Por Carolina Ziemer (carolziemer@usp.br), Davi Milani (davimilani@usp.br) e Letícia Menezes (leticiaomenezes@usp.br)
Os sete títulos na principal liga de basquete do mundo, a NBA, fazem do Golden State um time de notoriedade no esporte, atrás somente do Boston Celtics e do Los Angeles Lakers em número de troféus. O início desse caminho vencedor data de 50 anos atrás: em 1975, uma equipe formada por estrelas quebrou as expectativas e conquistou a National Basketball Association daquela temporada.
Antes desse título, os Warriors conquistaram a BAA e a NBL, precursoras da NBA, na temporada de 1946/47 e na temporada de 1955/56, respectivamente [Imagem:Reprodução/Wikimedia Commons]
Uma temporada antes da conquista
O resultado da temporada 1973/74 se espelhou no retrospecto recente do time, que nas últimas cinco temporadas saiu derrotado em duas semifinais de conferência, duas finais de conferência e não se classificou para os playoffs em 1969/70.
Na temporada que antecedeu o título, a equipe teve um rendimento razoável, mas que não foi efetivo: das 82 partidas regulares disputadas, a equipe ganhou 53,6%, ou seja 44 vitórias e 38 derrotas. A campanha os fez ficar em 2º lugar na Divisão do Pácifico e em 5º na Conferência Oeste, não avançando, assim, para os playoffs.
Rick Barry, peça fundamental para o título da NBA que a equipe ganharia, fez uma amostra em 1973/74 do potencial que ele tinha. Com 80 jogos na temporada, Barry foi o líder da equipe nos quesitos de pontos marcados por partida e em assistências – 25,1 e 6,1 por partida, respectivamente. Além dele, Nate Thurmond foi o líder em rebotes dos Warriors, com incríveis 14.2 rebotes por jogo.
Apesar do feito, Nate não ficou para a temporada vitoriosa do time, indo para o Chicago Bulls na temporada seguinte e perdendo a semifinal da Conferência Oeste para o time de São Francisco.
O elenco de 1974/75 e os destaques do time
O grande protagonista da temporada vitoriosa do Golden State Warriors em 1974/75 foi Rick Barry, que havia retornado ao time em 1972. Sua liderança em quadra, combinada ao seu desempenho consistente na parte ofensiva, sua leitura de jogo e seus eficientes lances livres, foram fatores determinantes para a conquista do título. Embora não tenha sido eleito MVP da temporada regular, Barry brilhou na fase final, sendo coroado o MVP das Finais da NBA com uma média de 29,5 pontos por jogo.
Ao ser um veterano de grande inspiração aos mais novos, Barry era exemplo para o jovem Jamaal Wilkes, que foi peça-chave do time mesmo em sua estreia. Nomeado Novato do Ano em 1975, Wilkes foi importante por sua constância e seu conhecimento tático que contribuíram para o jogo do Warriors, especialmente na defesa ao apresentar uma média de 8,2 rebotes por partida na temporada.
O título é considerado uma Zebra da NBA, pois a equipe de San Francisco contrariaram a imponência e o favoritismo construído pelos Bullets na temporada regular [Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons]
A vitória foi resultado da união desses dois jogadores históricos com um elenco sólido. Além de Barry e Wilkes, Butch Beard teve papel essencial na distribuição de jogo e nas assistências, enquanto Phil Smith se mostrava cada vez mais eficiente quando era necessário substituir alguém nos jogos. Jeff Mullins, apesar de participar pouco nos playoffs e não impactar diretamente nas finais, agiu como líder fora de quadra e contribuiu com sua visão experiente. Já o pivô titular, Clifford Ray, era o pilar defensivo e estratégico, mesmo que tenha recebido pouco reconhecimento na mídia.
O professor de Educação Física da UERJ e ex-técnico de basquete, José Marinho, explicou que o sucesso da equipe naquela campanha se deveu ao papel de destaque de Barry aliado a um grupo de atletas que, embora tecnicamente inferiores, atuavam com comprometimento e intensidade. “Os Warriors na temporada 1974-75 eram uma equipe composta por uma estrela, Rick Barry, e um grupo unido de jogadores conscientes de suas funções”, destacou Marinho.
No comando estava o técnico Al Attles, ex-jogador do Warriors por 11 temporadas, que assumiu o posto após se aposentar como atleta em 1971. Al foi um grande estrategista e entrou para história como o primeiro técnico afro-americano em tempo integral a conquistar um título da NBA. Defensor do trabalho coletivo e da estratégia de defesa, ele foi responsável por liderar o time para uma temporada vitoriosa.
Mais do que talentos individuais, os Warriors em 1974/75 tinham um forte coletivo, que possibilitou explorar o melhor de cada atleta [Imagem: Reprodução /X/@warriors]
O caminho até o título
Na temporada seguinte, a trajetória não foi de um time com grande domínio, já cotado para ser o grande campeão. Nas partidas regulares, o Golden State se classificou em primeiro na Divisão do Pacífico, mas com números semelhantes ao da temporada passada: 48 vitórias, 34 derrotas e 58% de aproveitamento. Em comparação, adversários de outros grupos conquistaram aproveitamento de 73%, como no caso do Washington Bullets e do Boston Celtics.
Para os playoffs, se classificariam os primeiros e segundos lugares de cada Divisão e os dois melhores terceiros lugares no geral, de acordo com a porcentagem de vitória (PCT), totalizando 10 classificados. Os dois piores times em relação à PCT de cada Conferência (Leste ou Oeste) se enfrentariam numa rodada anterior às semifinais, enquanto os demais já se classificaram automaticamente para as semis — o caso do Golden State.
