“Nos Vemos no Paraíso” faz parte do Festival Varilux de Cinema Francês de 2018. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Dirigido e estrelado por Albert Dupontel, Nos Vemos no Paraíso (Au revoir là-haut, 2017), filme apresentado no festival Varilux, prende o expectador do início ao fim. Seja isso pela fotografia digna de prêmio ou pelas atuações magníficas de Nahuel Perez Biscayart, Dupontel e Laurent Lafitte. A adaptação cinematográfica do livro de Pierre Lemaitre gera, ao mesmo tempo, desconforto e prazer para quem a assiste.
A obra começa com Albert Maillard (Dupontel) prestando depoimento para uma autoridade do exército francês no Marrocos, colônia da França de 1912 a 1956, época em que o filme se passa. A história então, tem constantes transições do presente para o passado de acordo com a narração de Albert. Essas quebras na linearidade do enredo entretanto, são colocadas em espaços muito bem escolhidos no roteiro, facilitando para que o espectador não se perca nesse processo.
A trama se segue com Albert contando que conheceu o artista Edouard Péricourt (Nahuel Perez) na trincheira durante a Primeira Guerra Mundial e que este salvou sua vida. Péricourt, no entanto, é atingido por estilhaços de uma bomba que acabam arrancando sua mandíbula, então Maillard se vê com a obrigação de cuidar do amigo.
Mesmo anos após o término da guerra, Edouard continua sentindo muita dor e tendo que fazer uso de grandes quantidades de morfina para se sentir melhor. Por isso, demora muito para que ele tenha ânimo de voltar a pintar e desenhar como fazia antes. Contudo, quando finalmente o faz, desenvolve também um interesse pela confecção de máscaras, por trás das quais ele pode esconder não só seu ferimento, como também o trauma deixado pela guerra.
A partir daí o filme começa a ficar bem mais colorido, sendo as principais cores usadas o azul, o vermelho e o branco, remetendo à bandeira francesa. Os amigos então, bolam um plano de vender os novos desenhos de Péricourt e fugir com o dinheiro. No meio do caminho ainda, esbarram com os planos do Tenente Pradelle (Laurent Lafitte) de lucrar em cima dos corpos das vítimas da guerra.
Um destaque especial do filme é a atuação de Nahuel Perez Biscayart, ator argentino que devido às limitações do personagem, não fala muito e pouca parte de seu rosto aparece na maioria do tempo. No entanto, o olhar expressivo e a linguagem corporal precisa de Nahuel compensam todo o resto.
É notório ainda as poucas personagens femininas existentes na obra de Dupontel. No entanto, nos espaços em que aparecem, embora passem uma certa ingenuidade de início, logo mostram toda sua força e segurança.
O figurino também teve papel muito importante dando um ar circense à produção, principalmente em relação às máscaras de Edouard que ajudaram a transmitir com extrema beleza todos os sentimentos do personagem. E é por isso que dentre os cinco prêmios César que o filme ganhou, um foi o de melhor figurino. Os outro foram: melhor direção de arte, melhor adaptação, melhor diretor e por fim, melhor fotografia.
Mas, contando com as chamativas cores da bandeira francesa, a misteriosa meia luz presente na maior parte do filme, a singular perspectiva dada pelo movimento de câmera e os diferentes planos e enquadramentos, os outros prêmios também são facilmente justificáveis.
Se existe algo que talvez possa deixar a desejar para alguns espectadores é o roteiro, adaptações muitas vezes correm esse risco. No caso de Nos Vemos no Paraíso, o problema se dá mais pela previsibilidade, alguns detalhes que são jogados com antecedência de modo muito explícito e não permitem a verdadeira experiência de surpresa para quem assiste.
O filme de Dupontel estará em cartaz, junto com outros filmes franceses do festival Varilux, até o dia 20/06. Ainda dá tempo de conferir essa obra linda e incrível.
Trailer:
por Maria Laura López
laura_lopez.8@usp.br