agenor de Miranda Araújo Neto, que constantemente se posicionava sobre pautas sociais. 

Cazuza em um de seus últimos shows, dirigido pelo amigo Ney Matogrosso [Imagem/Reprodução/Youtube/ingresso.com]

Quando a luta contra a AIDS é finalmente abordada, torna-se quase impossível não se emocionar com as lágrimas dos colegas de Cazuza. Em um último ato, o roqueiro chega a gravar seu último álbum, Burguesia, com uma UTI móvel a postos em frente ao estúdio de música. Os últimos shows do cantor foram especialmente marcantes, não só pelo significado que carregam, como pelo esforço despendido por Cazuza, já visivelmente debilitado. 

O único aspecto em que o documentário talvez acabe pecando é no desenvolvimento da narrativa a partir de sua segunda metade, com algumas partes demasiadamente longas e depoimentos andando em círculos. Com tudo, a “enrolação” é superada no último quarto da obra, que dura tempo o suficiente para que o espectador sinta toda a dramaticidade dos momentos finais do cantor.

Além de deixar seu nome registrado para sempre na história da música brasileira, Cazuza também foi um dos primeiros artistas do país a assumir publicamente ser portador da AIDS, em uma época marcada pelo estigma social e preconceito em torno da doença. Nesse quesito, o documentário consegue transmitir com maestria a grandiosidade alcançada por Cazuza — que perdura até os dias de hoje, quase 35 anos após sua morte. 

Cazuza: Boas Novas estreia em 17 de julho nos cinemas brasileiros. Confira o trailer

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