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‘Estou de Volta’: os 30 anos do retorno de Michael Jordan às quadras

Há 30 anos, o ídolo do Chicago Bulls retornava ao palco onde brilhou, após pausa curta em sua vitoriosa carreira

Por Arthur Souza (thursouzs07@usp.br) Eduardo Granado (eduardo.prompto.granado@usp.br)

No dia 18 de março de 1995, após 18 meses afastado da NBA, Michael Jordan anunciava seu retorno ao basquetebol por meio de um fax que resume e simboliza a imagem do jogador até os dias de hoje: “Estou de volta”.

Após três títulos da NBA, inúmeros prêmios individuais e status de lenda, a estrela do Chicago Bulls se aposentou pela primeira vez, em outubro de 93, para seguir um sonho de seu recém falecido pai: se tornar jogador de beisebol. Mas era nas quadras de basquete que ele se transformava. Passado um dia do anúncio de sua  volta, Jordan fazia sua reestreia pelo Chicago Bulls para então consolidar seu legado e grandeza como um dos maiores jogadores de basquetebol da história.

De um garoto do Brooklyn, à estrela nas quadras

Nascido no Brooklyn, mas criado na Carolina do Norte, Michael Jeffrey Jordan, filho de Delores e James Jordan, se tornou referência  no esporte em que se profissionalizou, porém o basquete não foi sua primeira opção. Juntamente com seu pai, Michael tinha uma imensa paixão pelo beisebol. Foi após o aumento de sua altura e influência do irmão mais velho que decidiu seguir a carreira rumo a NBA.

Michael estudou na Universidade da Carolina do Norte,  onde  venceu o campeonato universitário, a NCAA, em 1982 e foi eleito jogador universitário do ano nas duas edições seguintes. No draft de 1984, Jordan foi a terceira escolha geral pela tímida e fraca equipe do Chicago Bulls.

Foto de Michael Jordan em jogo universitário

Michael Jordan em jogo pela Universidade da Carolina do Norte [Imagem: Duke Chronicle/Wikimedia Commons]

Na NBA, Jordan chegou como um fenômeno e foi eleito calouro do ano. Nas temporadas seguintes, quebrou recordes, entregou partidas memoráveis e impactou o mundo da NBA de maneira avassaladora. Em  1987/88, por exemplo, o “Camisa 23” – número que eternizou em sua carreira – venceu todos os principais prêmios individuais da liga: o Most Valuable Player (do inglês, jogador mais valioso), Jogador Defensivo do Ano e MVP do All-Star Game.

A influência de Jordan no mundo do basquete transcendia as quadras. O sucesso de seu tênis em parceria com a Nike o “Air Jordan” e o lançamento de tendências, como os shorts abaixo do joelho e a moda dentro da liga, que seguem até hoje nos Estados Unidos, são exemplos disso.

Porém, o sucesso individual não resultava em êxito coletivo. Apesar de seus esforços, o Chicago permanecia sem títulos e amargou eliminações contra o Boston Celtics e os Bad Boys do Detroit Pistons, o grande carrasco de Jordan.

Ao longo da trajetória, os Bulls trouxeram para o time grandes nomes como Scottie Pippen, Horace Grant e o técnico Phil Jackson para serem parceiros de Michael na busca pelo troféu. Mas foi só na temporada 1990/91 que Chicago espantou os fantasmas e levou o título para casa. Com direito a vitórias sobre Detroit e o Los Angeles Lakers de Magic Johnson, Jordan foi eleito pela primeira vez, MVP das finais – feito que se repetiria seis outras vezes.

Após a primeira, vieram mais duas conquistas nos anos seguintes, o que consolidou o “Three-Peat” e pôs o nome de Michael Jordan no topo do basquetebol.

O apagar das luzes repentino nas quadras

Em outubro de 1993, Jordan anunciou, em uma coletiva por ele mesmo convocada, sua aposentadoria e pendurou sua jersey de número 23 nos varais da história. O pronunciamento do atleta, cujas palavras estamparam as capas de todos os jornais, gerou comoção nacional e internacional. Entretanto, seria um equívoco afirmar que a notícia havia chegado desprevenidamente. Havia relatos de pessoas próximas a Jordan à época, inseridas em seu ambiente esportivo e pessoal, que atestaram a aposentadoria de Michael como mera questão de tempo, a exemplo do próprio Phil Jackson.