A boa campanha na temporada regular garantiu o primeiro lugar na Divisão do Pacífico para os Warriors [Imagem: Reprodução/Google]
Nas Conferências, pouco importa a temporada regular: o jogo se torna outro, e times que não performaram tanto podiam surpreender. Contra o Seattle SuperSonics, pela Conferência Oeste, os Warriors venceram a série por 4 a 2, com destaque para as atuações de Rick Barry e Jamaal Wilkes. Na Final da Conferência, em uma série disputada de sete jogos, o Golden State bateu o Chicago Bulls com destaque novamente para Barry, que foi o jogador com mais minutos jogados da série. Com direito a virada, de 2 a 1 e 3 a 2 para o Bulls para 4 a 3 Warriors, a equipe de Seattle chegou às finais.
Do outro lado do mapa, na Conferência Leste, a Final ocorreu entre Washington Bullets e Boston Celtics, os dois times com melhor aproveitamento da temporada regular. O Celtics tentava o back-to-back após o título na temporada de 1973/74, enquanto os Bullets tentavam se reerguer após terem sido eliminados ainda nas Semifinais na temporada anterior. Com destaque para Wes Unseld nos rebotes de ataque e defesa e para Kevin Porter nas assistências, a equipe de Washington conseguiu se impor e venceu a série por 4 jogos a 2.
Wes Unseld teve o número aposentado ao fim de sua carreira, um dos maiores ídolos da história do agora Washington Wizards [Imagem: Reprodução/X:@WashWizards]
Além disso, os Bullets eliminaram nas Semifinais o Buffalo Braves de Bob McAdoo, MVP da Temporada Regular e Cestinha daquele ano. Em uma série de sete jogos, McAdoo chegou a marca de 34.5 pontos por jogo, número que representa o tamanho do obstáculo superado pela equipe do técnico K. C. Jones, que chegava confiante para a final contra os Warriors, com uma equipe melhor no papel.
Porém, a análise fria dos papéis, números e estatísticas não ganham finais. A liderança de Rick Barry permitiu que o Golden State varresse o time de Washington, levando a série por quatro a zero. Barry foi o que mais marcou cestas nas quatro ocasiões e levou os Warriors a quebrar um jejum de 19 anos sem vencer um campeonato. Após a vitoriosa conquista, a equipe de São Francisco passaria 40 anos sem uma nova conquista.
“Deve ser uma das maiores campanhas de um azarão na história das Finais da NBA. Foi uma temporada de contos de fada. Tudo se encaixou perfeitamente. É algo que vou valorizar para o resto da minha vida.”
Rick Barry à NBA.com
Os reflexos da conquista na atualidade
Embora tenham retornado aos playoffs nas duas temporadas seguintes, a equipe enfrentou uma queda drástica de desempenho. Entre as temporadas 1977/78 e 1985/86, eles terminaram na última posição de sua divisão em cinco das nove campanhas.
De acordo com Marcelo Cardoso, jornalista esportivo, professor e co-autor da biografia do ex-técnico da Seleção Brasileira de Basquete feminino, Miguel Ângelo da Luz, essa fase instável do time afetou diretamente a confiança dos jogadores a cada temporada. “Ficar 40 anos sem um título tem um peso muito grande para a franquia, porque eles pretendiam ser os maiores representantes da Califórnia na NBA. Chega a um determinado ponto que o fator psicológico dos atletas começa a pesar muito”, compartilhou Marcelo em entrevista ao Arquibancada.
O Warriors voltou às Finais da NBA somente na temporada 2014/15 com a contratação de um novo técnico, Steve Kerr, e a composição de grandes nomes do basquete, como Stephen Curry, Draymond Green e Klay Thompson. O time voltou a ser uma potência ao bater seu recorde de vitórias, somando 67 durante a temporada, e superar o Cleveland Cavaliers de LeBron James. O título marcou o renascimento da franquia e deu início a um período glorioso, com a conquista dos campeonatos de 2017, 2018 e 2022.
Stephen Curry e Rick Barry estão no ranking oficial da NBA como maiores pontuadores pelo Golden State Warriors da história [Imagem: Reprodução/x/@warriors]
É possível fazer um paralelo com os times campeões de 1975 e de 2015. O da década de 70 era centrado em figuras fortes de liderança, com destaque para Rick Barry. Já o elenco mais recente apresenta um dinamismo do coletivo, com movimentação intensa e um estilo de jogo versátil baseado no arremesso de longa distância, o que lhes ajudou a prevalecer nos últimos anos.
“A era pós Michael Jordan marcou o fim do individualismo como determinante se um time seria ou não campeão. A partir dos anos 2000, um talento como ele podia mudar o rumo da equipe, mas se não houvesse um bom desempenho do coletivo, não seria possível prevalecer sozinho.” explicou Marcelo.
A trajetória do Golden State Warriors revela um sucesso cíclico. A longa espera de 40 anos pelo retorno ao lugar mais alto do pódio refletiu não apenas uma crise no desempenho técnico, como também no abalo psicológico dos atletas. Com isso, seu ressurgimento a partir de 2015 reforçou como as equipes são capazes de se reerguer em diferentes épocas caso apresentem resiliência e coletividade.
Foto de capa: [Imagem: Reprodução/X:@warriors]