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‘Call Me If You Get Lost’: a sublimação de Tyler, The Creator

Novo disco de Tyler, The Creator catapulta artista para o auge da carreira, no qual mostra com habilidade seu amadurecimento criativo

Novo álbum do cantor, compositor, produtor, diretor e designer Tyler, The Creator, Call Me If You Get Lost (2021) veio para marcar presença. A palavra de ordem desta obra-prima do rap é elegância, característica que permeia todas as rotas e escolhas criativas de Tyler, desde os temas abordados até a direção estética dos videoclipes das faixas que compõem seu novo trabalho.

Tyler, The Creator em imagem que ilustra capa do disco [Imagem: Divulgação/Twitter]
Tyler, The Creator em imagem que ilustra capa do disco [Imagem: Divulgação/Twitter]
O sexto disco de estúdio de Tyler chega para competir em qualidade e excelência musical com IGOR (2019), ganhador do Grammy na categoria Melhor Álbum de Rap em 2020. O novo álbum passeia de maneira gingada pelos diversos gêneros musicais que mais agradam o músico em suas produções, como o soul, funk, hip-hop e rap clássico, refinando-os de acordo com suas construções sonoras pretendidas.

Refinamento tal que ultrapassa o visual sonoro e inunda todas as áreas em que Tyler atua. A direção dos videoclipes da era Call Me, com um estilo pomposo e ostensivo, não abdica da finesse de Tyler, que incorpora o streetwear da GOLF (marca de roupas do artista) com a elegância da alta costura. Aqui Tyler torna-se o Sr. Baudelaire, um personagem passionado pela vida e que não vê obstáculos para suas determinações malandras. O Baudelaire de Tyler vai de encontro com o poeta Charles Baudelaire: requintados, farristas e, acima de tudo, dedicados à um objeto, sujeito ou tema em suas criações artísticas para expressarem sua sensibilidade.

Aqui vemos um Tyler-Baudelaire, mais intimista que de costume. Ele rima sem temor sobre preconceito, fama, amor e medos de maneira precisa e eloquente, enquanto mantém o mistério de sua privacidade. O artista mescla as rimas e sonoridades instrumentais com uma atmosfera que relembra os tempos remotos do grupo de hip-hop Odd Future e seus primeiros álbuns, Goblin (2011) e Wolf (2013), mas com a maturação artística que cresceu em Tyler nestes dez anos de carreira desde sua estreia.

Call Me If You Get Lost floreia com as participações de peso: Pharrell Williams, Ty Dolla $ign, Lil Wayne, Fana Hues, Domo Genesis, entre outros. Tyler distribui harmonicamente as peculiaridades artísticas de cada um por todo o álbum, somando-os como elemento da produção criativa e não um chamariz ou mero adorno para as faixas. Também acrescenta com elegância o elemento do host dentro do disco, que retoma os gloriosos tempos de mixtapes e apresentações de hip-hop dos anos 2000 — DJ Drama toma o microfone para elevar o astral desde a primeira faixa, SIR BAUDELAIRE, e cria um clima imersivo por todo o álbum e até o último suspiro da faixa final, SAFARI, na qual  realiza o encerramento  da obra.

Tyler, The Creator com DJ Drama  no BET Awards 2021 [Imagem: Divulgação/ Tyler, The Creator - Twitter]
Tyler, The Creator com DJ Drama  no BET Awards 2021 [Imagem: Divulgação/Twitter/Tyler, The Creator]
A narrativa sonora bem pensada e elaborada é explícita na disposição das faixas muito bem distribuídas, sem quebras bruscas de ritmos e com pontes que, ainda que alternem nas composições estilísticas de cada música, soam complementares. O disco possui rimas que falam sobre riqueza, luxo, popularidade e auto-estima nas faixas CORSO, LEMONHEAD e JUGGERNAUT; viagens fabulosas ao redor do planeta com direito a flautas melodiosas e pianos harmônicos em HOT WIND BLOWS; passa pelo romance farreiro, casual e utópico em WUSYANAME, e parte para o lado mais pessoal e empírico com MASSA, onde também menciona outras produções de sua carreira, como Flower Boy (2017) e Cherry Bomb (2015), terceiro álbum de estúdio de Tyler e que o colocou na mira de atenção do rap.

Em MANIFESTO, a questão racial é pano de fundo para rimas agudas e sádicas, mesclando com situações pessoais de cancelamento pelas quais Tyler passou dentro e fora da internet. Aqui o artista demonstra que não se curva perante qualquer crítica ou preconcepção: “We aim to shoot we shoot claim what we need/We done with pain and the grievin’, niggas is done with the peace/Whether it’s personal or for the whole of niggas, indeed” (Nosso objetivo é atirar, atiramos para reivindicar o que precisamos/Estamos cheios da dor e do luto/os manos estão cheios da paz/Seja pessoal ou para todos os negros, de fato). Com participação de Domo Genesis, MANIFESTO é a faixa que mais se aproxima da sonoridade de seus primeiros álbuns e da era Odd Future de Tyler.

Tyler no vídeo promocional para o álbum, SIDE STREET [Imagem: Divulgação/Twitter/Tyler, The Creator]
Tyler no vídeo promocional para o álbum, SIDE STREET [Imagem: Divulgação/Twitter/Tyler, The Creator]
SWEET / I THOUGHT YOU WANTED TO DANCE, faixa mais longa do álbum, com quase dez minutos de duração, retoma o amor doce e utópico introduzido em WUSYANAME. A faixa é envolvente e as batidas, lúdicas, com participações de Brent Faiyaz e Fana Hues que adicionam o tom elegante, pudico e desejoso, junto do piano jazzista dos bares do centro de Nova York que emanam do sample de The In-Crowd & Jah Stitch e a bateria magnética trazida pelo sample da banda Hookfoot. Com a faixa WILSHIRE, encerra com maestria o assunto romântico, onde rima sobre o amor perfeito e impossível do cotidiano.

Com o lançamento de Call Me, Tyler, The Creator finca com primor seu nome como um dos mais relevantes do rap contemporâneo. Novamente, o rapper nos apresenta uma obra musical estudada e apurada para as evoluções e inspirações do artista, e não decepciona em nenhum momento do disco, com os diversos caminhos artísticos que toma na criação de cada faixa. Junto com IGOR, presenciamos uma carreira sofisticada, qualitativa e grandiosa.

 

*Imagem de Capa: Divulgação/Twitter/Tyler, The Creator.

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