A fim de compreender a decisão, absurda à primeira vista, tomada convictamente pelo ala de apenas 30 anos, é necessário retornar ao passado.

A temporada de 1992/93 começou para Jordan com a conquista do primeiro lugar nas Olímpiadas de Barcelona, vencendo a final contra a Croácia por 117 a 85. Na ocasião, Jordan foi o cestinha da partida, com 22 pontos marcados e selou a campanha que o consagrou como parte fundamental do Dream Team.

O título olímpico do basquete norte americano ocasionou uma mudança importante na carreira de Jordan. Devido à transmissão e cobertura das Olimpíadas, a imagem pública de MJ foi alçada ao patamar de celebridade mundial.

Em entrevista ao Arquibancada, o comentarista da Amazon Prime Video, Ricardo Bulgarelli,  analisa esse contexto: “A NBA já tinha a imprensa do mundo inteiro cobrindo, […] desde a participação do Dream Team em Barcelona. A porta tinha sido escancarada ali, naquele momento”.

A partir de então, o assédio constante da imprensa e as performances esperadas dentro da quadra, enquanto atleta, e fora dela, enquanto astro, acrescentaram um peso ainda maior sobre MJ.

Ao final da temporada, mesmo alcançando o tricampeonato da NBA com os Bulls, o camisa 23 perdeu o apetite pelo basquete, na medida em que sua imagem de jogador se confundia com a de uma figura pública. Dentro do vestiário, começaram a surgir os primeiros rumores de sua possível aposentadoria.

A posição da mídia perante Jordan se tornou ainda mais irreverente quando surgiram boatos de que a estrela dos Bulls havia desenvolvido um vício em jogos de azar. Os relatos afirmavam que MJ teria ido a cassinos de Atlantic City, momentos antes da segunda partida da série contra os New York Knicks pela final da Conferência Leste, que culminou em derrota para a equipe de Chicago. O episódio permitiu que a mídia explorasse incoerências no profissionalismo, antes irretocável, do atleta e intensificasse a vigilância sobre ele.

Mais tarde, o assassinato de James Jordan, pai do atleta, veio a coincidir com o período de turbulência na carreira de Michael e influenciou a decisão que anunciaria dali a alguns meses. James foi morto por dois assaltantes à beira de uma rodovia na Carolina do Norte, em 23 de julho de 1993. A perda do pai, pessoa das mais importantes e presentes na vida pessoal e esportiva de Michael, fez com que o basquete deixasse de ser, à época, em definitivo, uma prioridade para o filho.

Durante o início da temporada 1993/94, período em que ficou afastado das quadras, Michael Jordan entrou em introspecção e encontrou, nas lembranças que cultivou com o pai, o antigo desejo de James: ver seu filho se tornar um astro do beisebol.

 Em uma tentativa de se reconectar com a memória do falecido pai, Jordan decidiu que interromperia o auge de seu desempenho no basquete, renunciaria ao título de “GOAT” (do inglês, o melhor de todos os tempos) e dedicaria o resto de sua carreira ao beisebol.

“O pai sempre quis que ele jogasse beisebol. O contexto da NBA naquela época fazia com que Michael fosse marginalizado no meio do basquete profissional. Nenhum pai quer isso para o filho, seu sonho era ver ele jogando beisebol”.

Ricardo Bulgarelli

Pouco mais de um ano após o anúncio de sua saída da NBA, a direção do Chicago Bulls realizou uma cerimônia em que a lendária camisa de número 23 foi eternamente aposentada. Homenagem essa que aparentava encerrar a passagem triunfante da estrela pela equipe.

O que seria dos Bulls sem Jordan?

Enquanto Jordan seguia seu caminho, o Chicago Bulls se via em uma situação de incertezas e nebulosidades. Com a saída de sua principal estrela, dúvidas se criaram acerca do atual tricampeão. Conseguiria Pippen liderar o time até as finais? Como Phil Jackson montaria o time agora? Os Bulls poderiam manter a hegemonia na liga?

