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Desobediência: Quando desobedecer torna-se preciso

São três as culpas que se entrelaçam em Desobediência (Disobedience, 2017). São duas amigas e um amigo de infância que têm uma relação complicada. Para lá da amizade, está o amor entre essas mulheres. É, por fim, um encontro que desperta uma série de reflexões sobre os hábitos rigorosos de uma comunidade judaica. E, mais …

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São três as culpas que se entrelaçam em Desobediência (Disobedience, 2017). São duas amigas e um amigo de infância que têm uma relação complicada. Para lá da amizade, está o amor entre essas mulheres. É, por fim, um encontro que desperta uma série de reflexões sobre os hábitos rigorosos de uma comunidade judaica. E, mais ainda, um ponto de inflexão na vida de cada um deles.

A reunião dos três amigos a princípio tem um tom bastante desconfortável. (Imagem: Divulgação)

Ronit Krushka (Rachel Weisz) é fotógrafa, mulher independente, e mora em Nova Iorque. Porém, ao saber da morte do pai, tem de voltar para a Inglaterra, onde é mais conhecida por ser a filha do rabino Rav Krushka (Anton Lesser), um importante guia espiritual para a comunidade judaica britânica. Logo que chega ao velório de seu pai é recebida com estranheza na própria casa, tanto por sua família, como pelos fiéis de Rav. Todavia, Dovid (Alessandro Nivola) e Esti (Rachel McAdams), seus grandes companheiros de outrora, lhe oferecem hospedagem.

À medida que o tempo passa na Inglaterra, acumulam-se mais pesares sobre as costas de Ronit. Seu tio, Moshe Hartog (Allan Corduner), a acusa de ter abandonado seu pai no momento em que ele mais precisou ‒ o que parece ser uma crítica velada de todos os familiares. Enquanto isso, ela parece afetar-se com uma antiga decepção do pai, muito nebulosa para a audiência.

A outra ponta do roteiro está no casamento de Esti e Dovid. Quando Ronit descobre que os dois eram marido e mulher, há uma incredulidade injustificada. A história se desenrola, e o matrimônio evidencia cada vez mais um quê de mecânico. É uma relação que se confunde com a dureza dos costumes da comunidade judia na qual vivem.

Nada obstante, quando o rádio reproduz os primeiros versos de Lovesong, da banda britânica The Cure, no quarto em que Ronit e Esti estão a sós, a tensão entre elas fica evidente. Com essa faísca, as duas retomam uma paixão que não sabem se é lapso ou realidade.

Surge de forma contundente o segundo conflito, a sexualidade de Esti. Conforme se dá com a amante, ela revela ao público sua homossexualidade restrita. Relembram-se do momento em que o rabino Krushka surpreendeu-lhes no ardor do amor interdito, estopim para a partida de Ronit. Grande trauma para Esti, que sofre fortes reprimendas da congregação judaica, é taxada como doente e pressionada a um casamento, sua suposta cura. Sem opções, escolhe Dovid, seu confidente, a opção menos trágica.

Depois do primeiro afago, Ronit e Esti veem-se em uma luta por seus desejos. (Imagem: Divulgação)

Em meio a tudo isso está Dovid, que também é o sucessor do falecido rabino. Compromissado com uma série de formalidades, consequentes da morte de Rav, deveria assumir uma postura sólida, a fim de consolidar a nova posição. No entanto, afunda-se em confusão ao ver o castelo de cristal, que é seu leito, despedaçando-se. Acha-se em um dilema de três faces: a profundidade dos dogmas, nos quais acredita; a persona que usa frente a aristocracia judaica; e o vínculo que tem com Esti e Ronit.

A sensibilidade do filme extravasa o roteiro. As atuações, principalmente da dupla de protagonistas, são sublimes. A ambientação e a montagem, com toques sutis, contribuem com a atmosfera pesada e intensa da película. Os enquadramentos flutuam de detalhes expressivos, a belos e emblemáticos planos gerais. A trilha sonora delicada coloca o espectador no estado de espírito que Desobediência pede. O diretor Sebastián Lelio ‒ de Uma Mulher Fantástica (Una Mujer Fantástica, 2017) ‒ conduz tudo de uma maneira muito sóbria, ainda que intensa.

No desenlace geral, a obra é sobre tradições, família, sociedade, religião, amizade, amor, mas essencialmente sobre liberdades. A narrativa parte do sermão final de Rav, no qual ele evoca anjos e animais, de maneira a figurar o livre-arbítrio designado ao homem. Mesmo diante de todas as repressões, as vontades mais profundas nem mesmo vacilam. Os versos de Lovesong descrevem muito bem a paixão de Esti e Ronit:

“However far away

I will always love you

However long i stay

I will always love you

Whatever words I say

I will always love you”

Desobediência estreia dia 21 de junho nos cinemas. Assista ao trailer abaixo:

 

por Pedro Teixeira
pedro.st.gyn@gmail.com

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