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St. Vincent se renova mais uma vez em álbum-persona carregado de significados íntimos

Daddy's Home, lançamento recente da artista, mostra que a arte pode ser uma boa escolha para lidar com questões pessoais

Quando os tabloides vazaram, em 2016, que o pai de Annie Clark se encontrava na prisão por fraude financeira, nenhuma declaração da artista foi ouvida sobre o assunto. O silêncio causou estranhamento entre fãs e mídias, mas enfim recebemos a devida resposta, com o novo álbum de St. Vincent, Daddy’s Home (2021).

De certa maneira, porém, o recebido não é bem o que esperávamos. Até porque o que tanto esperávamos era Annie Clark, esquecidos de que é St. Vincent — persona da artista que transmuta, renova e inova a cada disco lançado — quem toma os microfones e os palcos. E essa nova figura não deixa por menos com seu estilo criativo e letras pungentes, combinadas com guitarras melódicas e ácidas.

O encanto de Daddy’s Home é encontrado na sonoridade fluida, que elabora de forma concisa as ideias incorporadas em suas letras: fragmentos de momentos inusitados e marcantes, pessoais, e com um quê de ironia narrativa — traço intrínseco também às suas composições na guitarra. St. Vincent livra-se da rigidez estilística de seu último álbum, Masseduction (2017), testa os limites da experimentação e brinca com cores, sujeitos e gêneros que enriquecem as bases de seu trabalho. Ou talvez enriqueçam demais, o que desconecta a obra de uma visão panorâmica.

 

St. Vincent com casaco de inverno, vestido de tecido fino e meias pretas, sentada em uma poltrona na capa de seu novo álbum, Daddy's Home, em tons de preto e branco envelhecidos
Capa do novo álbum de St. Vincent, Daddy’s Home (2021). [Imagem: Reprodução/Facebook/St. Vincent]

A viagem ao estilo particular do
rock setentista cai como uma luva às letras responsivas à inadequação social da nova era de St. Vincent. O poder da combinação é demonstrado na primeira faixa do álbum, Pay Your Way In, que evoca figuras de mães que não aceitam a expressividade única da artista, ou mesmo suas atitudes ditas menos maduras, uma ideia também explicitada em My Baby Wants A Baby. A cantora empresta guitarras, coro e harmonia do soul funk  com primor e incorpora vulgaridade e seducionismo vocal a uma personagem que tanto é ferida quanto fere, como na faixa Down. Apesar de sermos bem agraciados com músicas ao estilo Joni Mitchell, encontradas nas canções Somebody Like Me e At The Holiday, que abraçam melodias doces, longas e vocal anafado, podemos no final ter uma sensação desconexa entre as faixas, com direções que, sem querer, nos deixam sem um sentimento de encaixe completo da obra.

St. Vincent se une a Annie Clark para construção de letras mais pessoais, sem perder a sagacidade, ironia e acidez que são marcas registradas da cantora-compositora. A intimidade de Annie auxilia a dar vida e corpo à nova estranha que caracteriza essa era da persona-artista St. Vincent, que é uma personagem um tanto quanto folgada, poderíamos dizer. Folgada no sentido libertário que exala deste ente destemido e jocoso.

O romance em My Baby Wants A Baby não deixa por menos uma temática querida por St. Vincent, que, como sempre, enxerga temas comuns com outros olhos – olhos que sempre veem na liberdade e no sarcasmo a resposta para a expressão artística. O que vemos então é aquele romance do tipo perigoso, que mora à beira do penhasco, capaz de nos jogar escada abaixo sem perder a elegância. A artista finalmente nos diz nas letras desta faixa o que quer afinal: “But I wanna play guitar all day/Make all my meals in microwaves”, ou seja, a autonomia da vida libertina.

 

St. Vincent, vestida com blazer e calça brancos, blusa preta, colares longos e óculos escuros, caminha na rua ao lado de um carro estacionado
Estilo despojado da era Daddy’s Home de St. Vincent marca também seu novo visual setentista. [Imagem: Reprodução/Facebook/Zackery Michael]

Em
The Melting Of The Sun, a artista indaga sobre quem ela está tentando se tornar e notamos uma St. Vincent que encontrou a resposta: uma mulher decidida sobre suas questões pessoais, que leva seu próprio tempo para encontrar resoluções próprias, que toma seus próprios caminhos, sejam eles de escolha pessoal ou artística. Uma mulher que derrete-se ao sabor do sol, que tanto auxilia quanto desarranja, tanto cala quanto argumenta.

Ao todo, temos um disco decidido mais uma vez a se reinventar. Annie Clark é tomada pelo desejo de concluir questões íntimas, que com a ajuda de St. Vincent, nos oferece respostas dadas somente pela persona-artista, como no caso da faixa-título Daddy’s Home representante-mor de todas as boas e frescas decisões de St. Vincent. O álbum é uma obra ousada e promissora para o futuro da artista que, com toda a certeza, coloca com atitude criativa seu nome no hall do novo rock.

2 comentários em “St. Vincent se renova mais uma vez em álbum-persona carregado de significados íntimos”

  1. Gostei do artigo. Não conhecia a artista.
    Li o artigo, pesquisa sobre ela e estou escutando agora.
    Seria legal fazer o mesmo trabalho sobre outros cantores e bandas para conhecermos.
    Obrigada por compartilhar.

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