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Movimento hippie e música psicodélica

Jovens movidos pela contracultura buscavam a expansão da consciência com base na psicodelia e no rock

Os anos 1960 foram marcados por movimentações contraculturais e ativistas. A música psicodélica despontou nesse período junto ao rock e ao movimento hippie, marcado pelo uso de drogas alucinógenas e pela expressão dos anseios de jovens transgressores  inconformados com a sociedade. O gênero não é só relíquia do passado  e é ainda presente hoje mas também conta com diversas variações e novos representantes.

 

1960: uma década contracultural

A luta por direitos civis dos negros,  o assassinato do presidente John F. Kennedy, a crise dos mísseis em Cuba, a rebelião de Stonewall, a Guerra do Vietnã e as reivindicações das mulheres são todos elementos presentes na década de 1960: um período turbulento, cheio de ativismo e de reflexão.

Tal período é também o contexto de dois  movimentos que marcaram a década e que representaram os anseios de uma juventude inquieta: o hippie e a contracultura, a qual contesta e nega a cultura ocidental dominante e os valores estabelecidos.

Segundo Ronaldo Souza, professor de história formado pela Universidade Camilo Castelo Branco, o surgimento de tais movimentações acontecem,  principalmente, nos Estados Unidos pelo contexto conflituoso da Guerra do Vietnã e da violência racial, por exemplo.

“A concentração da contracultura se dá por uma juventude de classe média que começa não só a postular, mas a questionar todos os valores dentro de uma sociedade que era moralista, racista, consumista e tecnocrata”, diz Ronaldo. 

 

A base do movimento hippie: geração beat

Apesar da contracultura estar ligada ao movimento hippie deste período, dez anos antes, uma outra atividade  contracultural já existia. A geração beat, da década de 1950, consistia em um movimento cultural e, principalmente, literário, que contava com escritores e artistas inconformados com a cultura norte-americana conservadora. 

Os beatniks eram contrários aos valores vigentes e expressavam essa negação em suas obras e comportamento, como por meio do  uso de drogas, do gosto pelo jazz, do apoio à integração racial e da liberdade sexual. 

O beat surge com Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William Burroughs, e teve grande influência sobre a famosa onda hippie de 1960. “A eclosão do movimento [hippie] já tinha sido antecipada pelo que a gente chama de geração beat — ela foi a porta de entrada para ele”, relata o professor de história.  

 

Hippie: Paz, liberdade e o Verão de 1967

O movimento hippie, além de formado pela juventude insatisfeita, se destacou, ainda, pela postura anti-guerra, com protestos contra o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã. 

Os adeptos ao movimento  desenvolveram seu próprio estilo de vida e de vestuário. Roupas largas, fluidas, coloridas e estampadas, roupas tricotadas e bordadas, coletes, cabelos afro, óculos redondos, homens com barbas e cabelos longos e flores nos cabelos são exemplos da estética dos envolvidos na cultura do hippismo.

Os jovens abdicavam, inclusive, de uma vida confortável para morar em comunidades alternativas que se distanciavam da industrialização e do capitalismo. “Boa parte dos adeptos vão pensar em um mundo de uma forma mais livre, com preocupações relacionadas ao meio ambiente e com a paz, fora o papel que terão dentro dos movimentos sociais também”, diz Ronaldo.

Com base no pacifismo, no poder da flor e no lema “faça amor, não faça guerra”, o movimento hippie ganhou destaque com o verão de 1967, ou o Verão do Amor — fenômeno cultural e social com foco em Haight-Ashbury (São Francisco), e que reuniu milhares de jovens. Músicas, drogas psicodélicas, liberdade expressiva e sexual foram as bases deste verão.

 

Na imagem, uma manifestante a carrega um cartaz com o escrito "Jogue ácidos, não bombas", a favor da psicodelia e contra a guerra.
Drop Acid Not Bombs, manifestação antiguerra, São Francisco,1969. [Imagem: Whimsical Daydreams220/Wikimedia Commons]

 

Acid test: A caminho da expansão da consciência

O cientista Albert Hoffman foi o responsável pela descoberta do LSD, ou ácido lisérgico, em 1943, ao ter entrado em contato acidentalmente com a substância. Além de ser usada em tratamentos terapêuticos, a droga também foi utilizada em experimentos por seu caráter alucinógeno. Na época, os perigos do ácido eram desconhecidos, e a substância só foi proibida em 1966.

O escritor Ken Kesey foi voluntário em pesquisas no final da década de 1950, nas quais ele ingeria a droga. A partir de sua experiência com a substância, Kesey escreveu o clássico Um estranho no ninho (Record, 1976) e seguiu com suas próprias experimentações com o LSD. O romancista liderou um dos primeiros grupos hippies conhecidos na década de 1960, os Merry Pranksters. Na metade da década, em um ônibus escolar colorido, o grupo seguiu em uma viagem pautada no ácido.

 

N aimagem, o caminhão psicodelico do grupo aparece no centro, colorido e com símbolos que remetem à psicodelia.
O grupo hippie Merry Pranksters chamava atenção ao viajar dentro de um ônibus colorido nomeado Further, nos anos 1960. [Imagem: Joe Mabel/Wikimedia Commons]

 

A viagem tinha como um dos objetivos espalhar a abertura da mente causada pelo LSD. Com grande quantidade da droga a bordo, os Pranksters promoveram festas psicodélicas denominadas “testes de ácido”, com bebidas que consistiam em sucos com o ácido — refrescos elétricos — e que, junto ao rock e às luzes, representavam a experiência da expansão da consciência.

