Na era do “instagramável”, muitos restaurantes ludibriam seus consumidores com suas estéticas diferenciadas e a promessa de fotos que farão sucesso nas redes sociais. O restaurante passa a ser pouco mais do que um elaborado cenário fotográfico que serve uma comida sempre um pouco genérica — mas esse não é o caso do Gato Griô Café 2D —. Apesar de ter uma estética atrativa para as mídias sociais, a cafeteria surpreende com seus pratos diferenciados, originais e saborosos, propondo uma experiência completa — tanto gastronômica, quanto estética —.
O lugar
Em uma vila na região de Higienópolis, o Gato Griô propõe um conceito diferente dos demais estabelecimentos da região — ou melhor, de toda a cidade —. Como o próprio nome já sugere, é o primeiro café 2D de São Paulo, contando com uma cuidadosa decoração que busca simular estar dentro de um desenho. Naturalmente, o café não é de fato 2D, mas a estética busca alcançar, mesmo nos menores detalhes, a sensação de pertencer ao mundo bidimensional.
Ao adentrar pela porta, tem-se a impressão de ser teletransportado para outro mundo; as cores e a fachada amarela perdem lugar para o preto e o branco minimalista do café. A decoração inteira é consistente, desde o copo de água, que simula o desenho de um copinho de plástico, até o interruptor da parede, também delimitado por linhas pretas.
Na parede, diversas molduras retratam, em desenho, releituras de obras artísticas clássicas ; todas protagonizadas por gatos e com títulos espirituosos, como O miado — inspirado em O Grito, de Edvard Munch — e a Gatalisa — inspirado em Monalisa, de Leonardo da Vinci —.
Toda essa criatividade e singularidade artística é obra de Luma Lage, chamada por Cássio Cícero e Eduardo Badaró, idealizadores do local, para decorar o ambiente de forma única, combinando desenho 2D e gatos, uma paixão deles.
Atraídos pelo apelo estético, os consumidores ali são frequentemente vistos tirando fotos e gravando vídeos para as redes sociais. O café tem usufruído bastante de seu sucesso nas redes sociais, especialmente no TikTok, que vem atraindo cada vez mais clientes.
A ideia
Edu e Cássio, proprietários do Gato Griô Café 2D, conheceram-se em 2021 por um aplicativo de namoro e logo decidiram abrir o café juntos.
Inspirado em cafés com a temática felina espalhados pelo mundo, com um enfoque em Seul, na Coreia do Sul, o casal, apaixonado por gatos, teve várias ideias para a forma como sua cafeteria se desenharia. E, por ora, a presença dos gatos se restringe a isso: aos desenhos. Tendo em vista que o restaurante foi aberto há cerca de dois meses, não houve tempo hábil de organizar e povoar o ambiente com gatinhos, transformando-o em um cat café, de fato. Em conversa à Jornalismo Júnior, porém, Cássio diz que esse é um projeto que eles têm para o futuro.
Cássio ainda conta que ele e Edu têm seis gatos em casa, e que a inspiração para criar uma cafeteria como a Gato Griô Café 2D veio de filmes aos quais ele assistiu. Ele conta que a casa onde se localiza o restaurante é centenária, tendo sido um antiquário e uma casa de família, no passado. Por todas essas questões, a casa teve que ser adaptada para se tornar acessível e para permitir o incremento artístico.
As bebidas
O Gato Griô oferece uma seleção variada de bebidas, das mais amargas às bem doces. É possível pedir diversos tipos clássicos de café, como expresso, o carioca, o capuccino, e também algumas bebidas inovadoras da casa. O cardápio oferece uma seleção completa de bebidas que atende a todos os paladares, e Cássio diz que as receitas foram feitas por ele, dando origem a combinações únicas como as presentes no Gato de Botas, altamente recomendado pelo atendimento do local, no Pink Frajola, e também em outras opções, como o Gatoccino, tradicional e de caramelo.
A Jornalismo Júnior experimentou o Gato de Botas (R$18), bebida gelada que mistura expresso, caramelo e paçoca. A mistura, apesar de inusitada, funciona perfeitamente; a paçoca e o caramelo aliviam o amargo do café, sem roubar a cena.
Para aqueles que não gostam de café, também há opções sem cafeína. O Pink Frajola (R$18) mistura leite condensado, creme de leite, baunilha e cranberry, em um adocicado vermelho-rosado que contrasta com o cenário preto e branco do restaurante. A estética impressiona: um degradê cor-de-rosa que culmina em um xarope rosado e açucarado no fundo do copo. Em termos gerais, a bebida é muito doce, ideal para quem tem um paladar mais adocicado. Mas, para quem tem menor resistência ao doce, não é recomendável se aventurar no Pink Frajola, que pode ser um pouco enjoativo.
Experimentamos também o Chai Latte tradicional (R$13), um tipo de chá quente indiano com diversas especiarias — chá preto, cardamomo, canela, gengibre, cravo e mel —. Uma ótima opção para esquentar no inverno e fugir do chá básico, possibilitando uma experiência fora do usual. Dependendo do gosto do cliente, porém, ela pode ser um pouco enjoativa.