Sem Michael Jordan, a equipe para a temporada 1993/94 conquistou 55 vitórias na temporada regular e  alcançou os playoffs mais uma vez. Phil Jackson tinha à sua disposição ótimos jogadores, não só bons pontuadores, mas atletas de grande refinamento técnico, a exemplo de B. J. Armstrong, Horace Grant e Scottie Pippen. Entretanto, a ausência de um atleta com a capacidade de decisão de MJ minou as chances do tetracampeonato para os Bulls, que foram eliminados ainda na segunda rodada dos playoffs, pelos Knicks.

Muito embora o basquete não seja feito somente de números, as estatísticas daquela temporada enfatizam a lacuna deixada no time pela saída de Michael Jordan. O jogador dos Bulls com maior média de pontos naquele ano, Scottie Pippen, encerrou a temporada com uma média de 22 pontos por partida na temporada regular e 22,8 pontos por partida nos playoffs. Para comparação, durante cinco temporadas consecutivas, Jordan manteve a sua média de pontos por partida acima dos 30 pontos, tanto na temporada regular, quanto nos playoffs.

Sob essas circunstâncias, uma temporada que começou com o sonho do tetracampeonato – feito até hoje inalcançado –, terminou sem a conquista sequer do título da Conferência Leste. Um ano perdido para o Chicago Bulls e, não coincidentemente, o primeiro sem o ala-armador de número 23 atuando pela equipe.

A estreia no beisebol

Um tempo fora dos holofotes era preciso para a ex-estrela do basquete. Isso se manteve até fevereiro de 1994, quando Michael Jordan apresentou-se com o uniforme do Chicago White Sox como novo jogador da franquia. Agora com a jersey número 45, seu primeiro número no ensino médio. O movimento foi facilitado pois o empresário Jerry Reinsdorf era dono tanto do Chicago Bulls quanto do White Sox. Contudo, Michael nunca chegou a jogar pelo time principal, mudou-se até Alabama para jogar pelo Birmingham Barons da MiLB, uma espécie de série C da liga de beisebol nacional.

Bulgarelli relata as movimentações da mídia, dos torcedores e dos bastidores acerca da transição de MJ ao beisebol: “A mídia na gringa acompanhou de uma maneira absurda. […] Até mesmo pela curiosidade da comissão técnica dos White Sox, de olho no Michael Jordan para ver se ele podia também ser um fora de série no beisebol, para puxá-lo para o time de cima”.

O agora Camisa 45 teve um desempenho discreto nos campos de beisebol, apesar de uma certa evolução para quem estava afastado há uma década do esporte. Mas o que não foi discreto foi a popularidade de seus jogos, que contaram com lotação de estádios e grande público nas transmissões televisivas.

Foto de Jordan em partida de beisebol

Michael em suas únicas rebatidas pelo Chicago White Sox em jogo amistoso contra o Chicago Cubs [Imagem: Reprodução/Youtube/MLB]

Mesmo com o sonho de jogar na MLB estar mais vivo do que nunca, a conexão com o basquete nunca desapareceu em Michael. Durante seu tempo afastado, continuou assistindo aos jogos e manteve contato com os antigos parceiros de time.

Foi em 95 que iniciaram rumores de uma possível volta de Jordan às quadras. Os jogadores da MLB entraram em greve em 1994 e a liga decidiu iniciar a temporada de 95 com jogadores substitutos, porém Michael se recusou a entrar em campo pelo White Sox.

Tempos depois, foi visto treinando com a antiga equipe de basquete, o que aumentou as especulações. Os boatos se confirmaram em 18 de março do mesmo ano, com o histórico fax com as palavras “Estou de volta”. Michael Jordan voltava ao basquetebol depois de 18 meses afastados com a tarefa de recuperar o posto de melhor jogador do mundo e levar o Chicago Bulls novamente ao título.