Segundo o professor, a criação das comunidades hippies abriu portas para o misticismo, o psicodelismo e para as drogas, principalmente para o LSD. Ele fala também dos objetivos do uso do ácido: “A ideia das drogas era a de trazer uma outra consciência. Essas experiências místicas tinham como ideia romper com esquemas repressores da cultura ocidental”.

 

 

O rock psicodélico, ou o acid rock

Assim como a geração beat tinha o jazz como influência, o hippie encontrou no rock psicodélico um meio de expressão. Com base no uso do LSD e de outras drogas alucinógenas, a partir de gêneros como o folk e o blues, e com o apelo da expansão da consciência, o acid rock tornou-se tendência entre os jovens da contracultura.

O rock psicodélico buscava retratar as experiências com as drogas. Letras com conteúdo crítico, ao mesmo tempo que subjetivas e abstratas, distorções, sons reversos, efeitos sonoros confusos, sobreposição de instrumentos, músicas longas, uso de instrumentos indianos e o foco em sons de guitarra são características do gênero musical.

Este gênero surgiu nos Estados Unidos na década de 1960 e logo se espalhou pela América e pela Europa. 13th Floor Elevators é provavelmente a primeira banda assumidamente de rock psicodélico, com o disco The Psychedelic Sounds Of The 13th Floor Elevators, de 1966. Além deles, outro grupo que teve grande relevância foi os Beatles. O contato de John Lennon e de George Harrison com o LSD provocou mudanças significativas nas músicas da banda, que são vistas no disco Revolver (1966). Tomorrow Never Knows foi a primeira música gravada para o disco e foi escrita com base no livro The Psychedelic Experience: A Manual Based on the Tibetan Book of the Dead (Citadel Press, 2017) —um guia sobre o uso de drogas psicodélicas.

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967) dos Beatles é considerado um álbum com produções inseridas na  psicodelia, contando com cor, experimentalismo, efeitos sonoros variados, letras subjetivas, diversidade instrumental e a influência oriental com elementos da música indiana. Jimi Hendrix, Pink Floyd, The Doors e Jefferson Airplane também foram representantes do rock psicodélico.

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No Brasil, a psicodelia foi expressada pelo tropicalismo, movimento cultural ocorrido entre 1967 e 1968, no período da Ditadura Militar no país com influências do movimento hippie, a Tropicália, formada por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé e outros artistas, transformou a música nacional ao universalizar a linguagem do MPB. 

Os tropicalistas trouxeram à MPB a mistura do pop, da psicodelia, do rock, da bossa nova e do samba. O disco Panis et Circensis, dos Mutantes, de 1968, é representativo do movimento.

 

A música psicodélica moderna

O movimento hippie enfraquece nos anos 1960, enquanto o rock psicodélico entra em declínio com a morte de representantes  da época, e com a proibição do LSD. O festival de Woodstock,1969, foi o auge do acid rock, pois contou com apresentações icônicas, mas, a partir desta data, o hippismo já não foi o mesmo.

Apesar de tal queda, a música psicodélica persiste atualmente com uma infinidade de artistas e variações do gênero, como a banda Tame Impala. Seus álbuns apresentam a psicodelia por meio da fusão do pop, da música eletrônica, do vocal de Parker e da influência do rock dos anos 1960  o qual, pelo interesse de Parker pelo gênero, influenciou o surgimento da banda. 

 

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A dupla francesa Polo&Pan também mistura a música eletrônica com o rock psicodélico, além de contar com capas de álbuns que fazem referência à psicodelia. St. Vincent trouxe o blues psicodélico em seu novo álbum Daddy ‘ s Home. O single Solar Power da cantora Lorde inclui também elementos da psicodelia. Bandas como Black Moth Super Rainbow, King Gizzard & the Lizard Wizard e Animal Collective são mais exemplos da música do tipo na atualidade.

 

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A psicodelia em festivais: psytrance

A música psicodélica é muito associada ao gênero eletrônico e está presente em festivais, como o trance psicodélico, criado do Goa trance, na Índia, em 1980, é uma forma de música eletrônica caracterizada por batidas repetitivas e alta frequência. O psytrance une música e psicodelia e está ligado à transcendência espiritual.

Fã de música psicodélica, Sabrina já participou de alguns eventos comerciais do estilo psytrance e descreve sua experiência nestes festivais  como inexplicável. “A ideia é realmente alinhar o festival e a música a si mesmo e ser incentivado a realmente transcender e pensar além de si. Não é apenas um momento de lazer, vai muito além”, conta ela. 

Sabrina também costuma ouvir música psicodélica fora dos eventos, pois algumas vertentes a trazem sensação de foco, o que a faz escutar este gênero em seu cotidiano .

O psytrance se divide em diferentes vertentes com a variação das batidas, ritmos e melodias. Alguns exemplos são o full onlight, progressive, dark com as sub vertentes, twisted, forest e weird. Sabrina indica alguns artistas clássicos como Mandragora, Vermont, Sajanka e Menumas, mas aponta que o gosto no trance está relacionado às vertentes.

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