O preço das bebidas condiz com o esperado. Localizado em uma região cara da cidade, Higienópolis, o preço do Gato Griô não destoa dos demais estabelecimentos da área. Além disso, o preço é equivalente ao cobrado em cafeterias de franquias, como a Starbucks, que vende bebidas com uma proposta semelhante.
Há, contudo, uma certa desilusão quanto às taças onde as bebidas são servidas, que são, talvez, o único elemento que foge à estética. Sem os característicos traços imitando desenho, as taças são de vidro transparente. Embora a estética 2D, inerentemente opaca, prejudique a aparência de algumas bebidas, como o Pink Frajola, notável por seu degradê rosado, o vidro das taças destoa muito do cuidado geral do café.
As comidas
O cardápio do Gato Griô oferece opções um pouco mais restritas de comidas salgadas, se limitando a variações de tostex, quiche, pão de queijo e coxinha. O pão de queijo possui acompanhamentos diversos — alguns bastante inusitados: requeijão, cheddar, creme de avelã e doce de leite. Experimentamos a coxinha de brócolis (R$12) e a de jaca (R$12), valor que faz jus ao sabor, mesmo não sendo barato. A massa da coxinha é feita com batata, o que agrega uma leveza pouco usual e muito bem-vinda ao salgado, e a superfície é bem crocante. A coxinha de jaca ganha destaque: o recheio bem temperado se assemelha muito à carne e é um ótimo pedido — seja você vegetariano, seja não.
A escolha da sobremesa não foi leviana. O café oferece uma grande variedade de doces, todos com aparências irresistíveis: cookies de diversos sabores, brownie, sorvete e tortas variadas. Optamos pelo cookie de Red Velvet (R$13) e pela tortinha de caramelo com flor de sal (R$22).
O cookie de Red Velvet é, certamente, uma proposta um tanto inusitada; mas bem sucedida. A massa vermelha tem uma textura macia e é recheada de queijo. O Gato Griô não economiza no recheio que, apesar de estar presente em grande quantidade, é bem leve e não rouba a cena. A combinação é excelente e muito bem realizada pelo café.
A tortinha, por sua vez, combina diferentes sensações, tal qual tudo o que é feito de caramelo e flor de sal. Embora o sabor seja muito bom, a massa em torno da qual o chocolate é envolto é dura para ser cortada apenas com a colher que acompanha o doce. Além disso, o caramelo e os grãos de sal são mais coadjuvantes do que se imagina, frente ao protagonismo do chocolate na receita. É uma opção culinária, não necessariamente negativa, mas pela descrição do prato projeta-se mais caramelo e flor de sal; e menos chocolate. Quando comparado a outras opções de sobremesa e levando em consideração a experiência com sua textura e sabor, o valor da tortinha não é condizente.
Por fim, o cardápio do Gato Griô Café 2D é suficientemente variado para um restaurante recém aberto e cujo foco principal está na estética, além de ter suas próprias receitas originais. A cafeteria dispõe de pratos vegetarianos e sem glúten, o que é um diferencial elogiável nos dias atuais. O dono do estabelecimento relatou, inclusive, que a ideia veio pelo fato de ele ter sido vegetariano por muito tempo, o que lhe propiciou conhecimento o suficiente para filtrar as melhores receitas, como as coxinhas de brócolis e de jaca. Talvez, com o tempo, seja interessante criar bebidas e comidas sem lactose ou sem a proteína do leite de vaca, para atender aos clientes intolerantes ou alérgicos à lactose. Nenhum estabelecimento deve ter isso como “obrigação”, mas uma vez que o Gato Griô se propõe a ser inclusivo e variado, seria uma boa pedida.
O atendimento
As duas garçonetes foram muito simpáticas, deram dicas do que escolher dentro do cardápio e mostraram-se conhecedoras do que servem, por mais recente que o café seja. Entretanto, a entrega dos pedidos, feitos no caixa, foi lenta, o que provocou a reclamação de clientes presentes. Seja pelo fato de a cafeteria ser recente, seja por haver apenas duas pessoas servindo, é um fator a ser melhorado.
O Gato Griô também oferece delivery, mas recomendamos a experiência presencial, em que, além da imersão no universo 2D, o cliente pode obter produtos personalizados com o design do café.
A experiência
O valor final do pedido foi de R$ 119, e está de acordo com o tipo de produto comercializado e com a região do café, além de servir muito bem para um lanche da tarde. Por mais que o atendimento, o espaço e o cardápio podem evoluir e variar, nota-se prazer pelo que se faz e um bom balanço com cerca de dois meses de existência.
Ao contrário do que se pode pensar de um café, o local não é aconchegante, pela temática em branco e preto. Esse não é um ponto necessariamente negativo, pois o local atende à sua proposta, o que é o principal, mas é importante frisar para que o consumidor não crie expectativas diferentes das idealizadas pelos donos.