A estrela não parou de brilhar

Com a temporada de 1994/95 chegando ao fim, o Chicago Bulls parecia não ter intenção alguma de disputar o título. Inclusive, a equipe, que, em março, somava o mesmo número de vitórias e derrotas (31), não prometia sequer a classificação para os playoffs. Porém, justamente nesse período, Jordan retornou aos Bulls e foi fundamental para que a equipe chegasse à fase eliminatória.

Nas semifinais da Conferência Leste, entretanto, a franquia de Chicago encarou o Orlando Magic de Shaquille O’Neal e Horace Grant, ex-Bulls, e foi derrotada na série após seis partidas, mesmo com a média de 31 pontos por jogo anotada por MJ. A queda precoce dos Bulls nos playoffs demonstrou que Michael Jordan não havia perdido seu talento e sua capacidade de decisão nos anos em que esteve ausente, mas que havia obstáculos mais desafiadores no caminho do astro.

“A dificuldade pode ter sido essa, ele achou que voltaria a qualquer momento e que continuaria rei, não foi dessa maneira. Ele teve realmente que se dedicar uma temporada inteira e ter novos companheiros como Toni Kukoc, um cara fundamental, pelo QI de basquete, pela visão de quadra.”, reflete Bulgarelli sobre os impasses enfrentados por Jordan em sua volta.

Na temporada seguinte à reestreia, Jordan pareceu nunca ter pendurado a camisa e o time de Chicago aparentava jogar junto desde o tricampeonato. A temporada 1995-96 viu talvez o melhor time de todos os tempos, quando o Chicago Bulls estabeleceu o recorde de vitórias na temporada regular até então: 72 vitórias e 10 derrotas. Para coroar a campanha, o título veio em seguida à vitória contra o Seattle SuperSonics nas finais, com o jogo seis das finais (o jogo do título) ocorrendo no dia dos pais, o que simbolizava muito ao camisa 45.

Imagem de Jordan em sua primeira volta à NBA

Jordan na sua reestreia contra o Indiana Pacers com seu novo número: 45 [Imagem: Reprodução/Instagram/@chicagobulls]

Nos anos seguintes, o Chicago iria repetir o feito do início da década e conquistar três vezes seguidas a NBA. Logo após o terceiro título, Michael se aposentaria novamente do basquete, desta vez voltando em 2001, com uma passagem tímida no Washington Wizards, em uma espécie de “jogador dono”, já que tinha comprado ações do time.

Jordan teve uma carreira unânime dentro das quadras, beirando a perfeição, porém fora delas viveu momentos conturbados e polêmicas que afetaram mentalmente o atleta, que interferiram diretamente em seu legado. Mas a dúvida que fica é: será que ele seria maior se não parasse? Os Bulls venceriam os títulos de 94 e 95? Bulgarelli prefere ver a realidade:

“Lógico que o Chicago seria favorito aos títulos se o Jordan tivesse permanecido, isso é óbvio. Era o time a ser batido.”

“Chicago poderia sofrer, se os adversários atacassem o garrafão do Chicago, e você não tinha esse cara dominante. […] Você tinha que combater Chicago em algo em que eles não eram bons. O Houston Rockets de 94 e de 95 tinha Hakeem Olajuwon, que era extremamente dominante nos confrontos”.

Sobre o favoritismo dos Bulls com Jordan, Bulgarelli comenta: “É difícil você apostar contra o Michael Jordan em uma série de sete jogos, mas nenhum time teria uma capacidade melhor de enfrentar o Chicago que o Houston, por ter o Olajuwon”.

Ele completa que a volta não foi apenas uma vontade do jogador, mas também uma oportunidade vista por ele: “Basquete é muito disso, não é somente o talento que vai fazer você ganhar alguma coisa, é a dedicação, treinamento, é liderança, é a presença dia a dia. Não é só inserir o Michael Jordan num time que já tinha sido tricampeão que vamos sair ganhando de novo”.

“Com a NBA ainda carente de um novo astro, o cara falou assim ‘eu me cuidando fisicamente, inteiro uma temporada inteira, vou dominar isso aqui, nós vamos voltar a ser grandes’”.

Ricardo Bulgarelli

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